A Major League Baseball (MLB) é a principal liga de beisebol norte-americana e a liga de esporte profissional mais antiga do mundo. Porém, com o passar dos anos, o esporte vem perdendo a atratividade para as gerações mais novas e os impactos desse declínio já começaram a aparecer.
Neste artigo, trazemos uma análise sobre a atual realidade do beisebol e as razões para o declínio do esporte nos Estados Unidos.
Conhecendo o Beisebol
O beisebol como conhecemos hoje foi criado pelos ingleses no fim do Século 18, adotado e aperfeiçoado pelos norte-americanos ao longo do Século 19. O primeiro jogo de beisebol moderno registrado nos Estados Unidos aconteceu em 1846. E sua liga profissional, a atual MLB, foi fundada já em 1903.
Pouco popular no Brasil, o beisebol hoje tem maior destaque em países asiáticos como Japão e Coreia do Sul, que possuem suas próprias ligas profissionais, e em países do caribe, como Cuba e República Dominicana. Estes últimos, inclusive, chegam até a exportar diversos jogadores para a MLB, compondo 30% da presença étnica da liga, segundo matéria do The New York Times.
MLB hoje: crise na audiência da World Series
Primeiro, é necessário mostrar que a audiência do esporte vem caindo conforme os anos passam, inclusive na final do torneio da MLB, a World Series, que atingiu uma baixa média de 9,7 milhões de espectadores por jogo em 2020, segundo o The DenverPost. Esse é um sinal alarmante para uma liga que por décadas foi a mais popular dos Estados Unidos.
Veja no quadro abaixo as audiências das finais de 2020 nas principais ligas norte-americanas:
Posição | Evento (no ano de 2020) | Audiência (média por jogo em 2020) |
1 | Super Bowl | 101,1 milhões |
2 | NBA Finals | 9,91 milhões |
3 | World Series | 9,7 milhões |
O esporte possui entre as ligas norte-americanas a maior média de idade de espectadores, de mais de 55 anos. E isso implica que a audiência do esporte está apenas envelhecendo. Além disso, o público mais jovem, isto é, até 34 anos, é apenas 24% da audiência. Segundo um estudo do portal Statista, apenas 21% dos entrevistados entre 18 e 34 anos se consideram fãs de verdade do esporte e 33% são apenas fãs casuais.
Outro problema na audiência é a baixa popularidade do esporte atualmente entre a população afro-americana, que perdeu fortemente o interesse no esporte (9% da audiência do campeonato), o que pode ser explicado por uma grande queda no número de jogadores negros nas equipes da liga, hoje em apenas 7%, segundo o The New York Times.
No entanto, a audiência vem crescendo entre os hispânicos. A popularidade do esporte é muito grande na América Central e Caribe (principalmente Cuba, Venezuela e República Dominicana), e vem crescendo cada vez mais, trazendo esse público para a MLB. Além disso, o número de jogadores latino-americanos apenas vem crescendo, hoje sendo de aproximadamente 30% dos jogadores da liga.
Baixo engajamento nas redes sociais em comparação a outras ligas
Outro problema da liga é seu baixo engajamento nas redes sociais, como no Instagram, comparado a outras ligas americanas como NFL e NBA.
As redes sociais da própria liga têm menos seguidores do que suas concorrentes. E seus principais jogadores têm números de seguidores muito menores do que os principais jogadores dos outros esportes mais populares.
Seguidores das principais ligas
Posição | Liga (Baseada nos EUA) | Número de seguidores no Instagram |
1 | NBA | 65,6 milhões |
2 | UFC | 32 milhões |
3 | WWE | 26,3 milhões |
4 | NFL | 24 milhões |
5 | MLB | 8,3 milhões |
O principal jogador da liga hoje e atual MVP, o japonês Shohei Ohtani do Los Angeles Angels, possui 1,3 milhões de seguidores. Já o jogador com mais seguidores é Mike Trout também dos Angels, com 2 milhões, que ocupa apenas a posição 130 no ranking dos atletas mais seguidos nos EUA.
Comparando com as atuais estrelas da NBA e NFL, como LeBron James e Tom Brady, respectivamente, vemos uma enorme distância.
Posição | Número de Seguidores no Instagram | Atleta das ligas americanas (em atividade) |
1 | 117M | LeBron James (NBA, Los Angeles Lakers) |
2 | 41,2M | Stephen Curry (NBA, Golden State Warriors) |
3 | 19,3M | Russel Westbrook (NBA, Los Angeles Lakers) |
4 | 16,2M | Kyrie Irving (NBA, Brooklyn Nets) |
5 | 15,8M | Odell Beckham Jr. (NFL, Los Angeles Rams) |
6 | 12,9M | Giannis Antetokoumpo (NBA, Milwalkee Bucks) |
7 | 12,8M | Kevin Durant (NBA, Brooklyn Nets) |
8 | 11,7M | James Harden (NBA Philadelphia 76ers) |
9 | 11,1M | Chris Paul (NBA, Phoenix Suns) |
10 | 9,3M | Paul George (NBA, Los Angeles Clippers) |
130 | 1,9M | Mike Trout (MLB, Los Angeles Angels) |
Além disso, o beisebol não alçar seus melhores jogadores ao status de estrelas do esporte nacionalmente, o que diminui drasticamente o engajamento nas redes sociais. Isso ficou explícito quando uma pesquisa feita pela The Q Scores Company, mostrou que apenas 22% dos americanos reconheciam Mike Trout, enquanto 74% reconheciam LeBron James e 80% Tom Brady.
Esses baixos números em redes sociais reiteram ainda mais o distanciamento da liga com o público jovem, o maior consumidor das redes sociais e a dificuldade da liga de se adaptar e se inteirar nesse novo mercado digital e imediatista.
Jogo lento
Outro fator que vem cada vez mais distanciando o público da liga é o ritmo do esporte. Muitos veem o jogo muito lento em comparação a outros esportes. E criticam a repetição, que faz com que o jogo fique mais do mesmo.
Os 162 jogos de temporada regular também afastam o público. A título de comparação, a NFL tem 17 jogos por time na temporada regular, enquanto a NBA e a NHL (Hóquei) têm 82 partidas por equipe, praticamente metade da MLB.
Os jogos também têm registrado cada vez menos rebatidas e corridas (pontos) nos últimos anos. E o esporte vem sendo decidido muito mais por strikeouts, o que tira a emoção da disputa, principalmente para torcedores mais casuais.
Tal fator é dado por uma média crescente na duração do jogo, que registrou na temporada passada uma média recorde de 3 horas e 7 minutos. Isso pode ser explicado pelo funcionamento do esporte em si, que não possui um relógio. O jogo acaba depois de 9 entradas (o que tem equivalência a um tempo), em que cada time tem uma fase de ataque e defesa. Esse formato faz com que o jogo fique longo e muitas vezes repetitivo, já que o esporte não acaba empatado, só terminando quando tem algum vencedor.
Por isso, um jogo pode se prolongar por horas, como aconteceu entre Philadelphia e Pittsburgh na temporada de 2018, que teve 9 entradas em 4 horas e 30 minutos. Como os jogos não podem terminar empatados, o tempo pode se prolongar até que um time saia vencedor. Além disso, outro fator que altera a duração de um jogo é o clima, pois o beisebol é disputado em estádios sem cobertura e não é praticado quando chove.
As transmissões na TV são inundadas de estatísticas complicadas, o que dificulta a compreensão para um fã casual ou novo do esporte que deseja acompanhar todos os detalhes.
Até mesmo jornalistas norte-americanos que se consideram fãs do esporte andam criticando o ritmo de jogo e propondo mudanças nas regras, como introduzir um relógio para arremesso, já que desde 2015 o tempo gasto pelo arremessador entre seus arremessos somam 11 minutos na duração total do jogo. Discutem também uma redução do número de entradas e uma limitação nas trocas de arremessadores, que tomam muito tempo da partida.
Lockout da MLB
No início de dezembro de 2021, a organização dos donos da MLB anunciou que o acordo entre proprietários e o sindicatos de jogadores da liga havia expirado e não poderia haver movimentações financeiras, treinos ou jogos até que um novo acordo entrasse em vigor, o chamado “Lockout”.
Durante dois meses de negociações, donos de times, executivos, jogadores e empresários se reuniram para chegar a um consenso dos termos em que a MLB seria jogada nos próximos cinco anos. Algumas das reivindicações dos jogadores eram que seus salários não estariam acompanhando o crescimento na renda dos clubes, incentivo a competitividade e maior segurança nos contratos de jovens entrando na liga.
No dia 8 de março de 2022, foi anunciada a chegada de um novo acordo e, consequentemente, o fim do Lockout. O longo período de negociações resultou no adiamento do início da temporada regular de 31 de março para 7 de abril, além da perda de 2 semanas de treinos e pré temporada, o que acabou desagradando os fãs do esporte.
A manobra afastou ainda mais os fanáticos por beisebol de sua maior liga, que viram apenas ganância entre as negociações e não um compromisso com o futuro do esporte.
Por Enzo Carlesimo e João Vitor Bonfim