A análise de vídeo no esporte evoluiu muito desde os tempos em que os técnicos codificavam eventos manualmente com caneta e papel, rebobinando e avançando fitas VHS de qualidade duvidosa em salas mal iluminadas. Atualmente, organizações de elite contam com equipes de analistas de desempenho e cientistas esportivos, que têm acesso a grandes volumes de dados obtidos de sistemas avançados, além de softwares sofisticados para interpretar essas informações e gravações em vídeo de praticamente todos os eventos esportivos do mundo.
Além disso, tecnologias de nuvem e dispositivos móveis avançados permitem que qualquer lugar com conexão à internet se transforme em uma sala de análise. Tanto que os técnicos da National Football League (NFL) utilizam dados e vídeos para ajustar suas jogadas há décadas. Esse processo foi aprimorado em 2013 com a introdução do Sideline Viewing System, que permite o acesso a estatísticas e imagens quase em tempo real em tablets da Microsoft Surface.
Trata-se de uma melhoria significativa em comparação aos tempos em que a NFL distribuía por fax imagens em preto e branco das formações táticas vistas de cima. Contudo, a análise de vídeo no campo ainda é proibida pelas rígidas regras da NFL sobre o uso não autorizado de tecnologia. Os tablets Surface não têm acesso à internet e são configurados e gerenciados pela NFL, que os guarda antes e após os jogos. A liga leva suas regras tão a sério que multou o Wide Receiver (WR) Michael Thomas, do New Orleans Saints, em 30 mil dólares, em 2018, por tirar um telefone das almofadas do poste do gol para comemorar. Assim, coube ao futebol americano universitário — e ao rival da Microsoft, a Apple — levar a análise de vídeo para o campo.
A entrada da Apple no mundo esportivo
Recentemente, três conferências — Atlantic Coast Conference (ACC), Southeastern Conference (SEC) e Big Ten Conference — firmaram acordos com a Apple para usar iPads na análise de vídeos transmitidos ao vivo por emissoras e também por cinegrafistas designados pelas equipes.
Antes da adoção, as preocupações das equipes eram duas: garantir que os tablets fossem visíveis em diferentes condições climáticas, especialmente sob luz solar intensa, e assegurar que os vídeos pudessem ser editados, organizados e marcados rapidamente para uso durante o jogo.
O primeiro requisito foi atendido pelo vidro de textura nano do iPad Pro, que mantém a qualidade de imagem e o contraste em diferentes condições, além de reduzir reflexos. Já o uso de iPads eliminou barreiras técnicas, pois a maioria dos jogadores já estava familiarizada com o sistema operacional.
“Esses jovens cresceram com esses aparelhos nas mãos”, disse Alex Mirabal, técnico de linha ofensiva da Universidade de Miami.
A segunda questão foi resolvida com os fornecedores de software de cada conferência. Na SEC, cinegrafistas independentes filmam a zona final e a lateral, enquanto ângulos adicionais são fornecidos pelo transmissor ao vivo. Um analista de dados marca as jogadas, e a empresa de análises esportivas Catapult organiza os vídeos rapidamente para uso imediato no campo. Já a ACC e a Big Ten trabalham com a DVSport, que fornece um técnico para registrar o jogo, enquanto a equipe da casa oferece as imagens adicionais.
Técnicos e jogadores afirmam que os iPads ajudam a melhorar o desempenho, permitindo que problemas sejam corrigidos durante o jogo e auxiliando no desenvolvimento dos atletas — algo valioso para aqueles que almejam a NFL.
“Antes, havia muitas coisas que só víamos após o jogo. Agora, podemos receber instruções à beira do campo. Quando estamos no campo, o futebol americano é o mesmo. Mas, fora dele, podemos revisar as jogadas, fazer ajustes e voltar ao jogo, o que tem ajudado muito no desenvolvimento dos jovens”, disse Fernando Mendoza, Quarterback (QB) da Universidade da Califórnia, Berkeley.
A introdução dos iPads no futebol universitário não é apenas mais uma etapa na digitalização do esporte, mas também uma evidência do crescente interesse da Apple nesse mercado. Com investimentos nos direitos de transmissão da Major League Soccer (MLS), patrocínio do show do intervalo do Super Bowl e o lançamento de um novo aplicativo esportivo, a empresa agora também participa do desempenho esportivo. Curiosamente, quando a NFL começou a usar os tablets Surface há uma década, eles eram frequentemente descritos como “iPads” ou “dispositivos semelhantes ao iPad”. Agora, a Apple está oficialmente no campo.
Lama mágica mostra que a tecnologia não resolve tudo
Apesar de todas as transformações que a tecnologia trouxe ao esporte, há coisas que ela ainda não consegue replicar. A inteligência artificial (IA) ainda está longe de superar o talento de um gênio com uma bola nos pés, e experiências imersivas não conseguem recriar a atmosfera de estar em um estádio lotado.
A Major League Baseball (MLB) reconheceu cedo o valor dos dados e do streaming ao vivo, mas a tradição é tão importante quanto inovação no “passatempo americano”. Embora a história do beisebol envolva elementos de mitologia, há um aspecto da MLB moderna que permanece analógico: a “lama mágica”, usada em quase 300 mil bolas lançadas a cada temporada para reduzir sua escorregadiça.
Essa lama vem de um fornecedor exclusivo, Jim Bintliff, que a coleta de um local secreto em Nova Jersey. Apesar de esforços para criar uma alternativa sintética, nenhuma foi satisfatória. Recentemente, pesquisadores quantificaram cientificamente as propriedades únicas da lama mágica. Eles confirmaram que ela adere perfeitamente às bolas e melhora o controle, e recomendaram manter o método atual por ser sustentável e eficaz.
Como o The New York Times disse: “A Major League Baseball – uma empresa multibilionária que aplica ciência e análise a quase todos os aspectos do jogo – depende, em última análise, de alguma sujeira geograficamente específica coletada por um aposentado com rabo de cavalo grisalho, tatuagens borradas no braço e uma pá de ponta chata.
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