Na última quarta-feira, dia 1 de fevereiro, se iniciou mais um capítulo da história do Mundial de Clubes da FIFA, em Marrocos. A edição atual pode estender a maior sequência de títulos de times europeus consecutivos, com o Real Madrid buscando sua oitava taça. Além do campeão europeu, também disputam o título mundial Flamengo, Seattle Sounders (EUA), Wydad AC (MAR), Al Hilal (SAU), Al Ahly (EGI) e Auckland City (OCE).
Os torcedores brasileiros mais velhos conseguem se lembrar dos épicos embates entre os vencedores da Libertadores e da Champions League, em jogos equilibrados, com boas chances de vitórias para os dois lados e uma equivalência que se confirmava nos resultados ano a ano. Entretanto, com o passar das décadas, a profissionalização das ligas europeias, a injeção de cada vez mais dinheiro e o eurocentrismo criado no ambiente futebolístico mundial desequilibraram a balança a favor dos europeus. Atualmente, já são 11 anos sem um título sul-americano.
Primeiros sinais
No início do milênio, com o novo formato do Mundial de Clubes estabelecido em 2000, o campeonato teve a sua primeira edição na história decidida entre dois sul-americanos: Corinthians, como campeão nacional do país-sede, e Vasco da Gama, como campeão da Libertadores de 1998. Poucos anos depois, São Paulo e Inter também conquistaram títulos seguidos para os latinos, em 2005 e 2006, mas esses seriam os últimos anos de equilíbrio por um bom tempo.
Em 2010, ocorreu o primeiro choque de realidade, quando o TP Mazembe, do Congo, eliminou o Internacional por 2 a 0 e, pela primeira vez, um time que não tinha base na Europa ou na América do Sul disputou a final do Mundial. Essa foi a primeira, mas, definitivamente, não a última vez, pois ao longo da década, Raja Casablanca (África), Pohang Steelers (Ásia), Al Ain (Oriente Médio) e Tigres (América do Norte) eliminaram times sul-americanos para prosseguir à final.
Nenhum deles conseguiu se consagrar campeão mundial, porém demonstraram para os sul-americanos que a competição não pode ser considerada apenas uma chance de vencer a hegemonia dos times europeus, mas também uma batalha com o resto do mundo para se firmar como o segundo melhor continente do planeta.
Problemas cambiais e econômicos
Um fator que aumentou a disparidade dos times foram as crises econômicas que impactaram Brasil, Argentina e outros países latino-americanos durante os últimos anos. A desvalorização das moedas dos países tornou inviável a disputa pela contratação de jogadores, tornando as propostas estrangeiras cada vez mais atrativas para os atletas e resultando na imigração em grande peso dos talentos sul-americanos para o futebol da Europa, tanto nas categorias de base quanto entre os atletas já consolidados.
Além disso, os modelos de ligas nacionais adotados por todo o velho continente no início do século XXI impulsionaram as receitas dos clubes, que vem alcançando novos patamares de poderio econômico desde então, exemplificado nas diversas quebras de recordes de transferência mais caras do futebol entre 2000 e 2017. A nova realidade mais profissional, capitalista e séria do futebol europeu não foi acompanhada dentro da América do Sul, onde, por exemplo, os clubes brasileiros ainda se esforçam para montar sua própria liga.
Jogador | Times envolvidos | Valor | Ano |
Luís Figo (POR) | Barcelona -> Real Madrid | 60 milhões de euros | 2000 |
Zinedine Zidane (FRA) | Juventus -> Real Madrid | 77.5 milhões de euros | 2001 |
Cristiano Ronaldo (POR) | Man United -> Real Madrid | 94 milhões de euros | 2009 |
Gareth Bale (WAL) | Tottenham -> Real Madrid | 101 milhões de euros | 2013 |
Paul Pogba (FRA) | Juventus -> Man United | 105 milhões de euros | 2015 |
Neymar (BRA) | Barcelona -> PSG | 222 milhões de euros | 2017 |
O fato é que as diferenças nas administrações, futebolísticas ou não, entre sul-americanos e europeus, hoje se refletem no campo e nas contas. O abismo criado entre a qualidade do futebol que se é jogado lá quanto ao jogado aqui vai muito além de talento ou organização tática dentro das quatro linhas, mas sim uma organização para todos os níveis de sociedade.
Por Hassan Zoghbi e João Vitor Bonfim