Você já se perguntou como alguns clubes conseguem gastar centenas de milhões de euros em contratações, enquanto outros mal conseguem pagar salários em dia? É aí que entra o Fair Play Financeiro (FFP), um conjunto de regras criado pela UEFA em 2009 para garantir que os clubes europeus não gastem mais do que arrecadam
A ideia é simples: promover uma gestão mais saudável, equilibrar o poder econômico entre os clubes e evitar que o futebol vire uma bolha insustentável. Os clubes são monitorados pela UEFA, e se violarem as regras — como gastar mais do que ganham em três anos consecutivos — podem ser punidos com multas, bloqueios de contratações ou até mesmo exclusão de torneios como a Champions League.
Essa medida surgiu como resposta aos inúmeros casos de times endividados até o pescoço, com folhas salariais irreais e dependentes de mecenas bilionários ou contratos de patrocínio “supervalorizados”. Em 2022, a UEFA reformulou as regras e lançou o chamado Regulamento de Sustentabilidade Financeira, que, entre outras medidas, limita os gastos com o elenco a 70% da receita até 2025 (UEFA.com, 2022).
Contextualizando
O Fair Play Financeiro (em inglês, Financial Fair Play – FFP) é um conjunto de normas estabelecido pela UEFA em 2009 com o objetivo de promover a sustentabilidade financeira dos clubes de futebol europeus. A principal diretriz do regulamento é simples: os clubes não devem gastar mais do que arrecadam. Isso significa que as equipes precisam equilibrar suas receitas operacionais com suas despesas, especialmente aquelas relacionadas a salários e transferências de jogadores
Segundo a própria UEFA, o FFP foi implementado em resposta a uma crescente preocupação com o endividamento excessivo de clubes e a possibilidade de colapsos financeiros que poderiam comprometer a integridade das competições. O então presidente da entidade, Michel Platini, afirmou à época que o objetivo era “salvar o futebol dos próprios clubes” (UEFA.com, 2009). Um dos principais pilares do regulamento é o conceito de “break-even”, ou seja, a obrigação de que os clubes não apresentem déficits superiores a um determinado limite ao longo de um ciclo de avaliação — normalmente de três anos.
Além disso, o FFP busca coibir práticas inflacionárias e artificialmente sustentadas por mecenas bilionários ou por contratos de patrocínio supervalorizados, que não correspondem ao valor real de mercado. A UEFA, inclusive, prevê sanções para os clubes que descumprirem as regras, tais como multas, restrições no número de atletas inscritos em competições europeias, proibição de registrar novos jogadores e, em casos extremos, a exclusão de torneios como a Liga dos Campeões e a Liga Europa.
As regras foram reforçadas e atualizadas ao longo do tempo, principalmente diante de desafios recentes como os impactos econômicos da pandemia da Covid-19 e os altos investimentos feitos por fundos estatais, como nos casos do Manchester City e do Paris Saint-Germain. Em 2022, a UEFA anunciou um novo conjunto de normas conhecido como “Regulamento de Sustentabilidade Financeira”, que reformulou o FFP tradicional. As novas diretrizes impõem limites percentuais para o gasto com elenco (incluindo salários, transferências e comissões), que deverão ser reduzidos progressivamente de 90% da receita (em 2023) para 70% até 2025 (UEFA.com, 2022).

Portanto, o Fair Play Financeiro representa uma tentativa de equilibrar o poder econômico no futebol europeu e garantir uma gestão responsável, embora seu impacto prático seja frequentemente alvo de críticas por supostas falhas na aplicação uniforme das sanções e na fiscalização de contratos.
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E o que isso tem a ver com o futebol brasileiro?
No futebol brasileiro, ainda não temos uma regra oficial como o FFP europeu, mas essa discussão está mais atual do que nunca. Com a chegada das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol), o foco em responsabilidade financeira tem aumentado. Clubes como o Cruzeiro e o Botafogo, por exemplo, passaram por reestruturações profundas após anos de crise e agora buscam estabilidade com novos modelos de gestão.
Além disso, a CBF já estuda um modelo de Fair Play Financeiro nacional, inspirado no europeu, com o objetivo de incentivar a transparência e a responsabilidade dos clubes. A proposta ainda está em fase inicial, mas pode ser um divisor de águas para o futebol no país — especialmente quando vemos clubes com folhas salariais milionárias convivendo com dívidas gigantescas e atrasos de pagamentos.
O futebol precisa ser paixão, sim — mas também planejamento. Sem organização fora de campo, não há vitória que resista dentro dele.