Em julho de 2023, Lionel Messi, então recém-campeão mundial com a Argentina, surpreendeu o mundo ao escolher o Inter Miami como seu novo destino. A decisão de deixar o futebol europeu para atuar na Major League Soccer (MLS) foi vista por muitos como o início de uma nova era para o futebol nos Estados Unidos. Atualmente, em abril de 2025, os efeitos da chegada de Messi são evidentes em múltiplas frentes — desde o crescimento econômico e midiático da liga até os desafios enfrentados por um modelo que gira, em grande parte, ao redor da figura de um único jogador. Este artigo propõe uma análise abrangente dos impactos gerados pela presença de Messi na MLS, e as perspectivas para a continuidade desse ambicioso projeto.
Revolução midiática: a MLS no mapa global
A chegada de Lionel Messi representou uma virada histórica para a visibilidade da MLS. Em termos de engajamento digital, poucos atletas possuem o alcance do craque argentino. Com mais de 500 milhões de seguidores no Instagram, Messi tornou-se uma ponte direta entre a liga norte-americana e uma audiência verdadeiramente global. O reflexo imediato disso foi visto no crescimento vertiginoso das redes sociais do Inter Miami, que saltou de 1 milhão para mais de 7 milhões de seguidores poucos meses após sua chegada.
A visibilidade ampliada também se estendeu aos estádios. O Inter Miami passou a lotar arenas não apenas em casa, mas também em partidas como visitante. Um dos casos emblemáticos foi a partida contra o Chicago Fire, no Soldier Field, que registrou um público recorde de 62.000 pessoas — algo incomum para o padrão da liga até então. Além disso, a hashtag #MessiMLS movimentou milhões de interações nas redes ao longo de 2024, tornando-se uma das mais populares do cenário esportivo.

Do ponto de vista de transmissão, o contrato da MLS com a Apple TV ganhou novo fôlego. Embora os números exatos de audiência do pacote MLS Season Pass não sejam divulgados oficialmente, a presença de Messi foi reconhecidamente o principal motor de novos assinantes e visualizações. Analistas da SportsPro apontam que a assinatura global do serviço teve seu pico no segundo semestre de 2023, coincidindo com os primeiros jogos de Messi pela Leagues Cup.
Efeito econômico: um craque que multiplica receitas
No aspecto financeiro, a presença de Messi alavancou não apenas os lucros do Inter Miami, mas também da própria MLS. O clube da Flórida quase triplicou suas receitas, saindo de uma estimativa de 50 a 60 milhões de dólares em 2022 para cerca de 200 milhões de dólares em 2024, de acordo com projeções da Forbes. Esse salto foi impulsionado por um tripé: patrocínios de alto calibre (como Royal Caribbean, Visa e Adidas), venda massiva de ingressos (com 90% de renovação de season tickets para 2024), e a explosão no merchandising — com a camisa de Messi liderando as vendas da Adidas em todo o mundo.
A nível de liga, a MLS registrou um recorde de 665 milhões de dólares em receitas de patrocínio em 2024, segundo a CNN Brasil, com um crescimento de 13% em relação ao ano anterior. Messi está diretamente vinculado a esse crescimento, sendo associado a 21 contratos comerciais, muitos dos quais inéditos para a MLS. Empresas que tradicionalmente investem apenas em mercados mais consolidados do futebol, como a Loovi e a Havan (antigas patrocinadoras de Neymar no Brasil), passaram a enxergar a liga norte-americana como uma plataforma de alcance global.
Outro fator importante é a valorização da marca Inter Miami. O clube está em vias de inaugurar o Miami Freedom Park, um moderno estádio com capacidade para 25.000 torcedores e que será parte de um complexo de entretenimento multifuncional. A expectativa é que Messi lidere o time na partida inaugural em 2026, capitalizando ainda mais sobre sua imagem e maximizando as oportunidades comerciais — como naming rights, pacotes VIP e experiências exclusivas.

Desafios estruturais: a MLS pós-Messi
Apesar dos avanços evidentes, o projeto Messi na MLS não está isento de riscos. Um dos principais desafios é justamente a dependência excessiva da imagem do craque argentino. Pesquisas da YouGov indicam que 72% dos novos fãs internacionais da liga associam diretamente a MLS a Messi. Essa concentração de atenção levanta preocupações quanto à sustentabilidade do modelo atual quando o camisa 10 não estiver mais em campo.
Outro ponto sensível é a estrutura regulatória da MLS, que ainda opera sob regras rígidas como teto salarial, limitação de contratações e a chamada Designated Player Rule (Regra do Jogador Designado). Criada em 2007 para viabilizar a contratação de David Beckham, essa regra permite que cada clube da MLS contrate até três jogadores cujos salários estejam acima do teto salarial da liga, com parte de seus vencimentos não contabilizados nesse limite.
Embora tenha facilitado a vinda de grandes nomes como Zlatan Ibrahimović e agora Messi, a regra ainda é vista por muitos como insuficiente diante da ambição de tornar a MLS competitiva globalmente. Jorge Mas, proprietário do Inter Miami, já defendeu abertamente uma flexibilização mais ampla dessas normas, afirmando que “a MLS precisa atrair 15 a 20 dos 50 melhores jogadores do mundo para se consolidar como liga global”.
Além disso, os altos custos para acompanhar o Inter Miami vêm gerando críticas. Os preços dos season tickets para a temporada de 2024 variam de 867 a 13.005 dólares para assentos, enquanto as suítes podem chegar a 42.840 dólares por temporada, um contraste notável com clubes como o Orlando City, onde os ingressos começam em 324 dólares e chegam a 2.898 dólares para pacotes no nível do campo com alimentação incluída. Isso acontece em um clube fundado apenas em 2018, que ainda não possui uma base tradicional de torcedores. Sem uma torcida consolidada, o Inter Miami corre o risco de perder relevância quando Messi não estiver mais presente.

O legado de Messi e as perspectivas futuras
Messi tem contrato com o Inter Miami até o final de 2025, com opção de renovação até o fim de 2026. Existe ainda uma cláusula que prevê participação acionária no clube após sua aposentadoria, o que reforça a intenção de construir um legado duradouro nos Estados Unidos. O craque já declarou que “está nos EUA para vencer títulos”, reforçando que a decisão de vir para a MLS não foi apenas comercial, mas também esportiva.
Com isso, o Inter Miami intensificou suas movimentações no mercado, buscando equilibrar a presença de estrelas consagradas com o desenvolvimento de jovens talentos e atletas locais. Após a chegada de nomes históricos como Suárez, Busquets e Jordi Alba, o clube já demonstrou interesse em jogadores como Kevin De Bruyne. A estratégia é compor um elenco que una e mantenha reconhecimento internacional com sustentabilidade esportiva, garantindo respaldo global e interesse na liga mesmo após a aposentadoria de Messi.
O projeto que levou Messi à MLS, pensado como uma vitrine internacional e um impulso estratégico para o futebol nos EUA, deve ter seu ápice na Copa do Mundo de 2026, que será disputada em solo norte-americano, além de Canadá e México. Messi, que ainda considera disputar o torneio pela Argentina, terá um papel central tanto como jogador quanto como símbolo dessa transformação, consolidando-se como embaixador informal da liga e personificando os resultados de uma aposta ousada feita pelo Inter Miami e pela própria MLS.
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A passagem de Lionel Messi pela MLS não é apenas uma jogada de marketing, é um divisor de águas. Em pouco mais de um ano, o craque argentino elevou a liga a um novo patamar de visibilidade, receita e ambição. No entanto, o sucesso do projeto dependerá da capacidade da MLS e do Inter Miami de planejar um futuro sustentável, capaz de sobreviver sem o brilho do maior camisa 10 do século. Se bem conduzido, o “efeito Messi” poderá não ser apenas uma fase, mas o ponto de partida para uma nova era do futebol nos Estados Unidos.