Mercado de transferências volta a crescer após pandemia

Com ênfase no papel do futebol brasileiro, relatório do BTG Pactual aborda movimentações e tendências do mercado de transferências global


Por Redação

12 de agosto de 2022

Mercado de transferências do futebol volta a crescer após pandemia Mercado de transferências do futebol volta a crescer após pandemia

Em artigo publicado no dia 4 de agosto, o banco de investimento brasileiro BTG Pactual abordou o mercado de transferências no futebol, ressaltando as características dessa indústria multibilionária, apontando algumas de suas dinâmicas mais recentes e apresentando uma visão geral do setor na Europa e no Brasil. Além disso, o estudo destaca o papel fundamental do Brasil nessa indústria de ritmo acelerado, que gera negócios multibilionários com transferências de jogadores.  

Em abril desse ano, o BTG Pactual iniciou uma série de reportagens sobre a indústria do futebol, discutindo a dinâmica deste setor em mercados mais desenvolvidos, como a Europa, e comparando com a realidade brasileira, além de identificar as principais oportunidades e desafios para os próximos anos. Em suas três publicações anteriores, foram abordados temas como a criação de uma liga no Brasil, as especificidades dos clubes-empresas, as principais linhas de receita de um clube de futebol e como as receitas de transmissão são negociadas e distribuídas no Brasil.  

Dando continuidade à série, o BTG publicou o seu quarto estudo, se aprofundando em outro fluxo de receita importantíssimo para os clubes: transferências internacionais de jogadores. Mesmo diante dos impactos sofridos por esse mercado durante a pandemia de Covid-19 em 2020/21, as transferências de jogadores foram vitais para a geração de receita dos clubes de futebol, principalmente no Brasil, representando 27% da receita dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro em 2020 – superando até mesmo a Premier League, com 20%.  

Visão geral da indústria de transferências 

De acordo com a FIFA, 18.068 transferências internacionais foram concluídas no futebol profissional masculino em 2021 – abaixo apenas da temporada de 2019, que registrou um recorde de 18.080. Essas transferências geraram um total de US$ 4,9 bilhões e foram feitas por 4,5 mil clubes, que negociaram 15.617 jogadores de 179 nacionalidades. Alguns jogadores podem ser transferidos mais de uma vez na mesma temporada, como jogadores transferidos por empréstimo e que retornam no mesmo ano. 

Temporada Transferências internacionais 
2012 12.006 
2013 12.734 
2014 13.159 
2015 13.607 
2016 14.635 
2017 15.662 
2018 16.550 
2019 18.080 
2020 17.180 
2021 18.068 
Fonte: FIFA, BTG Pactual 

Embora as transferências possam ser feitas em qualquer mês, a janela de transferência internacional mais tradicional é entre os meses de julho e agosto (janela de transferências do verão), período em que é realizada a pré-temporada da maioria das ligas europeias. Em 2021, por exemplo, 43% das transferências foram feitas neste período. 

Distribuição mundial de clubes profissionais que contrataram e/ou venderam jogadores em 2021: 

Mercado de transferências do futebol volta a crescer após pandemia
Fonte: FIFA (Reprodução/BTG Pactual) 

* O tamanho da bolha representa transferências concluídas 

Taxas de transferência 

Para concluir uma negociação, em alguns casos, é necessário que seja paga uma taxa de transferência, que é basicamente uma compensação monetária negociada entre os clubes durante a transação, que pode incluir taxas fixas, taxas condicionais e taxas de compra. Outras taxas também podem ser incluídas em uma transferência, como taxas de venda e de contribuição solidária, mas essas não foram contabilizadas no relatório da BTG Pactual, que se baseou na mesma forma que a FIFA analisa as transações. 

Geralmente, as transações que envolvem taxas de transferência atraem mais atenção da mídia e do público, uma vez que costumam envolver jogadores e clubes mais famosos, além das maiores quantias de dinheiro. Porém, as taxas de transferência são incluídas apenas em uma pequena parcela do total de transferências. Em 2021, somente 12% das transferências incluíram uma taxa de transferência no negócio (totalizando US$ 4,9 bilhões). 

Confira abaixo as 20 melhores transferências da temporada 2021/22 na Europa, em termos de honorários. No total, as taxas de transferência acumuladas deste top 20 superam € 1,0 bilhão. 

Jogador Clube de origem Clube de destino Taxa de transferência (em euros) 
Jack Grealish Aston Villa Manchester City € 118 milhões 
Romelu Lukaku Inter de Milão Chelsea € 113 milhões 
Jadon Sancho Borussia Dortmund Manchester United € 85 milhões 
Dusan Vlahovic Fiorentina Juventus € 82 milhões 
Achraf Hakimi Inter de Milão PSG € 67 milhões 
Ben White Brighton & Hove Albion Arsenal € 59 milhões 
Ferran Torres Manchester City Barcelona € 55 milhões 
Luis Diaz Porto Liverpool € 47 milhões 
Dayot Upamecano RB Leipzig Bayern de Munique € 43 milhões 
Bruno Guimarães Lyon Newcastle € 42 milhões 
Raphael Varane Real Madrid Manchester United € 40 milhões 
Tammy Abraham Chelsea Roma € 40 milhões 
Ibrahima Konaté RB Leipzig  Liverpool € 40 milhões 
Emiliano Buendia Norwich City Aston Villa € 38 milhões 
Martin Odegaard Real Madrid Arsenal € 35 milhões 
Rodrigo de Paul Udinese Atlético de Madrid € 35 milhões 
Kurt Zouma Chelsea West Ham € 35 milhões 
Leon Bailey Bayern Leverkusen Aston Villa € 32 milhões 
Eduardo Camavinga Stade Rennais Real Madrid € 31 milhões 
Patson Daka RB Salzburg Leicester City € 30 milhões 
Fonte: FIFA, BTG Pactual 

As diferenças entre as confederações continentais 

Em geral, as confederações continentais, UEFA (Europa), CONMEBOL (América do Sul), CONCACAF (Norte e Central América e Caribe), CAF (África) e AFC (Ásia), têm um equilíbrio no número de jogadores transferidos, tanto de venda quanto de compra. No entanto, esse equilíbrio não é observado ao analisar os valores das taxas de transferência pagas e recebidas por cada confederação, especialmente em confederações não europeias. 

Ao analisar o volume total de taxas de transferência da CONMEBOL, por exemplo, constata-se que 88% estavam relacionadas às taxas de transferência recebidas, enquanto apenas 12% representavam valores pagos pela confederação. Veja abaixo dois gráficos publicados no estudo do BTG Pactual, que demonstram os volumes de transferências de saída e entrada e a disparidade dos valores de receitas e pagamentos de taxas de transferências entre as confederações. 

Transferências de saída vs. de entrada (nº de jogadores) 

Mercado de transferências do futebol volta a crescer após pandemia
Fonte: FIFA, BTG Pactual 

*Em azul escuro, as transferências de saída. Em azul claro, de entrada. 

Taxas de transferência recebidas e pagas (US$ milhões) 

Fonte: FIFA, BTG Pactual 

* Em azul escuro, as taxas de transferência recebidas. Em azul claro, as taxas pagas.  

Essa assimetria reflete em parte a direção do fluxo de jogadores entre as confederações e a diferença de poder aquisitivo entre clubes sul-americanos e europeus. Um fator chave é que é mais comum que jovens jogadores sul-americanos sejam transferidos para ligas europeias do que o contrário. Além disso, geralmente são cobradas taxas mais altas em transferências domésticas do que em transferências internacionais, justamente para evitar a transferência de jogadores para clubes locais rivais. Como as receitas dos clubes sul-americanos são contabilizadas em moedas desvalorizadas em comparação às utilizadas por clubes europeus, a disparidade do poder de compra acentua essa assimetria.  

A importância do Brasil no mercado de transferências mundial

Um dos principais países do mercado de transferências global, o Brasil representou 10% das transferências de jogadores em 2021, com base na nacionalidade dos jogadores negociados. Os valores recebidos por meio de taxas de transferência representaram 27% da receita dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro em 2020 – superando até mesmo a Premier League, com 20%. De acordo com o Sports Value, os 10 melhores clubes brasileiros em transferência de jogadores arrecadaram um total de R$ 18,5 bilhões entre 2003 e 2020. 

10 clubes brasileiros que mais geraram receita com transferências de jogadores entre 2003 e 2020:  

Clube Receita gerada (em reais) 
1.São Paulo R$ 2,977 milhões 
2.Internacional R$ 2,784 milhões 
3.Corinthians R$ 2,200 milhões 
4.Santos R$ 1,896 milhões 
5.Cruzeiro R$ 1,804 milhões 
6.Athletico-PR R$ 1,534 milhões 
7.Palmeiras R$ 1,475 milhões 
8.Flamengo R$ 1,312 milhões 
9.Grêmio R$ 1,279 milhões 
10.Atlético-MG R$ 1,262 milhões 
Fonte: SportsValue, BTG Pactual 

O Brasil ocupa o primeiro lugar em termos de nacionalidade dos jogadores transferidos (10% de todas as transferências internacionais), com quase duas vezes mais transferências do que a Argentina, que está em segundo lugar. Porém, apesar de ser historicamente a principal nacionalidade em termos de taxas de transferência totais recebidas, o Brasil perdeu o primeiro lugar para França em 2021. 

Ranking da nacionalidade dos jogadores transferidos em 2021:

  1. Brasil – 1.749 jogadores 
  1. Argentina – 896 jogadores 
  1. Reino Unido – 837 jogadores 
  1. França – 772 jogadores 
  1. Colômbia – 653 jogadores 
  1. Nigéria – 624 jogadores 
  1. Espanha – 537 jogadores 
  1. Gana – 456 jogadores 
  1. Sérvia – 446 jogadores 
  1. Holanda – 408 jogadores 

Fonte: FIFA, BTG Pactual 

Ranking das taxas de transferência recebidas por nacionalidade dos jogadores em 2021:

  1. França – US$ 643,6 milhões 
  1. Brasil – US$ 468,4 milhões 
  1. Espanha – US$ 307,2 milhões 
  1. Argentina – US$ 292,6 milhões 
  1. Reino Unido – US$ 286,5 milhões 
  1. Holanda – US$ 258,7 milhões 
  1. Bélgica – US$ 245,9 milhões 
  1. Portugal – US$ 188,6 milhões 
  1. Croácia – US$ 146,3 milhões 
  1. Dinamarca – US$ 136,9 milhões 

Fonte: FIFA, BTG Pactual 

Tendências de crescimento no mercado de transferências 

Em sua conclusão, o relatório do BTG Pactual ressalta que o mercado de transferências continuou apresentando números impressionantes mesmo com os impactos da Covid-19, provando que é não só uma indústria grande e estabelecida, mas também um negócio com potencial de crescer ainda mais. Entre a criação de uma liga de futebol no Brasil e o investimento no futebol feminino, o estudo aponta algumas maneiras para aumentar as receitas disponíveis para os clubes, o que pode, por consequência, impulsionar a indústria de transferências. 

Baseado no caso da La Liga, que aumentou substancialmente os investimentos em transferências de jogadores, de 10% (2013-16) para 36% (2016-19), após implementar a negociação centralizada de direitos audiovisuais, o relatório aponta que a criação de uma liga no Brasil pode impulsionar as receitas de transferências. Ao melhorar a distribuição de receita entre os clubes e, consequentemente, aumentar as suas receitas, uma nova liga pode permitir que os clubes façam mais transferências e melhorem seu desempenho em campo, criando um ciclo virtuoso. 

Em crescimento constante, a indústria do futebol profissional feminino foi responsável por 1,3 mil transferências internacionais, em 2021. Jogadoras de 113 países, 414 clubes e 112 associações ajudaram a alcançar esse número impressionante no ano passado. Ao contrário da indústria de transferências masculinas, as taxas de transferência aumentaram consistentemente desde 2018, atingindo um recorde de US$ 2,1 milhões em 2021 (+73% a/a), mostrando o crescimento do mercado de transferências no futebol feminino.