Antes mesmo da escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) colocou em prática um novo ideal para os seus próximos eventos: renovar a audiência. Naquele momento, os membros do COI já percebiam que os Jogos Olímpicos não atraiam mais tanto interesse quanto antes. A falta de conexão das novas gerações com algumas modalidades antigas, e a chegada de novas plataformas de entretenimento, como os esportes eletrônicos, atrapalhavam na renovação do público olímpico. Foi com esse ideal em mente que os Jogos do Rio foram o palco da reestreia de duas modalidades, o Rugby, em sua versão Sevens, e o Golfe.
A partir da edição de Tóquio, o COI acelerou o processo de “urbanização” das suas competições na tentativa de se aproximarem da juventude. Para tal, foi dado o direito de escolha de novos esportes para as cidades-sede dos Jogos. Dessa forma, além de atrair novos espectadores e patrocinadores, também era possível aumentar o interesse sob o evento no país-sede; uma vez que os esportes escolhidos seriam, naturalmente, aqueles em que o Japão já desfrutava de bons resultados à nível mundial. E os japoneses não economizaram, optando pela adição de cinco novas modalidades no programa olímpico (Surfe, Skate, Escalada Esportiva, Caratê e Beisebol/Softbol).
O sucesso dessa medida foi enorme, tanto em audiência, quanto na parte competitiva. O Japão levou ouro em quatro dos cinco novos esportes, e medalhou em todos eles. A boa repercussão também garantiu que três destas modalidades garantissem os seus lugares permanentes no programa olímpico (Surfe, Skate e Escalada Esportiva). Em Paris, será a vez do Breaking fazer a sua estreia, trazendo, novamente, um público jovem e toda uma comunidade para dentro do movimento olímpico.
Los Angeles, cidade-sede das Olimpíadas de 2028, também já fez as suas escolhas. E, tal como Tóquio, eles decidiram por trazer algumas grandes novidades para a edição americana: Lacrosse, Squash, Flag Football, Críquete e o retorno de Beisebol/Softbol para o programa. Abaixo uma análise do porquê estes esportes – que são bastante incomuns para nós brasileiros – foram uma escolha certeira para as intenções do COI de expansão dos eventos olímpicos, e a consequente renovação do público.
Lacrosse
Talvez você nunca tenha ouvido falar deste esporte, ou até mesmo não saiba que se trata de uma modalidade esportiva. Porém, o Lacrosse não é necessariamente uma novidade; a modalidade foi criada pelos Iroquois, uma tribo indígena que habita partes do atual Canadá e Estados Unidos. E, já esteve presente em cinco edições olímpicas, sendo duas delas como um esporte oficial, em Saint Louis 1904 e Londres 1908.
Em Los Angeles, o Lacrosse retornará ao programa olímpico em sua modalidade sixes, recém-criada pela federação internacional do esporte, e que só teve uma competição relevante até o momento, os Jogos Mundiais de Birmingham, em 2022. O evento olímpico será medalha quase certa para os donos da casa, já que a competitividade à nível mundial é extremamente baixa. Uma das causas é o difícil acesso aos equipamentos esportivos e os altos custos, atrapalhando no crescimento global.
Então, por que o Lacrosse está retornando aos Jogos Olímpicos? A resposta é fácil: a modalidade faz bastante sucesso entre o público jovem nos Estados Unidos, e tem crescido cada vez mais, especialmente no ambiente universitário. Segundo a Statista, o Lacrosse possuía cerca de 250 mil praticantes nos Estados Unidos em 2001, número que vem aumentando desde então, chegando a ter mais de 800 mil jogadores em 2018.
Críquete
Outra modalidade que fará o seu retorno aos Jogos Olímpicos será o Críquete. A primeira e única aparição aconteceu em Paris 1900, quando o Reino Unido venceu a França, conquistando a medalha de ouro em uma só partida. Desta vez, a competição será disputada na modalidade T20, e é uma das grandes apostas do comitê olímpico para a próxima edição.
Como um todo, o esporte é dominado pelos países da comunidade britânica, ou por ex-colônias como a índia, Paquistão e Bangladesh. E é justamente visando esse público que o Críquete foi selecionado para participar da festa olímpica. Estima-se que o esporte seja o segundo mais popular no mundo, com cerca de 2,5 bilhões de torcedores; puxado, principalmente, pelos populosos países asiáticos.
Com a entrada do esporte no programa olímpico, o COI busca estreitar o relacionamento e criar novos negócios com os mercados consumidores, dando um maior destaque para países e torcedores que por muitas vezes ficam “escanteados” durante os Jogos Olímpicos. Para se ter uma ideia do impacto que esta decisão pode ter, basta olharmos para o que aconteceu com o serviço de streaming, Disney+, na índia, que no ano passado sofreu um êxodo de mais de 12 milhões de assinantes, ao divulgarem o fim dos direitos de transmissão da liga indiana do esporte.
Beisebol/Softbol
Apesar de serem tratados como um só, o Beisebol e o Softbol são modalidades distintas, e ambas são praticadas, atualmente, por homens e mulheres. O fato de as duas modalidades estarem juntas, se deve ao intuito do COI de minimizar os gastos de seus eventos, reduzindo o número de vagas por esporte. Portanto, durante os Jogos de Los Angeles, veremos o Beisebol sendo disputado apenas por homens, enquanto o Softbol será a modalidade das mulheres.
Os dois esportes vivem uma verdadeira gangorra no programa olímpico. O Beisebol foi incluído nos Jogos de Barcelona 1992, enquanto o Softbol se juntou ao evento quatro anos depois, em Atlanta. Eles fizeram parte das Olimpíadas até Pequim 2008, e a partir daí começaram os altos e baixos; as modalidades foram excluídas de Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016, voltando somente em Tóquio 2020. Em Paris, novamente, elas estarão fora do programa, mas o retorno já está garantido para Los Angeles.
A escolha é bastante óbvia, os esportes estão entre as principais modalidades esportivas dos Estados Unidos, e já fazem parte da cultura do país. A volta de ambos, com certeza, trará um grande apelo ao evento, tanto em termos de audiência quanto financeiramente na venda de ingressos. Competitivamente, o Beisebol possui bastante relevância mundial, e a possibilidade de liberação dos jogadores da MLB (Major League Baseball) adicionará um brilho ainda maior para as disputas.
Flag Football
O Flag Football fará a sua estreia em Los Angeles. A modalidade é uma versão menor e sem contato do Futebol Americano, o mais tradicional esporte dos Estados Unidos. A decisão por essa disciplina foi simples, por conta da menor disparidade técnica entre as seleções, em comparação com o esporte principal; e para não “engordar” ainda mais as Olimpíadas em número de participantes.
A inclusão tem o objetivo claro de atrair o público consumidor da NFL (National Football League), a liga mais valiosa do mundo em termos de marcas esportivas, para dentro dos Jogos Olímpicos. De acordo com dados da Nielsen, os jogos da liga americana de futebol, possuem 34 das 50 maiores audiências da TV norte-americana, no ano passado. Tal número é um grande chamariz para o COI, que pretende usufruir do potencial televisivo da franquia para conquistar novos fãs.
Ao mesmo tempo, a própria NFL tem planos de expansão da sua marca globalmente, como o jogo de temporada da liga, marcado para acontecer em São Paulo, neste ano. Esta é uma parceria benéfica para ambas as partes, e que pode garantir a presença do “Futebol Americano” nas Olimpíadas, por um longo período.
Squash
O Squash foi a grande surpresa no anúncio das novas modalidades olímpica. O esporte que por muito tempo carregou a sombra de “elitista”, vem, há muitos anos, buscando quebrar esse estigma, e conquistar o reconhecimento mundial. Para se ter uma noção do árduo caminho que a modalidade trilhou até os Jogos Olímpicos, a federação internacional tenta emplacar o seu lugar no programa olímpico desde Londres 2012.
Finalmente, o Squash chegou aos Jogos, e graças ao mérito do trabalho da entidade máxima do esporte, terá a sua primeira aparição olímpica em Los Angeles. Uma das vantagens que garantiu pontos para a candidatura, foi o baixo custo e investimento para a realização dos eventos; uma vez que não é necessário grandes arenas para a prática do esporte.
Ainda assim, chama a atenção a entrada de uma modalidade não tão popular, em um momento de busca por novos espectadores. E isso ocorre no mesmo momento em que os seus “esportes-irmãos” como o Beach Tennis e o Pádel, ganham cada vez mais adeptos no mundo.
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