Ser SAF ou não ser SAF, eis a questão

Saiba mais sobre os elementos que constituem uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), suas características e consequências


Por Francisco Miglionico

7 de agosto de 2023

Ser SAF ou não ser SAF, eis a questão

Os mais bem informados já sabem de tudo. Começo, meio e fim. Mas tem gente feito eu, que as vezes olha para a salada de frutas de informações disponíveis nas mais diversas mídias e fica se perguntando: Onde começa e onde termina esse assunto? O que é? Onde é? Como é?

Sobre SAF´s, como é um assunto novo, não temos uma resposta exata, precisa, mas após cuidadosa pesquisa, temos uma boa explicação sobre os elementos dinâmicos desta situação renovadora e muito promissora que se descortina sobre o futebol brasileiro e tenho certeza que sua modernidade irá alcançar outros grupos esportivos. Ainda vai levar um tempo para que todos os elementos deste momento transformador se cristalizem, mas chegaremos lá.

A tradição história dos clubes associativos

Foi assim que começou e por mais de cem anos, a administração de um clube de futebol foi “associativa” e isso refere-se à gestão e ao gerenciamento das atividades relacionadas ao funcionamento do clube como uma associação civil sem fins lucrativos. Nesse modelo, copiado inicialmente de seus pares europeus, o clube é constituído como uma associação sem fins econômicos, sendo administrado por dirigentes eleitos ou indicados pelos membros associados. Quem não se lembra dos históricos e eternos Eurico Miranda no Vasco e Marcio Braga no Flamengo, entre outros tantos que fizeram história nos clubes ao longo do Brasil. Por muitas vezes a personalidade do presidente do clube se sobrepunha ao próprio brasão do clube.

Saiba mais sobre os elementos que constituem uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), suas características e consequências
(Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)

A administração de um clube de futebol associativo envolve diversas áreas, tais como:

Gestão Esportiva: Envolve a contratação e demissão de treinadores e jogadores, a montagem do elenco, o planejamento e a estratégia para as competições, a gestão do departamento médico e de preparação física, entre outras questões relacionadas ao desempenho do time em campo.

Gestão Financeira: Cuida das finanças do clube, incluindo o orçamento, controle de receitas e despesas, negociações de contratos, captação de patrocínios e parcerias, pagamento de salários e impostos, e a busca por recursos para o desenvolvimento das atividades do clube.

Gestão de Recursos Humanos: Trata da gestão dos funcionários e colaboradores do clube, não apenas os jogadores e a comissão técnica, mas também funcionários administrativos, de marketing, segurança, entre outros.

Marketing e Comunicação: Responsável por ações de marketing para a promoção do clube, criação de estratégias para aumentar o número de torcedores, gerenciamento das redes sociais e outros canais de comunicação, planejamento de eventos e campanhas de engajamento da torcida.

Gestão de Infraestrutura: Cuida da manutenção e desenvolvimento das instalações do clube, como o estádio, centros de treinamento, vestiários e áreas de lazer.

Relações Institucionais: Trata do relacionamento com órgãos esportivos, outras associações, patrocinadores, imprensa e torcedores.

Responsabilidade Social: Desenvolvimento de programas e projetos sociais, envolvimento com a comunidade local, promoção da inclusão social por meio do esporte.

É importante destacar que a administração de um clube de futebol associativo apresenta desafios particulares, já que a maioria dessas instituições depende, em grande parte, da receita de patrocínios, venda de ingressos e direitos de transmissão. Dessa forma, a gestão financeira, a atração de recursos e a busca por parcerias são aspectos cruciais para a sobrevivência e o crescimento do clube.

Além disso, a gestão de um clube associativo está sujeita à influência e decisões tomadas pelos membros associados, o que pode tornar o processo de tomada de decisão mais complexo em comparação a clubes com modelos empresariais. Portanto, uma gestão eficiente, transparente e voltada para os interesses do clube e seus torcedores é fundamental para o sucesso e a sustentabilidade de um clube de futebol associativo, o que nem sempre é o modelo recorrente nas agremiações, especialmente quando a política se mistura com o esporte.

Elementos essenciais do futebol associativo, alguns positivos, outros nem tanto: tradição, longevidade, presença histórica, vitórias, ídolos, agrupamento político, interferência política e por muitas vezes corrupção e desvios de fundos do patrimônio que neste caso pertence aos associados do clube.

Entre um formato e outro, o tempo, a evolução e muitas vezes a insatisfação dos associados com o destino do clube, dos recursos e dos atletas. Tudo era seu, mas ao mesmo tempo nada é seu. O clube empresa é um tema que se discute há muito tempo, com várias ideias, tentativas e formatos. Até que 2021, uma nova legislação criada permitiu o surgimento das SAF´s como hoje são.

Um clube associativo pode se tornar uma SAF de várias formas, um clube novo pode nascer SAF, um clube antigo pode vender 100% para uma SAF ou pode manter uma parte para que os associados não se sintam completamente alijados do processo de decisão e mantem parcelas minoritárias dos direitos e participações, como 10 ou 20%.

A Revolução Comercial

SAF é a sigla para Sociedade Anônima de Futebol, que foi criada a partir da Lei 14.193/2021 e permitiu que clubes de futebol pudessem ser transformados em empresas. Desde 2021, uma onda de clubes de futebol do Brasil aderiu à SAF. Entre eles, estão Botafogo, Cruzeiro e Vasco. Entretanto, mais do que uma mudança no nome da estrutura e gestão, passando de associação civil sem fins lucrativos para empresarial, há grandes alterações na forma de tributação, bem como normas de governança, controle e meios de financiamento para a atividade do futebol. Há “compliance” e auditorias!

Saiba mais sobre os elementos que constituem uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), suas características e consequências
(Foto: Gustavo Guimarães Aleixo/Cruzeiro)

Elementos essenciais do futebol sobre gestão total ou parcial de uma SAF:

A gestão de uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF) é baseada em um modelo empresarial e profissional, que difere da gestão de um clube de futebol associativo tradicional. Nas SAF´s, o clube é transformado em uma empresa com fins lucrativos e a administração é realizada por uma estrutura profissional contratada pelos proprietários ou acionistas. A seguir, vamos abordar como funciona a gestão da SAF e a composição da equipe de gestão:

1. Proprietários ou Acionistas: Nas SAF´s, os proprietários ou acionistas são os responsáveis pela propriedade da empresa e possuem o controle acionário. Eles tomam as principais decisões estratégicas e de investimento, como escolha da diretoria executiva, aprovação de orçamentos e planos de negócios.

2. Conselho de Administração: A empresa pode ter um Conselho de Administração, que é um órgão de deliberação colegiada responsável por orientar e supervisionar a gestão executiva. O Conselho pode ser composto por membros internos (proprietários ou acionistas) e membros externos com experiência em áreas relevantes, como finanças, marketing e direito.

3. Diretoria Executiva: A diretoria executiva é o corpo de gestão profissional contratado para conduzir as atividades diárias do clube-empresa. Os principais cargos na diretoria incluem:

CEO (Chief Executive Officer) ou Diretor-Geral: Responsável por liderar a empresa, definir estratégias gerais, representar a organização perante outras entidades e tomar decisões executivas.

CFO (Chief Financial Officer) ou Diretor Financeiro: Responsável pela gestão financeira da empresa, incluindo orçamento, relatórios financeiros, controle de custos e captação de recursos.

CLO (Chief Legal Officer) ou Diretor Jurídico: Responsável por questões jurídicas, contratos, conformidade legal e aconselhamento em assuntos legais.

CMO (Chief Marketing Officer) ou Diretor de Marketing: Responsável pelo desenvolvimento de estratégias de marketing, comunicação, patrocínios e parcerias para aumentar a visibilidade e receitas do clube.

Diretor de Futebol: Responsável pelas questões relacionadas ao futebol, como contratações de jogadores, planejamento de elenco, negociações de transferências e relacionamento com a comissão técnica.

4. Profissionais Especializados: Além da diretoria executiva, a SAF pode contar com profissionais especializados em áreas específicas, como gestão de recursos humanos, infraestrutura, desenvolvimento de categorias de base, entre outras.

A gestão de uma SAF visa uma abordagem mais profissional, com foco em resultados financeiros e esportivos, sustentabilidade e crescimento do clube como um negócio. Isso implica em tomada de decisões baseada em critérios mais estratégicos e menos sujeitos à instabilidade causada por mudanças frequentes de mandatários, que é uma característica comum em clubes de futebol associativos.

Enquanto no modelo associativo, o clube é um clube, associativo, com sócios e membros de diretoria, no modelo SAF o clube é uma empresa, e traz investimentos vultosos, que ao serem aportados normalmente sanam as crises financeiras eternas e repetitivas e dão ao clube, agora empresa, a oportunidade real de brigar pelas primeiras colocações nos campeonatos pois tem material humano de qualidade e agilidade na tomada de decisões. Uma empresa é uma empresa. Objetivo: Resultados. Não política.

Sport Insider
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.