Cristiano Ronaldo já foi detentor do recorde para maior venda de camisas dentro de um intervalo de 24h, quando saiu do Real Madrid para a Juventus, em 2018.
Na primeira semana de setembro de 2021, chegamos ao fechamento de uma das mais surpreendentes janelas de transferências do futebol europeu. Em um acordo milionário, Cristiano Ronaldo está de volta à Premier League. E não há recorde de vendas de camisas do “novo” craque dos Red Devils que possa cobrir o valor dessa transação.
Navegue pelo conteúdo e entenda a relação entre venda de camisas e transferência de jogadores, com base na análise da negociação de Cristiano Ronaldo:
- Como foi a transferência de Cristiano Ronaldo para o Manchester United?
- Camisas vendidas: para onde vai o dinheiro?
- Seria possível pagar uma transferência apenas com a venda de camisas do jogador?
- O que dizem os números?
- Vender camisas não garante contratações
Como foi a transferência de Cristiano Ronaldo para o Manchester United?
Cristiano Ronaldo voltará aos gramados de Old Trafford depois de 12 anos da sua saída em 2009. Naquela época, a transferência foi a maior já registrada, beirando meio bilhão de reais.
Segundo a ESPN, Ronaldo sai da Juventus e chega ao clube inglês sob um contrato de dois anos e £12,86 milhões (92 milhões de reais), que pode aumentar em mais £6,86 milhões (49 milhões de reais), contando com possíveis bônus.
Com o salário semanal de £385.000,00 (R$2,7 milhões), o português se torna o jogador mais bem pago de sua nova equipe, totalizando £20 milhões por ano.
Venda de camisas: para onde vai o dinheiro?
O Manchester United, durante muitos e muitos anos, esteve no topo do ranking dos clubes para maior número de venda de camisas na história. O clube ainda detém o recorde de vendas dentro de um ano.
Não é à toa que a adidas, uma das maiores marcas de material esportivo do planeta, em 2015, assinou um contrato de 10 anos e 750 milhões de libras (nos parâmetros atuais, seriam mais de 5 bilhões de reais) com o clube inglês.
No entanto, nenhuma empresa paga valores astronômicos para clubes a troco de um pequeno espaço para divulgar a sua logomarca nos uniformes e o simples direito de se dizer o fornecedor oficial daquela equipe. Certo?
De fato, há muito mais por trás de uma parceria desse tamanho. Diferentemente da crença popular, a maior parte das receitas geradas pelas vendas de camisas vão para o fornecedor. Em geral, os clubes tendem a ter direito a apenas 10-15% desse montante. Mas sabemos que muitos contratos pagam valores até menores, entre 5 a 7%. Quanto maior o valor fixo antecipado, menor o percentual de royalties e muitas vezes, o percentual começa a ser pago apenas depois de um número mínimo de camisas vendidas.
Seria possível pagar uma transferência apenas com a venda de camisas do jogador?
Como diz o próprio título deste artigo, a versão enxuta da resposta é não. Seria quase impossível um jogador aumentar a venda dos uniformes a ponto de cobrir o valor de sua transação, dado o modelo de divisão de receitas entre clube e fornecedor de material esportivo.
O que dizem os números?
Para desenvolver melhor a resposta à pergunta anterior, vamos olhar para alguns números.
O preço de cada camisa com o nome do craque, no site oficial do clube, é de 79.95 ou 114.95 libras, dependendo do modelo de preferência.
Portanto, se adotarmos um cenário otimista, com preço médio na faixa mais alta e royalties máximos aplicados desde a primeira unidade vendida, de £100 e 15%, o Manchester United teria que vender mais de 1,3 milhões de camisas com o nome do Cristiano Ronaldo para cobrir — apenas — o seu salário de um ano.
Se puxamos os royalties para 10%, 2 milhões de camisas teriam que ser vendidas para cobrir um ano de salário do português.
Considerando que o Manchester United está no topo do ranking mundial de venda de camisas, com uma média de 1,8 milhões de itens por ano, o 5 vezes melhor do mundo teria que absorver toda a demanda já existente por uniformes do clube, e possivelmente aumentá-la, para pagar o primeiro ano de seu salário.
Tudo isso sem levar em conta que, em contratos de fornecimento de material esportivo, os royalties são geralmente pagos sobre o valor de atacado (venda da adidas para lojas de varejo), e não sobre o preço pago pelo cliente final. O que significa que as quantidades de camisas que precisariam ser vendidas podem estar subestimadas em até 50%. Sabendo que a venda de 1,3 ou 2 milhões de camisas do CR7 já era quase impossível, o dobro seria impraticável.
Vender camisas não garante contratações
Se nem mesmo Cristiano Ronaldo, um dos atletas mais conhecidos do mundo, pessoa com mais seguidores em todo o Instagram, 5 vezes vencedor do prêmio de melhor do mundo da FIFA, e lenda do futebol, conseguiria cobrir os custos de sua transação com venda de camisas, quem conseguiria?
Afinal, se esse tipo de transação fosse auto-sustentável, veríamos qualquer time contratando os grandes craques do futebol mundial.