A reinvenção da Fórmula 1

Entenda o declínio e a retomada de popularidade do campeonato de automobilismo mais famoso do planeta: a Fórmula 1


Por Insper Sports Business

30 de setembro de 2022

Parceria Editorial

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A reinvenção da Fórmula 1 A reinvenção da Fórmula 1

A Fórmula 1 é inegavelmente o campeonato de automobilismo mais famoso do planeta. Criada na década de 50 pela Federação Internacional do Automobilismo (FIA), a competição se desenvolveu muito desde então, principalmente em quesitos tecnológicos, como, por exemplo, na criação de novos motores. Consequentemente, a F1 passou a ficar mais atrativa, afinal as velocidades atingidas pelos carros se tornaram cada vez mais impressionantes e a competitividade entre os corredores aumentou ainda mais.

Por conta disso, a Fórmula 1 viveu o seu auge durante as décadas de 1970-1990, período em que as grandes corridas realizadas explicam o sucesso do campeonato. Ademais, a grande quantidade de ídolos e rivalidades criadas por essa geração contribuiu muito para a popularização do esporte ao redor do globo. O próprio Brasil, por exemplo, teve lendas como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna fazendo história no cenário automobilístico dessa geração.

Entenda o declínio e a retomada de popularidade do campeonato de automobilismo mais famoso do planeta: a Fórmula 1

Portanto, como é possível explicar a queda de popularidade da Fórmula 1 na última década, levando em conta que os carros de corrida seguiram evoluindo e outros grandes pilotos passaram pela competição? A resposta é simples: a atratividade dela não se baseia exclusivamente nas corridas em si, mas também em como é feito o marketing para atrair um público que não acompanhava a competição. Logo, torna-se evidente que a organização errou por muitos anos no aspecto em questão.

Declínio

No ramo dos negócios, o foco da Fórmula 1 era principalmente nos direitos de televisão e na bilheteria dos Grand Prix ao longo da competição anual. Apesar de ter obtido muito sucesso durante décadas, se manter somente nessa estratégia após a chegada da internet passou a ser um grande problema em relação a quantidade de espectadores e consumidores da liga.

Bernie Ecclestone, presidente e CEO da organização da F1 até 2016, chegou a declarar: “Eu não estou interessado em twittar, Facebook ou qualquer que seja essa bobagem. A maioria desses jovens não tem nenhum dinheiro. Eu prefiro ir ao cara de 70 anos que possui bastante dinheiro.” Diante dessa declaração, torna-se evidente a falta de interesse da Fórmula 1 em atingir um público mais jovem e de realizar um marketing estratégico junto ao desenvolvimento da internet e das redes sociais.

A falta de investimento nas plataformas digitais enquanto elas cresciam de maneira rápida inevitavelmente iria refletir negativamente nos números da liga, como o faturamento e a audiência, por exemplo. Confira abaixo um gráfico de telespectadores mundiais (em milhões de pessoas) por temporada da Fórmula 1 (durante os anos de 2008 a 2018), que evidencia o problema.

Insistir no modelo de décadas anteriores só fez com que os números seguissem caindo ano após ano. Diante desse cenário, a necessidade de reinvenção do marketing da organização se tornou cada vez maior, uma vez que migrar para o marketing digital poderia “salvar” a popularidade da Fórmula 1.

Aquisição e estratégia da Liberty Media

Em setembro de 2016, a empresa de telecomunicações Liberty Media anunciou um acordo de 4.4 bilhões de dólares para adquirir a Fórmula 1 do grupo CVC Capital Partners. Já presente no mundo esportivo como sócia do time de beisebol estadunidense Atlanta Braves, a Liberty adquiriu a F1 com planos de reinventar o modo como o esporte era vendido, explorando oportunidades que não eram aproveitadas pelos antigos proprietários. Para isso, foi realizada uma reformulação na alta cúpula do esporte, inclusive com a mudança no cargo de CEO, até então ocupado pelo lendário Bernie Eccleston.

Inicialmente, o novo grupo proprietário da Fórmula 1 planejava focar principalmente no desenvolvimento e aperfeiçoamento das mídias digitais relacionadas ao esporte, com o intuito de renovar o público interessado, que era composto majoritariamente por fãs mais velhos e não pelas novas gerações.

Outro ponto de interesse foi a expansão da Fórmula 1 nos Estados Unidos, que, por muito tempo, ficou sem pilotos nacionais e nenhum Grande Prêmio anual realizado no país – até 2012, quando o GP de Austin voltou a ser realizado no Circuito das Américas em Austin, Texas. O processo começou lentamente com a admissão da primeira equipe norte-americana na história, a Team Haas, em 2016. Além disso, o projeto vem evoluindo com a introdução do GP de Miami no calendário em 2022 e do GP de Las Vegas em 2023, ambos aparecendo pela primeira vez na história da Fórmula 1.

Em relação à marca Fórmula 1, bastaram apenas alguns meses para que a Liberty Media realizasse um rebranding completo na organização. Novo logo, novas fontes, novos gráficos de televisão e uma reformulação inteira do esporte na questão visual e gráfica, que não havia sido alterada há várias décadas.

Nas mídias digitais, a modalidade viu uma completa mudança de atitude. YouTube, Twitter, Instagram e outras redes sociais da Fórmula 1 passaram a adotar estratégias mais agressivas para a captação de novos telespectadores, gerando alto engajamento e se destacando entre as grandes ligas esportivas do mundo. Para aumentar ainda mais a proximidade dos fãs com o esporte, em 2019, ocorreu o lançamento da série documental “Fórmula 1: Drive to Survive”, que relata os bastidores do esporte, com foco nos pilotos, equipes, membros da organização da modalidade, entre outros. Embora o piloto Max Verstappen tenha acusado a série de criar “drama excessivo e rivalidades que não existem”, o seriado lançado pela plataforma de streaming da Netflix se tornou um trampolim para a popularidade da F1.

Fórmula 1 hoje

Atualmente, o impacto da aquisição e da reformulação da Fórmula 1 pela Liberty Media gera bons frutos. Os números nas redes sociais multiplicaram astronomicamente, os seguidores no Twitter, por exemplo, passaram de 300 mil, em 2015, para 8,5 milhões até o momento. Mais estatísticas, novas votações e mais interações com os fãs foram os carros-chefes da mudança.

Em relação à expansão do esporte nos Estados Unidos, o GP de Austin se tornou o fim de semana mais frequentado da história da F1, registrando 450 mil pessoas ao longo dos treinos, classificação e corrida. Além disso, a média de espectadores por corrida na televisão duplicou, passando de 600 mil, em 2018, para 1,4 milhões, em 2022.

É inegável que a Fórmula 1 se reinventou após a aquisição da Liberty Media. A operação foi essencial para “reviver” a modalidade mais rápida do mundo e prolongar a “vida” desse esporte tradicional que atrai milhões de pessoas por todo o mundo.

Por João Bonfim e Hassan Zoghbi