Beisebol: o declínio do mais tradicional esporte dos EUA e o adiamento da MLB

Entenda o porquê de a maior liga de beisebol do mundo ter adiado suas primeiras semanas e o que isso representa para esse esporte secular


Por Insper Sports Business

7 de abril de 2022

Parceria Editorial

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Beisebol

A Major League Baseball (MLB) é a principal liga de beisebol norte-americana e a liga de esporte profissional mais antiga do mundo. Porém, com o passar dos anos, o esporte vem perdendo a atratividade para as gerações mais novas e os impactos desse declínio já começaram a aparecer. 

Neste artigo, trazemos uma análise sobre a atual realidade do beisebol e as razões para o declínio do esporte nos Estados Unidos. 

Conhecendo o Beisebol

O beisebol como conhecemos hoje foi criado pelos ingleses no fim do Século 18, adotado e aperfeiçoado pelos norte-americanos ao longo do Século 19. O primeiro jogo de beisebol moderno registrado nos Estados Unidos aconteceu em 1846. E sua liga profissional, a atual MLB, foi fundada já em 1903. 

Pouco popular no Brasil, o beisebol hoje tem maior destaque em países asiáticos como Japão e Coreia do Sul, que possuem suas próprias ligas profissionais, e em países do caribe, como Cuba e República Dominicana. Estes últimos, inclusive, chegam até a exportar diversos jogadores para a MLB, compondo 30% da presença étnica da liga, segundo matéria do The New York Times.

MLB hoje: crise na audiência da World Series

Primeiro, é necessário mostrar que a audiência do esporte vem caindo conforme os anos passam, inclusive na final do torneio da MLB, a World Series, que atingiu uma baixa média de 9,7 milhões de espectadores por jogo em 2020, segundo o The DenverPost. Esse é um sinal alarmante para uma liga que por décadas foi a mais popular dos Estados Unidos.

Veja no quadro abaixo as audiências das finais de 2020 nas principais ligas norte-americanas:

PosiçãoEvento (no ano de 2020)Audiência (média por jogo em 2020)
1Super Bowl101,1 milhões
2NBA Finals9,91 milhões
3World Series9,7 milhões

O esporte possui entre as ligas norte-americanas a maior média de idade de espectadores,  de mais de 55 anos. E isso implica que a audiência do esporte está apenas envelhecendo. Além disso, o público mais jovem, isto é, até 34 anos, é apenas 24% da audiência. Segundo um estudo do portal Statista, apenas 21% dos entrevistados entre 18 e 34 anos se consideram fãs de verdade do esporte e 33% são apenas fãs casuais.

Outro problema na audiência é a baixa popularidade do esporte atualmente entre a população afro-americana, que perdeu fortemente o interesse no esporte (9% da audiência do campeonato), o que pode ser explicado por uma grande queda no número de jogadores negros nas equipes da liga, hoje em apenas 7%, segundo o The New York Times.

No entanto, a audiência vem crescendo entre os hispânicos. A popularidade do esporte é muito grande na América Central e Caribe (principalmente Cuba, Venezuela e República Dominicana), e vem crescendo cada vez mais, trazendo esse público para a MLB. Além disso, o número de jogadores latino-americanos apenas vem crescendo, hoje sendo de aproximadamente 30% dos jogadores da liga.

Baixo engajamento nas redes sociais em comparação a outras ligas 

Outro problema da liga é seu baixo engajamento nas redes sociais, como no Instagram, comparado a outras ligas americanas como NFL e NBA.

As redes sociais da própria liga têm menos seguidores do que suas concorrentes. E seus principais jogadores têm números de seguidores muito menores do que os principais jogadores dos outros esportes mais populares. 

Seguidores das principais ligas

PosiçãoLiga (Baseada nos EUA)Número de seguidores no Instagram
1NBA65,6 milhões
2UFC32 milhões
3WWE26,3 milhões
4NFL24 milhões
5MLB8,3 milhões

O principal jogador da liga hoje e atual MVP, o japonês Shohei Ohtani do Los Angeles Angels, possui 1,3 milhões de seguidores. Já o jogador com mais seguidores é Mike Trout também dos Angels, com 2 milhões, que ocupa apenas a posição 130 no ranking dos atletas mais seguidos nos EUA. 

Comparando com as atuais estrelas da NBA e NFL, como LeBron James e Tom Brady, respectivamente, vemos uma enorme distância.

PosiçãoNúmero de Seguidores no InstagramAtleta das ligas americanas (em atividade)
1117MLeBron James (NBA, Los Angeles Lakers)
241,2MStephen Curry (NBA, Golden State Warriors)
319,3M
Russel Westbrook (NBA, Los Angeles Lakers)
416,2MKyrie Irving (NBA, Brooklyn Nets)
515,8MOdell Beckham Jr. (NFL, Los Angeles Rams)
612,9MGiannis Antetokoumpo (NBA, Milwalkee Bucks)
712,8MKevin Durant (NBA, Brooklyn Nets)
811,7MJames Harden (NBA Philadelphia 76ers)
911,1MChris Paul (NBA, Phoenix Suns)
109,3MPaul George (NBA, Los Angeles Clippers)
1301,9MMike Trout (MLB, Los Angeles Angels)

Além disso, o beisebol não alçar seus melhores jogadores ao status de estrelas do esporte nacionalmente, o que diminui drasticamente o engajamento nas redes sociais. Isso ficou explícito quando uma pesquisa feita pela The Q Scores Company, mostrou que apenas 22% dos americanos reconheciam Mike Trout, enquanto 74% reconheciam LeBron James e 80% Tom Brady. 

Esses baixos números em redes sociais reiteram ainda mais o distanciamento da liga com o público jovem, o maior consumidor das redes sociais e a dificuldade da liga de se adaptar e se inteirar nesse novo mercado digital e imediatista.

Jogo lento

Outro fator que vem cada vez mais distanciando o público da liga é o ritmo do esporte.  Muitos veem o jogo muito lento em comparação a outros esportes. E criticam a repetição, que faz com que o jogo fique mais do mesmo. 

Os 162 jogos de temporada regular também afastam o público. A título de comparação, a NFL tem 17 jogos por time na temporada regular, enquanto a NBA e a NHL (Hóquei) têm 82 partidas por equipe, praticamente metade da MLB. 

Os jogos também têm registrado cada vez menos rebatidas e corridas (pontos) nos últimos anos. E o esporte vem sendo decidido muito mais por strikeouts, o que tira a emoção da disputa, principalmente para torcedores mais casuais.

Tal fator é dado por uma média crescente na duração do jogo, que registrou na temporada passada uma média recorde de 3 horas e 7 minutos. Isso pode ser explicado pelo funcionamento do esporte em si, que não possui um relógio. O jogo acaba depois de 9 entradas (o que tem equivalência a um tempo), em que cada time tem uma fase de ataque e defesa. Esse formato faz com que o jogo fique longo e muitas vezes repetitivo, já que o esporte não acaba empatado, só terminando quando tem algum vencedor.

Por isso, um jogo pode se prolongar por horas, como aconteceu entre Philadelphia e Pittsburgh na temporada de 2018, que teve 9 entradas em 4 horas e 30 minutos. Como os jogos não podem terminar empatados, o tempo pode se prolongar até que um time saia vencedor. Além disso, outro fator que altera a duração de um jogo é o clima, pois o beisebol é disputado em estádios sem cobertura e não é praticado quando chove.

As transmissões na TV são inundadas de estatísticas complicadas, o que dificulta a compreensão para um fã casual ou novo do esporte que deseja acompanhar todos os detalhes. 

Até mesmo jornalistas norte-americanos que se consideram fãs do esporte andam criticando o ritmo de jogo e propondo mudanças nas regras, como introduzir um relógio para arremesso, já que desde 2015 o tempo gasto pelo arremessador entre seus arremessos somam 11 minutos na duração total do jogo. Discutem também uma redução do número de entradas e uma limitação nas trocas de arremessadores, que tomam muito tempo da partida.

Lockout da MLB

No início de dezembro de 2021, a organização dos donos da MLB anunciou que o acordo entre proprietários e o sindicatos de jogadores da liga havia expirado e não poderia haver movimentações financeiras, treinos ou jogos até que um novo acordo entrasse em vigor, o chamado “Lockout”.

Durante dois meses de negociações, donos de times, executivos, jogadores e empresários se reuniram para chegar a um consenso dos termos em que a MLB seria jogada nos próximos cinco anos. Algumas das reivindicações dos jogadores eram que seus salários não estariam acompanhando o crescimento na renda dos clubes, incentivo a competitividade e maior segurança nos contratos de jovens entrando na liga. 

No dia 8 de março de 2022, foi anunciada a chegada de um novo acordo e, consequentemente, o fim do Lockout. O longo período de negociações resultou no adiamento do início da temporada regular de 31 de março para 7 de abril, além da perda de 2 semanas de treinos e pré temporada, o que acabou desagradando os fãs do esporte. 

A manobra afastou ainda mais os fanáticos por beisebol de sua maior liga, que viram apenas ganância entre as negociações e não um compromisso com o futuro do esporte.

Por Enzo Carlesimo e João Vitor Bonfim