Greve no Futebol: entenda o caso

Recentes declarações de Koundé e Rodri receberam o apoio de grandes dirigentes do esporte; FIFA ainda não se pronunciou sobre o assunto


Por Raphael Fernandes

23 de setembro de 2024

O futebol europeu está à beira de um colapso, com jogadores cogitando uma greve inédita devido ao excesso de partidas e, principalmente, o desrespeito às suas vozes. Inclusive, para Rodri, volante do Manchester City e candidato a melhor do mundo, é importante que as mudanças sejam feitas o quanto antes.

“Se continuar assim, chegará um momento em que não teremos outra opção. É algo que nos preocupa porque somos os principais personagens deste esporte, ou negócio, ou seja lá como queiram chamar. Nem tudo é dinheiro ou marketing, é também a qualidade do show. Quando estou descansado, jogo melhor. Se as pessoas quiserem ver um futebol melhor, precisamos descansar. Quando o número de jogos começa a aumentar, o desempenho e a qualidade diminuem”, afirmou Rodri.

Quem também se manifestou sobre o assunto foi o zagueiro Koundé, do Barcelona. O francês afirma que jogadores e treinadores não são ouvidos nas discussões sobre o calendário. Além disso, ele alerta que, se a UEFA continuar agindo dessa forma, uma greve será necessária para que todos escutem as vozes dos protagonistas.

“Estamos há três ou quatro anos falando sobre isso, e ninguém escuta os protagonistas. Não se escutam os jogadores, nem os treinadores. Haverá um momento em que teremos que fazer uma greve. As coisas não mudam porque nos falta organização e comunicação. A cada ano o calendário aumenta, e há menos tempo de descanso. É uma loucura”, criticou Koundé.

Presidente da La Liga se manifesta sobre o assunto

Javier Tebas, presidente da La Liga.
Tebas acredita que o calendário europeu é um problema muito maior que afeta toda a indústria (Créditos: Getty Images)

Durante o WFS Europe – evento que reúne profissionais dos mais diversos clubes do continente para debater melhorias, gestão e inovação no meio futebolístico – em Sevilha, o presidente da La Liga, Javier Tebas, declarou apoio a Rodri, mas salientou que não é a favor de retirar os clubes das ligas nacionais. Segundo Tebas, se a FIFA quiser alterar o calendário europeu, a melhor opção seria acabar com o Mundial de Clubes.

“O Rodri tem razão sobre uma possível greve dos jogadores de futebol. São 200 jogadores envolvidos nesta questão (na Champions League). Mas eu também falo pelos outros 40 mil jogadores profissionais e pelos dois mil clubes restantes. Se esta greve servir para resolver a questão dos calendários, para que as datas sejam melhor reestruturadas, é bem-vinda, porque algo precisa acontecer. Mas não é para retirar os clubes das ligas nacionais, e sim para que o Mundial de Clubes não exista”, disse Tebas.

Até o momento, o PFA (Associação dos Atletas Profissionais da Inglaterra) foi o único sindicato de jogadores que se pronunciou sobre o assunto. A ESPN apurou que os ingleses já estão iniciando procedimentos legais contra a FIFA devido ao acúmulo de partidas que será gerado pela criação do novo Mundial de Clubes. Contudo, a entidade máxima do futebol ainda não se manifestou.

Ex-craque do Real Madrid é contra a greve no futebol

Luis Figo, ex-craque do Real Madrid e Barcelona.
Atualmente, Figo vem trabalhando como conselheiro de futebol da UEFA (Créditos: Getty Images)

Ao ser questionado pelo jornal Marca sobre o caso, o ex-craque do Real Madrid, Figo, tentou entender ambos os lados. Ele reconhece que há cada vez mais jogos, mas acredita que, se houver uma diminuição nos compromissos dos clubes durante a temporada, os jogadores terão que aceitar uma redução significativa nos salários.

“Essa é a vida de futebolista. Por isso, é sempre uma questão complicada. Eles têm um contrato com uma entidade, os clubes. É preciso encontrar a melhor solução. É verdade que há cada vez mais jogos, mas também é verdade que isso é uma bola de neve. Quanto mais jogos, maiores são os contratos. Imagino que, se o número de jogos for reduzido, os contratos também serão reduzidos. Portanto, acho que é uma questão de equilíbrio. É muito difícil encontrar o equilíbrio certo na vida”, concluiu Figo.

Rodri esteve presente em mais de 50 partidas na temporada

Rodri, craque do Manchester City
De acordo com a PFA, atletas que disputarem a Champions e Mundial de Clubes podem fazer até 85 partidas na temporada (Créditos: Getty Images)

Para entendermos melhor a reclamação de Rodri e Koundé, precisamos voltar nossas atenções ao Super Mundial de Clubes, que acontecerá entre os dias 15 de junho e 13 de julho, nos Estados Unidos. Com 32 times na disputa, o torneio começará 15 dias após a final da UEFA Champions League, que marca o fim da temporada europeia.

Além do pouco tempo de preparação para a temporada seguinte – que começa em agosto de 2025 – os clubes terão que lidar com o desgaste físico de seus jogadores. Pegando Rodri como exemplo, na última temporada, o craque disputou 63 partidas, somando clube e seleção espanhola. Um compromisso a mais que Koundé.

Esse número elevado de jogos pode colocar a saúde dos craques em risco, já que eles estão constantemente jogando mais do que o necessário. Neste ano, tivemos a Eurocopa e a Copa América. No ano que vem, será a vez do Super Mundial de Clubes e, em 2026, a Copa do Mundo. Torneios que sempre acontecem logo após o fim da temporada, impactando a preparação dos jogadores.

Se a FIFA escutará os jogadores e promoverá uma mudança significativa no calendário europeu, ainda não sabemos. Mas é importante ver o posicionamento dos jogadores, que não pretendem mais aceitar nenhuma decisão sem serem consultados. Que isso também sirva de inspiração para os jogadores do futebol brasileiro, que sofrem com o mesmo problema.