No fim do mês, a bola rola na competição mais importante do futebol feminino. Vem aí a 9ª edição do torneio, iniciado oficialmente em 1991, e que será disputado pela primeira vez no hemisfério Sul, em sede compartilhada entre Austrália e Nova Zelândia.
O Brasil, que chegou a flertar com uma candidatura para sediar a competição, marcará presença na competição, reafirmando sua posição de ter participado de todas as edições – honraria dividida com Suécia, Alemanha, Nigéria e Estados Unidos. Apesar disso, a seleção brasileira ainda persegue o inédito título, naquela que pode ser a última Copa do Mundo da Rainha Marta, convocada na última semana pela técnica Pia Sundhage.
A concorrência para as brasileiras será pesada. E segundo a simulação do game FIFA – o mesmo que previu a Argentina campeã da Copa do Mundo masculina de 2022 -, o título deve voltar para os Estados Unidos, tetracampeão da competição e atual bicampeão do torneio. E nesse cenário, o Brasil deve cair cedo.
Mas como é futebol e tudo pode acontecer, é melhor se aprofundar na análise para entender mais sobre a competição e discutir se, de fato, as brazucas não tem chance.
GRUPO A
A primeira chave da competição é composta por um dos países-sede, a Nova Zelândia, junto da estreante Filipinas, Suíça e, a campeã de 1995, Noruega.
As donas da casa tiveram um sorteio considerado promissor, mas o retrospecto recente é bem fraco: em 8 jogos disputados nesse ano, um empate e 7 derrotas, com apenas um gol marcado. Apesar disso, existe grande expectativa de que o país lute pela classificação para as oitavas de final.
Já as filipinas, piores do grupo no ranking da FIFA – ocupam a 46ª posição – entram na competição sem grandes perspectivas. É (e deve ser encarado como) um momento de festa para o país, que nunca viu suas seleções participarem de uma competição mundial.
Pela Suíça, as esperanças de passar de fase residem no talento da experiente Ana-Maria Crnogorčević, jogadora do Barcelona, e da jovem Svenja Fölmli. Deve brigar pela classificação à próxima fase.
Favorita do grupo, a Noruega teve uma campanha excelente nas classificatórias para a Copa, incluindo duas vitórias por 10×0 contra Armênia e um 7×0 contra a Albânia. Nos últimos amistosos, um sinal de alerta: derrota para Espanha – com quem podem cruzar já nas oitavas de final – e um empate contra a Suécia. Ainda assim, espera-se que passem sem sustos na fase de grupos. Ada Herberger (Lyon), ex-melhor do mundo, estará no torneio.
GRUPO B
A segunda chave é formada pela outra sede, Austrália, em companhia das atuais campeãs olímpicas, Canadá, além da tradicional Nigéria e a estreante Irlanda.
O grupo das australianas ficou bem mais “puxado” que da vizinha Nova Zelândia, mas é esperado uma boa campanha das donas da casa, sobretudo se a estrela Sam Kerr, artilheira e multicampeã pelo Chelsea, tiver uma performance à altura do seu talento. Vale ficar de olho na prodígio Mary Fowler, atleta do Manchester City, que teve um começo meteórico pela seleção durante a Copa Asiática 2022.
O Canadá entra na competição com boas expectativas. 7ª do ranking da FIFA, elas se intrometeram na lista de países com “pedigree campeão” e brigaram firme pelo título da CONCACAF com os EUA no ano passado. A veteraníssima Christine Sinclair, maior artilheira de seleções do mundo, está na lista de convocadas e irá para sua 6ª edição.
A seleção nigeriana sonha em repetir a campanha de destaque de 1999, quando foi às quartas de final da competição, mas a tarefa é bem complexa. Azarão no grupo, a seleção perdeu as semifinais da Copa Africana de Nações para Marrocos e acabou sem medalha no jogo de terceiro e quarto disputado com a Zâmbia. Na lista de amistosos preparatórios para Copa, pouco a celebrar: vitórias contra Haiti e Nova Zelândia, mas derrotas para EUA, duas vezes, e Japão.
Por fim, a seleção estreante: a Irlanda teve uma campanha boa nas classificatórias europeias, perdendo a primeira posição do grupo para a favorita Suécia, mas garantindo a vaga inédita numa vitória dramática contra a rival Escócia, fora de casa. Capitã e artilheira, Katie McCabe, do Arsenal, é nome para se observar nessa fase de grupos.
GRUPO C
Um grupo que promete ter bons jogos e muitos gols. Formado por Costa Rica, que disputa sua 2ª edição na história, Japão, campeã em 2011, Espanha, time sensação das eliminatórias europeias, e Zâmbia, mais uma estreante no torneio.
A seleção caribenha, quarta colocada no torneio da CONCACAF no ano passado, deve ser figurante no grupo, lutando por um 3º lugar sem um saldo constrangedor. Seu retrospecto recente contra seleções de primeiro escalão é bem negativo e a competição será uma boa oportunidade para ganhar experiência contra times mais prontos.
O Japão chocou o mundo em 2011, ao vencer a favorita seleção americana na final e conquistar sua 1ª (e até hoje única) Copa do Mundo. Após uma campanha esquecível em 2019, as comandadas de Futoshi Ikeda – técnico com longa bagagem de comando das categorias de base japonesa – rejuvenesceram bastante o elenco e tiveram um desempenho encorajador na “SheBelieves Cup”, no início desse ano, perdendo pelo placar mínimo para Brasil e EUA, e vencendo com sobras o Canadá.
A favorita do grupo tende a ser a Espanha. O time da atual duas vezes melhor do mundo, Alexia Putellas, vem pra Copa com uma sequência de 14 jogos de invencibilidade (pode chegar a 16 até o início do torneio) e teve uma campanha histórica nas eliminatórias, somando 8 vitórias e um saldo superior a +50 gols. Apesar disso, o time terá que lidar com um desafio interno, já que boa parte do elenco contesta os métodos do técnico Jorge Vilda e, inclusive, algumas atletas de destaque não figuram na lista de pré-convocação.
Por fim, Zâmbia estreia na competição com a missão de tentar surpreender – mas tomando cuidado para não passar vergonha. Em amistosos recentes contra seleções mais fortes, teve a defesa muito vazada: foram 13 gols sofridos em 3 derrotas. A atleta que mais chama atenção é a capitã Barbra Banda, artilheira da seleção nas Olimpíadas de Tóquio.
GRUPO D
Um grupo que mistura tradição, candidatas à campanha histórica e, claro, mais uma e estreante. Por aqui, teremos a China, vice campeã em 1999, a Inglaterra, seleção de melhor campanha nas eliminatórias europeias, a Dinamarca, e o Haiti.
Atual campeã da Copa Asiática, a China não vive seus melhores dias no futebol feminino: nos últimos amistosos contra seleções europeias, nenhuma vitória; nas Olimpíadas, uma derrota histórica para a Holanda. É possível que uma das seleções mais tradicionais da modalidade não tenha vida longa no torneio.
Isso porque a Inglaterra nunca esteve tão forte. Dono de uma liga rica e muito estruturada, o país vive lua de mel com as leoas, atuais campeãs europeias. Com desempenho histórico nas eliminatórias – incluindo 6 vitórias por 8 gols ou mais -, o time confia que pode, enfim, trazer o título para casa. De lá pra cá, duas baixas importantes: Ellen White, que se aposentou, e a artilheira Beth Mead, lesionada.
A competente Dinamarca teve um 2022 de altos e baixos, sendo eliminada ainda na fase de grupos da Euro. Mas, ano novo, vida nova, e as dinamarquesas vêm de um ano invictas, incluindo vitórias recentes contra Japão e a rival Suécia. Olho na atacante Signe Bruun, do Lyon, e na armadora titular do Real Madrid, Sofie Svava.
Fechando o grupo, as estreantes haitianas devem ser o elo mais fraco. A seleção caribenha se mostrou competitiva contra seleções de um segundo escalão – como Costa Rica e Moldávia -, mas não demonstrou qualquer resistência diante de EUA ou Jamaica. Não importa o resultado, a festa para o país está garantida.
GRUPO E
No grupo E, estão lá: EUA, favorita ao título, Holanda, atual 9ª do ranking da FIFA e vice-campeã em 2019, e fechando o grupo estão Vietnã e Portugal, duas estreantes na competição.
As americanas estão em grande forma: 8 jogos de invencibilidade, incluindo vitórias contra Alemanha, Brasil e Canadá, além de goleadas sobre a Nova Zelândia. A lista de convocadas conta com 9 atuais campeãs, incluindo as estrelas Megan Rapinoe e Alex Morgan. Não se surpreenda, no entanto, se olhar a lista de artilheiras e vir Mallory Swanson e Sophia Smith. Elas estão definitivamente prontas pra lutar pelo penta – e o inédito tricampeonato consecutivo.
A seleção holandesa teve uma baixa muito importante, que deve mexer com suas pretensões de fazer uma campanha histórica: a craque do time, Vivianne Miedema, do Arsenal, sofreu uma lesão séria no joelho e está fora do mundial. A pré-lista divulgada conta com a melhor do mundo em 2017, Lieke Mertens, e a talentosa Jill Record, artilheira no Wolfsburg.
Portugal tem um bom conjunto e mostrou forças para competir em jogos contra times mais prontos, como Japão e Alemanha. A estreia na competição será importante para dar rodagem ao time, que ainda parece cru para saltos mais altos. Diana Silva foi destaque nos jogos preparatórios da Copa.
Por fim, a seleção vietnamita deve ser o saco de pancadas do grupo. As asiáticas foram goleadas por Japão, China e Coreia do Sul na última temporada, e fecharam o ano com uma surra para a França. Esse ano, um amistoso animador contra a Alemanha. Pouco para sonhar com voos mais altos.
GRUPO F
O grupo que tem o Brasil é um dos mais interessantes do torneio. Além da nossa seleção, integram o grupo a França, das seleções mais poderosas do mundo (e que eliminou o Brasil na última Copa), a Jamaica e o Panamá, duas seleções com pouca bagagem internacional, mas com boa evolução na modalidade nos últimos anos.
Comecemos pelo Brasil: a seleção não terá pela primeira vez em muitos anos, nomes super carimbados como Formiga e Cristiane. E mesmo a Rainha Marta, convocada para sua 6ª edição do torneio, já está longe do seu auge. Motivo para desânimo? Nem tanto. Apesar de algumas controvérsias na convocação, o Brasil apostou em uma renovação nos últimos anos e encontrou boas jovens no processo: nomes como Duda Sampaio, Kerolin e Ary Borges, todas com 23 anos ou menos, se juntam a atletas mais consagradas, como Tamires, Debinha e Bia Zanerotto. O desempenho recente da seleção anima e o coletivo parece mais preparado do que em edições anteriores.
No meio do caminho, há a França. Invicta em 2023, a algoz do Brasil em 2019 tem no técnico Hervé Renard a sua principal novidade para o torneio. Comandante da seleção saudita na Copa do Mundo masculina 2022, o treinador não terá as presenças das artilheiras Marie Katoto (PSG) e Delphine Cascarino (Lyon), mas Diani e Geyoro, ambas do PSG, estão na lista, assim como as veteranas Renard (Lyon), Le Sommer (Lyon) e Henry (Angel City). A expectativa é terminar entre as 4 melhores do torneio.
O jogo de abertura da França será contra a Jamaica, que vem para sua segunda edição consecutiva no torneio. Sem muita pressão nas costas, o time liderado por Khadija Shaw (Manchester City) ficou em 3º lugar na competição da CONCACAF, atrás apenas das favoritas EUA e Canadá.
Por fim, mais uma seleção da CONCACAF: o Panamá estreia no torneio, tendo mostrado boa evolução nos últimos anos. Ainda parece muito cedo para brigar por classificação, especialmente considerando a força do grupo, mas amistosos recentes contra seleções sul-americanas, como Colômbia, Chile e Paraguai, mostraram que o jovem time tem um futuro bastante promissor.
GRUPO G
O penúltimo grupo do torneio é encabeçado pela tradicionalíssima Suécia, além de Itália, Argentina e África do Sul. É o único grupo da competição sem seleções estreantes e que promete ter jogos muito equilibrados.
Começando pela 3ª colocada do ranking da FIFA e vice-campeã do mundo em 2003: a Suécia: dentre as não-campeãs, as suecas são a seleção que mais ficou no “quase”. Além do vice-campeonato, são 3 terceiros lugares na Copa e dois vices olímpicos em sequência. Embora não sejam encaradas como as principais favoritas, há um sentimento de que “chegou a hora” para o país. Talento não falta: Stina Blackstenius e Lina Hurtig, ambas do Arsenal, devem liderar o time ao sonhado título.
A seleção italiana teve uma Euro decepcionante em 2022 e fechou o ano em baixa, com várias derrotas em sequência. Desde a virada do ano, a equipe colecionou bons resultados, ainda que contra times mais fracos, e deixou dúvidas sobre o real potencial de fazer uma campanha de fôlego, como foi em 2019. As experientes Girelli (Juventus) e Giacinti (Roma) estão encarregadas de mudar os ânimos por lá.
Em sua 4ª edição do torneio, a seleção argentina aposta que, enfim, vencerá um jogo no torneio – em 3 edições, apenas 2 empates e 7 derrotas. O retrospecto recente anima o país a pensar que é possível, enfim, sair da seca completa na competição. Flor Bonsegundo (Madrid CFF) e Mariana Larroquette foram as destaques nos últimos jogos.
Por fim, a atual campeã da Copa Africana de Nações: África do Sul, que vem para sua segunda edição do torneio. Desde a conquista do título continental, o time africano coleciona derrotas pesadas, incluindo duas goleadas para o Brasil e uma para a Austrália. Hildah Magaia foi a destaque no período.
GRUPO H
O último grupo tem uma das favoritas ao título: a Alemanha, bicampeã mundial (e projetada pelo game FIFA como adversária dos EUA na final dessa Copa). Se nenhuma zebra acontecer, elas devem nadar de braçada nos confrontos contra Marrocos, Coréia do Sul e Colômbia.
Vice-campeã europeia em 2022, as alemãs são as favoritas pra passar no grupo. Lideradas pelas talentosas Lea Schüller (Bayern) e Jule Brandt (Wolfsburg), a seleção sonha em voltar ao posto mais alto do pódio pela terceira vez. Boa parte do grupo que irá a Copa é formado pelo elenco que perdeu a competição continental para a Inglaterra. Dessa vez, com mais bagagem nas costas, a expectativa é ganhar.
A estreante Marrocos apresentou muitos progressos na modalidade, chegando à final da Copa Africana de Nações de 2022 contra a África do Sul. Entre as jogadoras, estão a heroína da classificação, Yasmin Mrabet, e a craque do torneio continental, Ghizlane Chebbak.
Da Ásia, vem a Coreia do Sul em sua terceira participação. O país vive expectativas de, pelo menos, repetir o seu melhor resultado, quando atingiu as oitavas de final na Copa de 2015. A veterana Ji So-Yun é a maior esperança dos coreanos.
Por fim, a segunda melhor seleção sul-americana do ranking da FIFA, as colombianas também sonham com uma campanha histórica. Com um elenco repleto de atletas que jogam na Espanha e também no Brasil, elas esperam que a prodígio Linda Caicedo, do Real Madrid, choque o mundo.
É hora da bola rolar!
A Copa começa no dia 20 de julho, com o confronto entre Nova Zelândia e Noruega, às 4h, horário de Brasília, em Auckland. A seleção brasileira estreia no dia 24, contra o Panamá, às 8h. A final acontecerá exatamente um mês depois, em 20 de agosto, às 7h, no Stadium Australia, em Sydney.
Os jogos serão transmitidos pela Globo, em formato multiplataforma – algumas transmissões selecionadas (jogos do Brasil e final), estarão na TV aberta, enquanto os demais jogos estarão na TV fechada (canais Sportv), internet (GE) e streaming (globoplay). Será a maior cobertura do torneio já vista em solo brasileiro. Outra opção para acompanhar jogos do torneio será na CazéTV, canal do YouTube do streamer Casimiro Miguel, que terá a disposição 24 partidas da competição e um time de especialistas para apresentar o torneio ao seu público.
Agora que a gente já mergulhou um pouco na competição, é só aguardar a hora da bola rolar e torcer juntos pela seleção brasileira em busca do inédito título!
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