BePass: a tecnologia por trás da nova era nos estádios

Nesta edição do Sport Insider Review, vamos falar da BePass, startup brasileira que se consolidou como referência em biometria facial no futebol. Em entrevista exclusiva, Ricardo Cadar, CEO e fundador da empresa, revelou como a tecnologia tem reduzido fraudes, melhorado a experiência dos torcedores e gerado economia aos clubes brasileiros. Além disso, Cadar revelou mais detalhes sobre o seu projeto de expansão para outros mercados, em especial, os Estados Unidos. O futuro da torcida já começou — e é digital. Leia agora!


Por Raphael Fernandes

8 de maio de 2025

BePass, starup brasileira Créditos: Nathalia Teixeira

Nos últimos 15 anos, a experiência de ir ao estádio no Brasil foi profundamente transformada. Seja pela construção de modernas e luxuosas arenas para a Copa do Mundo de 2014 ou pela ampliação dos programas de sócio-torcedor, que trouxeram inúmeros benefícios — como a redução das filas para adquirir ingressos e a migração do processo para o ambiente online. Além disso, desde o fim da pandemia de Covid-19, uma nova tecnologia vem se tornando tendência entre os clubes brasileiros: a biometria facial.

Mas antes de falar sobre esse assunto, precisamos contar a história de Ricardo Cadar de Almeida. Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, o engenheiro civil de 52 anos conheceu a área da biometria facial em 2016. Ao se mudar para os Estados Unidos, naquele mesmo ano, ele estudou mais a fundo a tecnologia e percebeu que poderia trazê-la para o Brasil. Entretanto, no início, a ideia não saiu da forma que Cadar imaginou. 

“Eu me formei no final de 96 [na UFMG], e já em 93 — quando eu tinha 19 anos de idade — eu abri uma empresa. Essa minha primeira foi uma construtora. E, em 2016, ficamos sócios de uma empresa que já estava começando com essa tecnologia de biometria facial. Nesse mesmo ano eu me mudei para os Estados Unidos. Lá, a minha cabeça para tecnologia abriu completamente. Eu comecei a pesquisar muito e viajar pelo mundo inteiro atrás do que poderia trazer para essa empresa que a gente tinha recém-adquirido. Mas aí eles resolveram se dedicar para a área pública, fazendo acesso por biometria facial em escolas públicas. Então, em 2022, resolvi sair para poder abrir uma empresa que fosse totalmente privada. E foi assim que tudo começou”, revela Cadar.

O início da BePass e a primeira tentativa fracassada com o Atlético-MG

Arena MRV, um dos clientes da BePass
A BePass só veio a trabalhar com o Atlético-MG em setembro de 2023

Torcedor do Atlético Mineiro, Ricardo Cadar entrou em contato com o clube, em 2022, para implementar a tecnologia de biometria facial no Estádio Mineirão. Na época, era obrigatório que os torcedores apresentassem um teste de Covid-19 para assistir às partidas. Contudo, a organização deixava a desejar, e havia muitas falsificações de documentos. Por isso, Cadar sugeriu aos dirigentes do Galo que cruzassem os dados dos laboratórios parceiros com a biometria, a fim de verificar se todos os atleticanos realmente haviam feito o teste. 

A ideia não foi aceita pelo Atlético-MG, mas acabou abrindo uma janela de oportunidade no Palmeiras. Enfrentando sérios problemas com cambistas — que compravam ingressos para os jogos da Libertadores e revendiam pelo dobro do peço — os dirigentes do Verdão procuraram a Bepass para ajudá-los a solucionar a questão no Allianz Parque. No entanto, existia um desafio: o tempo.

“Eu costumo dizer que a fundação [da BePass] foi em agosto de 2022, mas o início real foi quando assinamos o primeiro contrato com o Palmeiras. Nós entramos no Allianz Parque para combater o cambismo. Só que atiramos no que vimos e acertamos no que não vimos. Eu assinei com eles no dia 10 de novembro, com a obrigação de, no dia 15 de janeiro, o estádio inteiro estar instalado [com a biometria facial] para iniciar o Campeonato Paulista. Nós fizemos de portão a portão. Quando dava muito certo, avançávamos. Quando não dava tão certo, repetíamos o portão para ajustar. Em maio de 2023, fizemos o primeiro jogo com 100% do estádio operando com biometria facial. A implantação levou cerca de quatro meses. Fomos contratados para resolver o cambismo, mas também resolvemos a questão da segurança. O clube passou a saber exatamente quem estava no estádio. Antes, com o QR Code, não havia esse controle — eu comprava para mim e mais cinco pessoas, e o clube não sabia quem realmente estava lá. Para o torcedor, resolvemos o problema de segurança — pessoas condenadas pela Justiça, por exemplo, se forem ao estádio, serão presas. Com isso, conseguimos atacar quatro pontos: segurança, velocidade, cambismo e ingresso falso”, explica Cadar. 

O sucesso no Allianz Parque e a expansão pelos estádios do Brasil

Allianz Parque, um dos clientes mais antigos da BePass
O Palmeiras foi pioneiro na área da biometria facial em estádios (Créditos: Fabio Menotti/Palmeiras/by Canon)

Em pouco mais de dois anos de operação, a BePass já se consolidou como o principal player do mercado de biometria facial no Brasil, atendendo a inúmeros estádios, como: Arena das Dunas, Arena do Grêmio, Arena Fonte Nova, Maracanã, MorumBIS, Neo Química Arena, Nilton Santos e Vila Belmiro. Outro fator que influenciou esse sucesso foi a Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023 – LGE). Aprovada neste ano, a norma estabelece a obrigatoriedade da adoção de biometria por reconhecimento facial em estádios com capacidade acima de 20 mil pessoas até junho de 2025. A medida visa oferecer mais segurança e aprimorar a experiência dos torcedores.

Com tudo indo de vento em popa, a BePass agora deseja conquistar novos mercados. De acordo com Ricardo Cadar, a meta para 2025 é ampliar a expansão nacional com os times das séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, além de iniciar um processo de internacionalização no México, Estados Unidos e Europa. Apesar do futebol ser o principal foco da empresa, Cadar não descarta a possibilidade de atuar em outras modalidades, como basquete, beisebol e futebol americano, que fazem muito sucesso nas terras do Tio Sam.

“Nós fomos a primeira empresa do mundo a ter um estádio 100% com acesso por biometria facial, que foi o Allianz Parque. Até hoje, não existe em nenhum outro lugar do mundo um estádio que opere totalmente com biometria facial como acontece aqui no Brasil. Tivemos também, em 2023, uma experiência em Portugal, num jogo entre Sporting e Benfica, em que toda a área VIP foi operada com biometria facial por nós — e deu super certo. A Europa, sem dúvida, também nos interessa muito. Mas o nosso grande foco para 2025 são os Estados Unidos. Não só pelo tamanho do mercado e pela variedade de ligas que existem lá — basquete, beisebol, futebol americano, entre outros —, mas também pelo peso das ligas universitárias, que levam muito público aos estádios”, afirma Cadar. 

BePass estuda trazer nova tecnologia para o Brasil em breve

Pagamento por biometria facial pode virar tendência em estádios brasileiros

As formas de pagamento vêm evoluindo rapidamente. As cédulas já não são mais a opção favorita das pessoas para uma transação, dando lugar aos cartões e às movimentações via Pix. Neste último caso, são necessários apenas alguns segundos para que o dinheiro saia de uma conta e chegue ao destinatário. Entretanto, nos Estados Unidos e na Ásia, já existe uma alternativa ainda mais instantânea.

De acordo com a CNBC, algumas redes de restaurantes norte-americanas já passaram a adotar a tecnologia de biometria facial como forma de pagamento. Na China, o PopID é utilizado há mais tempo e vem sendo aceito em redes como o McDonald’s, além de ser usado até para pagar entregas feitas na porta de casa. Pode parecer complexo, mas a tecnologia é simples: basta se cadastrar com uma selfie, e a transação é concluída em menos de três segundos. Em comparação, um pagamento via QR Code ou aplicativo bancário, como o Pix, pode levar até 20 segundos. Atenta a essa tendência, a BePass já estuda a possibilidade de implementá-la, em breve, nos estádios brasileiros.

“O pagamento com biometria nos estádios está começando a ganhar força agora. Não só isso, mas também aquela tecnologia da Amazon, em que você pega a bebida ou o item que desejar e sai, com o valor sendo debitado automaticamente da sua conta. Eu acredito que, apesar de estarmos um pouco atrasados nesse aspecto, a tendência é que essas tecnologias se espalhem rapidamente. É uma solução que queremos lançar ainda este ano. Já que a pessoa precisa obrigatoriamente usar a biometria facial para entrar no estádio, por que não permitir que ela use a mesma tecnologia para fazer pagamentos lá dentro? Esse tipo de inovação nos interessa muito. E temos mostrado aos clubes que a obrigatoriedade da biometria criou uma janela de oportunidade para outras soluções”, finaliza Cadar. 

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