Por meio do esporte impulsionamos um dilema muito vivo nos seres humanos: a comparação. Nosso primitivo instinto competitivo é aguçado quando pretendemos sobrepor diferentes esportistas, agremiações ou determinadas regiões do mundo. E, dentre os argumentos mais comuns, é inegável que números e dados históricos se sobressaem. Para apimentar ainda mais as resenhas dos fanáticos, o Sport Insider compilou uma série de dados públicos sobre a artilharia do Brasileirão.
Preparamos um material com as estatísticas dos principais atacantes dos clubes da Série A, tanto na atual temporada do Campeonato Brasileiro quanto na história da competição.
Navegue pelo conteúdo:
- Artilharia do Brasileirão 2024 – Série A
- Muito além das resenhas dos fãs
- Artilheiros do Brasileirão em 2023
- Os artilheiros no Brasil
- 10 maiores artilheiros da história do Campeonato Brasileiro
- Era dos Pontos Corridos
- 10 maiores artilheiros da era dos pontos corridos
- A relação com os “garçons”
- A importância dos atacantes artilheiros para um time campeão ao longo dos anos
- Eficiência é chave
- Melhores ataques alcançam melhores posições
- Atacantes do Brasileirão
- Gabriel Barbosa
- Hulk
- Cano
- Gilberto
- Top 10 atacantes mais eficientes do Brasileirão 2021:
- Top 10 atacantes que mais perderam grandes chances no Brasileirão 2021:
- A relevância da análise de desempenho no futebol
- No futebol, nada é tão simples como parece
- O “novo futebol”
- Liverpool e o uso de dados
- Estatística x Imprevisibilidade
- Nem as estatísticas, nem a imprevisibilidade, mas a combinação de ambos!
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Artilharia do Brasileirão 2024 – Série A
Mas antes de começar a análise histórica, vamos a uma informação quente: fique por dentro aqui de quem está brigando pela artilharia do Brasileirão na atual temporada de 2024.
Jogador | Clube | Gols | |
1º | Estêvão | Palmeiras | 12 |
2º | Pedro | Flamengo | 11 |
3º | Hulk | Atlético-MG | 10 |
Luciano | São Paulo | 10 | |
Yuri Alberto | Corinthians | 10 | |
Alerrandro | Vitória | 10 | |
4º | Flaco López | Palmeiras | 9 |
Vegetti | Vasco da Gama | 9 | |
Raphael Veiga | Palmeiras | 9 | |
Lucas Moura | São Paulo | 9 | |
5º | Lucero | Fortaleza | 8 |
Everaldo | Bahia | 8 | |
Wesley | Internacional | 8 | |
Borré | Internacional | 8 | |
6º | Isidro Pitta | Cuiabá | 7 |
Helinho | RB Bragantino | 7 | |
Luiz Henrique | Botafogo | 7 | |
Vargas | Atlético-MG | 7 | |
Alan Patrick | Internacional | 7 | |
Garro | Corinthians | 7 |
Muito além das resenhas dos fãs
Enquanto os torcedores utilizam estes dados para opinar sobre o dia a dia do esporte, os clubes profissionais vão muito além. Atualmente, o tratamento dos dados gerados no esporte é tão essencial quanto a estrutura de centros de treinamento e estádios, e não se limita a comparação entre percentual de posse de bola, finalizações, cruzamentos ou passes certos.
Os clubes modernos precisam manter departamentos estatísticos especializados, que medem cada passo dos atletas e auxiliam técnicos e cartolas em cada decisão, mas boa parte da arquibancada se mantém alheia a tudo isso e aprecia mesmo o resultado, os gols e os títulos, independentemente da forma como são conquistados.
Abaixo trazemos um pouco de história sobre os nossos atacantes artilheiros, curiosidades e informações sobre uso desses dados.
+ Leia também:
– Camarote no Maracanã: saiba como funciona um dos setores mais concorridos do estádio
Artilheiros do Brasileirão em 2023
Veja quem marcou mais gols no Campeonato Brasileiro do ano passado.
Jogador | Clube | Gols | |
1º | Paulinho | Atlético-MG | 20 |
2º | Tiquinho Soares | Botafogo | 17 |
Luis Suárez | Grêmio | 17 | |
3º | Hulk | Atlético-MG | 15 |
4º | Marcos Leonardo | Santos | 13 |
Pedro | Flamengo | 13 | |
5º | Robson | Coritiba | 12 |
Deyverson | Cuiabá | 12 | |
Vitor Roque | Athletico-PR | 12 | |
6º | Mastriani | América-MG | 11 |
Eduardo Sasha | Red Bull Bragantino | 11 | |
Endrick | Palmeiras | 11 | |
7º | Cano | Fluminense | 10 |
Vegetti | Vasco da Gama | 10 | |
8º | Calleri | São Paulo | 9 |
Raphael Veiga | Palmeiras | 9 | |
Thiago Borbas | Red Bull Bragantino | 9 | |
Luciano | São Paulo | 9 | |
Everaldo | Bahia | 9 | |
Enner Valencia | Internacional | 9 | |
Lucero | Fortaleza | 9 | |
9º | Gabriel Pec | Vasco da Gama | 8 |
Bruno Rodrigues | Cruzeiro | 8 | |
Ángel Romero | Corinthians | 8 | |
Yuri Alberto | Corinthians | 8 | |
Cristaldo | Grêmio | 8 |
Os artilheiros no Brasil
Ao longo das últimas décadas, nosso campeonato nacional abrigou grandes atacantes, e alguns dos maiores artilheiros do mundo. Lembraremos sempre dos gols de Roberto Dinamite, Romário, Edmundo, Zico, Dadá Maravilha, Fred e, dentre tantos outros, claro, Pelé.
Se considerarmos apenas o Brasileirão, o Rei marcou 101 gols em 173 jogos (0,58), é hexacampeão e o maior artilheiro em duas edições. E um desses gols tem um destaque especial. Foi justamente no Torneio Roberto Gomes Pedrosa (antigo nome do Brasileirão) que Pelé anotou seu milésimo gol, em 1969, contra o Vasco da Gama, no Maracanã.
No entanto, se enganam os que acreditam ser de Pelé o posto de maior artilheiro da história do Brasileirão. A honra máxima aos goleadores pertence, atualmente, ao maior ídolo do Vasco da Gama, Roberto Dinamite, com incríveis 190 gols em 328 jogos. A média de gols é de 0,58, e o rendeu a artilharia em duas oportunidades, quando faturou o título, em 1974, e quando foi vice-campeão, 1984.
A média é a mesma de Pelé, mas o maior artilheiro da história do Brasileirão jamais marcou em partidas finais, enquanto o Rei deixou a sua marca em TODAS as decisões que jogou, considerando, ao menos, uma das partidas finais do hexacampeonato santista (1961-1965 e 1968) e, ainda, nos vice-campeonatos de 1959 e 1966. Ao todo, o Rei disputou 18 finais, entre jogos de ida e volta e do quadrangular de 68, e marcou 19 gols, em 11 partidas.
Com os poucos e objetivos dados que temos das primeiras décadas do futebol, quem não teve o privilégio de assistir aos jogos dos craques do passado pode mensurar a sua relevância através das contribuições diretas nos gols que se reverteram em conquistas às suas equipes.
10 maiores artilheiros da história do Campeonato Brasileiro
Jogador | Gols | |
1º | Roberto Dinamite | 190 |
2º | Fred | 158 |
3º | Romário | 154 |
4º | Edmundo | 153 |
5º | Zico | 135 |
6º | Diego Souza | 130 |
7º | Túlio Maravilha | 129 |
8º | Serginho Chulapa | 127 |
9º | Washington | 126 |
10º | Luís Fabiano | 116 |
Era dos Pontos Corridos
Se na história do Campeonato Brasileiro, o líder absoluto da artilharia é o ídolo do Vasco da Gama, na era dos pontos corridos – iniciada em 2003 –, o ícone do Fluminense recém aposentado é o maior artilheiro. Levando em conta apenas o formato de pontos corridos, Fred dispara na liderança da artilharia do Brasileirão, com 28 gols de vantagem em comparação ao Diego Souza, segundo colocado na lista – que ainda está em atividade e pode diminuir essa diferença.
10 maiores artilheiros da era dos pontos corridos
Jogador | Gols | |
1º | Fred | 158 |
2º | Diego Souza | 130 |
3º | Gabriel Barbosa* | 111 |
4º | Wellington Paulista | 108 |
5º | Paulo Baier | 106 |
6º | Alecsandro | 102 |
7º | Borges | 99 |
8º | Rafael Moura | 95 |
9º | Luís Fabiano | 85 |
10º | Roger | 82 |
10º | Washington | 82 |
*Em atividade
A relação com os “garçons”
O atacante precisa do passe para finalizar, é fato. E não faltaram “camisas 10” no Brasileirão, principalmente na década de 80. Na seleção que encantou o mundo nas Copas de 82 e 86, os destaques canarinhos eram, sem dúvida, os meio-campistas Sócrates, Zico, Falcão e Cerezo.
E foi justamente nesta época que dois dos maiores artilheiros brasileiros fizeram história. Muito bem servidos em campo, Serginho Chulapa (127/184 – 0,69) e Careca (92/130 – 0,71) foram mortais: titulares na Seleção Brasileira, artilheiros nas edições de 1983 e 1986 do Brasileirão, onde têm, até hoje, as melhores médias de gols por jogos de todos os tempos.
Também nos anos 80, um meia entrou para a lista seleta dos grandes artilheiros do Brasileirão. O “Galinho de Quintino”, camisa 10 da Gávea, Zico, balançou as redes 135 vezes, em 249 jogos (0,54), e foi o artilheiro do Brasileirão em duas edições, quando foi campeão pelo Flamengo em 1980 e 1982. Nas duas edições, assim como no título rubro-negro de 1983, o craque fez a diferença e marcou nas finais contra Atlético-MG, Grêmio e Santos.
A compreensão da relação direta entre a movimentação para a finalização e o momento certo para o passe, fizeram de Zico um dos jogadores mais completos de todos os tempos, por fazer muitos gols, mas também distribuir inúmeras assistências aos seus companheiros. Ao lado de Zizinho, Zico é o terceiro maior assistente da história da Seleção Brasileira, com 32 passes diretos para gols.
Leia também: Os melhores meias do futebol brasileiro: história, estatísticas e análises
A importância dos atacantes artilheiros para um time campeão ao longo dos anos
Muito provável que a maioria dos leitores deste artigo jamais tenham ouvido falar de Léo Briglia. Pois este atacante jogou pelo Bahia no Brasileiro de 59, foi o primeiro artilheiro da história da competição e, de quebra, faturou o título após vencer o Santos de Pelé. Inclusive, tornou-se ídolo em Salvador e os relatos da época alçam Léo ao status de principal responsável pela conquista.
Os seguidos títulos santistas e as artilharias de Toninho, Coutinho e Pelé mantiveram a ligação entre o campeão e o goleador máximo da competição. No entanto, ano após ano, passou a ser cada vez mais improvável que o artilheiro do Brasileirão levantasse a taça. Nos últimos 50 anos, apenas 15 artilheiros foram campeões.
Eficiência é chave
A evolução da organização tática das equipes com mobilidade dos jogadores e trocas de funções, onde atacantes compõem o sistema defensivo e os defensores criam oportunidades, proporciona uma alternância muito maior na conclusão das jogadas. Assim, os atacantes modernos compartilham as oportunidades criadas com os demais companheiros e todo o time marca mais gols, sobressaindo os atacantes mais eficientes na conclusão das jogadas.
Melhores ataques alcançam melhores posições
É natural pensar em abandonar as estatísticas quando o imponderável acontece. Mas os números não mentem. A última década do Brasileirão consolidou os sistemas ofensivos como fundamentais aos campeões e, em 7 edições, o melhor ataque levantou a taça, uma tendência crescente nos anos 2000 (6) e nos anos 90 (6), mas que não se confirmou entre 2007 e 2012. Até que, em 2013, o Cruzeiro restabeleceu a máxima, só contrariada pelo Corinthians de 2017.
Segundo os dados analisados pela equipe Sport Insider, nas edições de 2020 e 2021 do Campeonato Brasileiro, a eficiência dos atacantes que compõem esses sistemas ofensivos ajudou a determinar a posição dos seus times na tabela. Normalmente, não basta que um único jogador seja perfeito e alcance a artilharia do Brasileirão, mas todo o setor de ataque.
Atacantes do Brasileirão
Gabriel Barbosa
Em 2021, pelo terceiro ano seguido, Gabriel Barbosa, o Gabigol, foi um dos mais efetivos, com 18% de chances convertidas em gols, sendo o artilheiro máximo em duas edições (2019 e 2020). Mas também foi o jogador com mais chances claras perdidas: 18 em 2021, 20 em 2020 e 16 em 2019. Tudo isso em apenas 18 jogos disputados na edição de 2021 do campeonato. A média é de 1 chance perdida por partida. Esta estatística, em nossa avaliação, demonstra o volume e a qualidade das chances criadas pelo Flamengo, e não desqualifica a temporada do artilheiro rubro-negro, que fechou a temporada com uma média altíssima de 0,66 gols por jogo.
Hulk
Hulk também foi um dos atacantes mais eficientes do Brasileirão de 2021 (17%). Foi o artilheiro do torneiro (19) e um dos maiores assistentes (7), tendo participação direta em aproximadamente 40% dos 67 gols do Galo. Junto aos seus companheiros de ataque, marcaram 29 gols, com média de 13% de efetividade, mais que todo o time dos rebaixados Sport e Chapecoense.
Marinho (Santos), Luciano (São Paulo) e Galhardo (Internacional)
Marinho pelo Santos (18%), Thiago Galhardo pelo Internacional (23%) e Luciano pelo São Paulo (26%), estiveram entre os principais goleadores do torneio em 2020. Marcaram cerca de 1/3 dos gols de suas equipes e foram fundamentais para levá-las à Libertadores.
Em 2021, Marinho (7%) e Luciano (11%) não repetiram a mágica temporada. E Galhardo, vendido pelo Internacional, não foi substituído a altura por Taison, que anotou apenas 4 gols, em 22 jogos. Como resultado, seus times amargaram posições intermediárias na tabela e, por vezes, estiveram até no Z4.
Cano
A exceção de 2020 seria o argentino German Cano (19%), que apesar da boa efetividade nas finalizações não impediu o rebaixamento do Vasco da Gama. No entanto, os atacantes de Botafogo, Coritiba e Goiás obtiveram médias muito baixas de efetividade, o que certamente contribuiu ao descenso dos times.
Gilberto
Em 2021, quando jogava pelo Bahia, Gilberto converteu 19% das oportunidades em gols, anotando 15 no total. Pelo Grêmio, Diego Souza marcou 10 e atingiu 20% de efetividade. Mas, apesar do bom campeonato em 2021, os dois atacantes não evitaram os rebaixamentos de seus times, que tiveram as piores defesas do campeonato, atrás apenas da Chapecoense, outra rebaixada. Já o Sport teve um dos melhores setores defensivos do campeonato, mas, com o pior ataque do torneio, também caiu para a Serie B em 2022.
Top 10 atacantes mais eficientes do Brasileirão 2021:
(Participação em pelo menos 20 partidas)
Nome | Clube | Eficiência (gols/chutes) | |
1 | Alerrando | Red Bull Bragantino | 23,53% |
2 | Ytalo | Red Bull Bragantino | 21,43% |
3 | Bruno Henrique | Flamengo | 20% |
3 | Diego Souza | Grêmio | 20% |
3 | Élton | Cuiabá | 20% |
3 | Geuvânio | Chapecoense | 20% |
7 | Rodallega | Bahia | 19,35% |
8 | Gilberto | Bahia | 18,52% |
9 | Hulk | Atlético-MG | 16,96% |
10 | Pedro | Flamengo | 16,67% |
Top 10 atacantes que mais perderam grandes chances no Brasileirão 2021:
(Participação em pelo menos 10 partidas)
Nome | Clube | Grandes chances perdidas | |
1 | Gabigol | Flamengo | 18 |
2 | Yuri Alberto | Internacional | 13 |
3 | Gilberto | Bahia | 10 |
4 | Borja | Grêmio | 9 |
5 | Bruno Henrique | Flamengo | 8 |
6 | Deyverson | Palmeiras | 8 |
7 | Ribamar | América-MG | 8 |
8 | Ytalo | Red Bull Bragantino | 7 |
9 | Jô | Corinthians | 7 |
10 | Robson | Fortaleza | 7 |
A relevância da análise de desempenho no futebol
O técnico de futebol que existe em cada brasileiro nos instiga a montar a nossa equipe dos sonhos. Se a oportunidade de montar o elenco do seu time estivesse nas suas mãos, e as finanças não fossem um problema, você seria capaz de garantir títulos e glorias à sua torcida? Claro que não.
Porém, você pode potencializar as chances de sucesso, avaliando as características do elenco atual, a fim de identificar os pontos fracos para então suprir as carências ofensivas e defensivas.
No futebol, nada é tão simples como parece
Vamos supor, então, que você identificou que o seu sistema defensivo é sólido, porque sofreu poucos gols na última temporada e sua deficiência é o ataque, porque marcou poucos.
A solução parece óbvia e você contrata o artilheiro do ano anterior. Problema resolvido? Quem vivenciou as últimas duas décadas do Brasileirão certamente se lembrará de Dill, Dimba, Josiel, Keirrison, William Pottker, Henrique Dourado e, ainda, do Gabigol.
O que esse grupo tem em comum? A artilharia do campeonato e a mudança de ares no ano seguinte, em que, com exceção de Gabigol, todos decaíram nas suas carreiras. Este, aliás, só decolou no Flamengo de Jorge Jesus, que foi certeiro nas contratações de Gerson, Filipe Luis, Rafinha e Pablo Marí. O “Mister” criou o suporte aos seus jogadores, a partir da análise de variáveis que influenciam na eficiência destes.
O “novo futebol”
Os gigantes europeus vão além e mantêm em seus staffs físicos teóricos formados nas melhores universidades do mundo, pesquisadores, matemáticos e programadores das maiores empresas de coleta e manipulação de dados, utilizando novos modelos de avaliação, para aprimorar os processos atuais e criar outros.
A forma tradicional de avaliação, e que está na mentalidade dos torcedores, analisa o resultado, enquanto o “novo futebol” busca entender o porquê de determinada decisão ter sido tomada, quais seriam as alternativas dos jogadores e as chances de evoluírem ao ponto de adotarem a decisão ideal com mais frequência.
Os cientistas, então, identificam determinados movimentos atípicos nos jogadores e, com o uso de sensores, registram sua atuação para compararem com outros players. O resultado pode determinar que tal jogador aprimorou o movimento e, sendo assim, este será replicado a outros jogadores nos treinamentos, ou, na pior hipótese, o próprio atleta deve ser corrigido. Neste nível de análise, os segredos ocultos dos grandes craques, que nem eles mesmos sabem explicar, podem ser desvendados.
De fato, nem sempre os jogadores já formados serão corrigidos, e suas características possivelmente serão irrelevantes a algumas equipes, mas podem ser muito importantes para outras. Afinal, nenhum jogador é artilheiro do Brasileirão por acaso, nem desaprende o futebol de repente.
Liverpool e o uso de dados
Antes de definir uma contratação, os dirigentes modernos já detêm as características fundamentais de jogadores, monitoradas ao longo de partidas e treinamentos, e que agregam diversas estatísticas, criando um mapa digital de sua equipe e das espalhadas pelo mundo. Serão contratados os jogadores que se enquadrarem neste mapa e que poderão proporcionar vantagens em diferentes aspectos.
O Liverpool (ING) é o maior case de sucesso do uso de dados. Jurgen Klopp foi contratado junto ao Borussia Dortmund, quando o time alemão estava na 7ª posição da Bundesliga, e hoje é considerado um dos melhores técnicos do mundo. Roberto Firmino havia sido convocado poucas vezes à seleção brasileira e mantinha uma média baixa de gols por temporada, atuando como meia-atacante.
Nos Reds, o brasileiro classificado pelos analistas como “jogador importante, conectando os companheiros, finalizador, lutador e primeiro zagueiro”, se tornou atacante. Seu número de gols por temporada não aumentou, mas é titular absoluto há anos por sua movimentação, vigor físico e capacidade de roubar bolas, abrindo caminho para Salah e Mané brilharem.
O meia Naby Keitá é outra contratação, no mínimo, curiosa. Também jogava na Alemanha e tinha um alto índice de erro de passes, mas, após anos de monitoramento, o clube inglês concluiu que os erros decorriam da busca por direcionar o time para melhores posições no campo e, mesmo com os erros, as oportunidades da sua equipe cresciam exponencialmente quando ele estava em campo, porque o êxito em poucas tentativas compensava os erros.
A tecnologia qualifica os dados com uma mescla de diversas informações e diferentes fatores, e somente aplicando os dados à realidade e pretensões futuras do clube passam a agregar valor.
Estatística x Imprevisibilidade
Embora seja uma “novidade” no futebol, o uso de dados qualificados ocorre há décadas em outros esportes, principalmente os mais praticados nos Estados Unidos, como na NFL. Apesar de sempre haver espaço ao imponderável em qualquer esporte, alguns são menos fluidos e mais repetitivos, ao contrário da aleatoriedade que marca o futebol.
Ou seja, é possível que a análise de dados seja perfeita e que o seu time caminhe até a final com todos os méritos, crie as melhores chances de gol e se defenda de forma sólida, mas perca o campeonato em um lance de extrema felicidade do seu adversário ou mesmo pela eficiência de um novo gênio do esporte.
Roberto Baggio era o melhor jogador do mundo na decisão da Copa de 94, estava no auge, tinha um aproveitamento de 90% em cobranças de pênalti, mas foi um dos “heróis” do Tetra brasileiro, ao desperdiçar sua cobrança. Rinus Michels revolucionou o futebol, mas a brilhante campanha da Laranja Mecânica de 74 não terminou com o título holandês, assim como as seleções de Telê Santana marcaram 25 gols, sofreram 7, venceram 8 partidas, empataram e perderam 1 vez em 86 e 82, mas não foram campeãs.
Gênios como Romário, Gerd Muller, Paolo Rossi e Michel Platini se encarregaram de alterar paradigmas e mudar o rumo da história.
O Brasileirão não foge disto. Provavelmente o campeonato de 1970 foi um dos mais difíceis da história, pois todos os campeões de 70 estavam presentes, mas o vencedor não foi o Santos de Pelé, o Botafogo de Jairzinho ou o Cruzeiro de Tostão. O atacante Mickey, reserva de Flávio, foi titular apenas nos últimos 4 jogos da competição e fez a diferença a favor do Fluminense, que se classificou e venceu o quadrangular final com um gol por jogo, todos de Mickey.
O Guarani de 78, Corinthians de 90, São Paulo de 2008 e Flamengo de 2009 também são considerados campeões improváveis, apesar de os dois últimos terem elencos fortes naqueles anos, já que os títulos vieram após arrancadas incríveis na reta final.
Nem as estatísticas, nem a imprevisibilidade, mas a combinação de ambos!
Os dados são e têm se mostrado cada vez mais importantes para a construção de uma equipe vencedora. No entanto, sabemos que não há certeza nos esportes. Muito menos no futebol. E é essa “briga” entre estatísticas e imprevisibilidade que faz desse esporte um dos meios de entretenimento mais relevantes do planeta.
Créditos: Estruturação e coordenação por Bruno A. Matos