Um panorama do futebol brasileiro: oportunidades e tendências

Artigo da Football Benchmark analisa o mercado do futebol brasileiro e o recente desempenho financeiro e operacional dos clubes


Por Redação

28 de agosto de 2024

Um panorama do futebol brasileiro: oportunidades e tendências (Créditos: Nathália Teixeira)

Na última quinta-feira (22), a Football Benchmark (FB), plataforma de dados e análise de dados sobre os negócios do futebol, publicou um artigo dedicado ao panorama atual do futebol brasileiro, que, como aponta a FB, está passando por mudanças que vão moldar a competitividade futura dos clubes brasileiros tanto nacional quanto internacionalmente.

Em seu artigo, o portal abordou os principais desenvolvimentos regulatórios e de mercado que moldam o cenário atual do futebol brasileiro, além de analisar o desempenho financeiro e operacional recente dos clubes nacionais.

Fatores que podem moldar o futuro do futebol brasileiro

Para a Football Benchmark, um ponto de virada significativo para o futebol brasileiro foi a introdução de uma nova estrutura regulatória, a Lei 14.193/2021 aprovada em agosto de 2021, permitindo que clubes de futebol se tornem uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O objetivo principal das SAFs é melhorar a governança e a gestão financeira dos clubes de futebol, atraindo assim novos investidores. Entre outras mudanças legais, o novo regime permite que os clubes transfiram ativos para uma nova entidade livre de responsabilidade, emitam títulos privados e se beneficiem de um regime tributário favorável.

Até o momento, nove clubes brasileiros fizeram a transição para a SAF, com três já recebendo investidores estrangeiros: Botafogo FR (John Textor por meio do grupo Eagle Football), CR Vasco da Gama (777 Partners) e EC Bahia (City Football Group). Confira abaixo a lista completa:

  • Cuiabá — Dresch Family (Brasil) — participação de 100%
  • América MG — América SAF (Brasil) — participação de 100%
  • Vasco da Gama — 777 Partners (EUA) — participação de 70%
  • Botafogo — John Textor (EUA) — participação de 90%
  • Cruzeiro — Pedro Lourenço (Brasil) — participação de 90%
  • Bahia — City Football Group (Emirados Arabes) — participação de 90%
  • Coritiba — Treecorp (Brasil) — participação de 90%
  • Atlético Mineiro — Galo Holding (Brasil) — participação de 75%
  • Fortaleza — Fortaleza EC SAF (Brasil) — participação de 100%

Outro fator extremamente importante para o futuro do futebol brasileiro apontado pelo portal é a próxima venda de direitos de transmissão. O Brasileirão é uma das poucas grandes ligas que ainda adotam um sistema de negociação individual, mas os acordos atuais expirarão em 2024, com uma venda centralizada anunciada para 2025.

Atualmente, dois grupos de clubes das três primeiras divisões — LIBRA e Liga Forte União (LFU) — estão negociando separadamente com investidores e emissoras, diferindo principalmente em seus modelos preferidos de distribuição de receita. O artigo da Football Benchmark ressalta que a forma com que se dará a coexistência desses dois grupos negociando de forma independente pode impacatar a maximização do valor dos direitos de mídia.

Desempenho financeiro

O artigo também salienta que a receita operacional agregada dos clubes da Série A do Brasileiro, excluindo negociação de jogadores e renda extraordinária, testemunhou uma trajetória de crescimento, aumentando em 30% nas últimas cinco temporadas para atingir um recorde de 1,4 bilhão de euros em 2023, apesar do impacto da pandemia. Esse aumento é ainda mais significativo em reais, com um aumento de 63% de 2019 a 2023. 

Como constata a Footbal Benchmark, os principais impulsionadores dessa conquista são a renda do dia do jogo, impulsionada pelos estádios construídos para a Copa do Mundo da FIFA de 2014, e o aumento das receitas comerciais e dos prêmios em dinheiro de competições internacionais.

Evolução do valor da receita operacional agregada do Brasileirão (Fonte: Football Benchmark)

Apesar do Brasileirão ainda estar consideravelmente atrás na comparação entre receitas operacionais médias por clube com as principais ligas europeias (Premier League, La Liga, Bundesliga, Ligue 1 e Serie A), a liga brasileira demonstrou um potencial de crescimento ressaltado pelo portal. 

Nas últimas cinco temporadas, o crescimento da receita da liga brasileira de 30% superou todas as ligas europeias, que viram as taxas de crescimento variarem de 13% para a Série A italiana a 26% para a Ligue 1. Para a Football Benchmark, essa trajetória de crescimento destaca o potencial do mercado de futebol brasileiro como um terreno fértil para retornos substanciais de investimento. Uma vez que os investidores podem encontrar oportunidades significativas em um mercado dinâmico e em rápida evolução, que mostra sinais promissores de possivelmente diminuir a diferença para as ligas europeias.

Análise dos clubes brasileiros

O artigo destaca o Flamengo como o clube brasileiro de melhor desempenho financeiro, com quase 200 milhões de euros em receitas operacionais para a temporada de 2023, impulsionadas principalmente pelo crescimento substancial da receita comercial e conquistas no cenário internacional. Além de ressaltar Palmeiras, Corinthians e São Paulo como os únicos outros clubes brasileiros a ultrapassar o limite de 100 milhões de euros em receitas, enquanto 11 clubes ultrapassaram 50 milhões de euros em 2023.

Além de ressaltar que a diferença de receita com os clubes de elite europeus continua considerável, a Football Benchmark também aponta que há um desequilíbrio de receita notável entre os próprios clubes brasileiros, com uma proporção de 12x entre os clubes com maiores e menores receitas operacionais na primeira divisão nas últimas cinco temporadas. Em comparação, a Premier League, frequentemente vista como um modelo de melhores práticas, teve uma proporção de 5,1x na temporada 2022/23.

Os clubes brasileiros com maiores receitas operacionais em 2023 (Fonte: Football Benchmark)

Considerando todos os custos da receita bruta, incluindo negociação de jogadores e receitas extraordinárias, o artigo aponta que os clubes brasileiros têm mostrado uma tendência positiva significativa. Desde 2019, o desempenho agregado tem melhorado consistentemente, culminando em um lucro líquido agregado de 213 euros milhões em 2023.

No entanto, esse número é fortemente influenciado pela receita total única de 239 milhões de euros da venda de direitos de transmissão futuros pela LFU, já contabilizada por alguns clubes em 2023. Sem essa fonte extraordinária de receita, o resultado líquido agregado teria visto um prejuízo líquido de EUR 25 milhões.

Comparado às cinco principais ligas europeias, o resultado líquido agregado dos clubes brasileiros fica atrás apenas do lucro de 251 milhões de euros registrado pelos clubes da La Liga, impulsionado em grande parte pela renda extraordinária do FC Barcelona de 793 milhões de euros com a venda de mais 15% de seus futuros direitos de mídia doméstica para a Sixth Street. Para a Footbal Benchmark, isso destaca a resiliência e o potencial do futebol brasileiro, que se posiciona como um mercado atraente para investimento e crescimento.

Olhando para o futuro

Após apresentar os valores mencionados acima, o artigo da Football Benchmark ressalta como o fluxo de recursos de novos investidores impulsionados pelas SAFs e a próxima venda de direitos de mídia provavelmente vão fortalecer o domínio brasileiro na América do Sul e melhorar o posicionamento global do mercado brasileiro contra mercados emergentes como a Saudi Pro League e a MLS, além de potencialmente diminuir a lacuna com as cinco grandes ligas da Europa.

Segundo a plataforma de dados e análise de dados sobre os negócios do futebol, investidores podem se beneficar do mercado de futebol brasileiro, que além de possuir fãs apaixonados e uma das maiores fábricas de talentos do mundo, ainda pode oferecer oportunidades significativas de crescimento e potenciais ganhos de capital – mas sem esquecer dos desafios associados à reestruturação das dívidas acumuladas dos clubes brasileiros e à melhoria dos padrões de governança.