Diante do constante avanço da tecnologia nos últimos anos, a análise de dados tem se tornado cada vez mais popular no mundo esportivo, com uma crescente aplicação do método em diversos setores, desde a contratação de jogadores até a venda de ingressos. Uma das referências do setor no mercado esportivo brasileiro, a Stadiumetric é uma empresa especializada na aplicação de inteligência analítica para o desenvolvimento de produtos e serviços de clubes esportivos, federações, ligas e arenas.
Com cerca de oito anos de existência, a Stadiumetric já trabalhou com alguns dos principais clubes de futebol do país, proporcionando adequações e melhorias na venda de produtos fundamentais para a saúde financeira dos clubes, como ingressos para jogos e planos de sócio torcedor. A atuação da empresa é baseada em sugerir estratégias personalizadas, elaboradas por meio dos resultados obtidos pela coleta e análise de dados, direcionadas especificamente para compreender o momento em que o clube se encontra e impulsionar o seu crescimento.
Origem da Stadiumetric
Sócios-fundadores e cientistas de dados da Stadiumetric, Rodolfo Ribeiro e Paulo Zago se conheceram por meio de um “estreitamento de pesquisa”, como relembra Rodolfo. “Na época em que estava fazendo doutorado de administração na USP, eu conheci uma pessoa ligada ao Palmeiras, que me falou que tinha um rapaz na diretoria de planejamento estratégico do clube que ‘falava a minha língua’. Então a gente começou a trocar algumas ideias”, relata.
Quando Paulo deixou o cargo na diretoria do Palmeiras, a dupla decidiu oferecer aos clubes brasileiros uma consultoria para decisões mais racionais e amparadas em dados. Desde então, a Stadiumetric evoluiu bastante, começando a oferecer a aplicação de modelos de análise de dados não só em fontes de arrecadação, como bilheteria, conteúdo original do clube, contratos comerciais e produtos licenciados, mas também em alocações de recursos muito representativas para um clube, principalmente as decisões de contratação ou venda de atletas.
“Hoje, com os sistemas disponíveis, existem plataformas de dados em que você pode comprar esses dados e mapear o desempenho e todas as características de um atleta de uma forma muito rápida”, explica Rodolfo. “Em alguns minutos, você consegue mapear todos os atletas das principais ligas do planeta.”
Desafios do mercado brasileiro
Apesar da evolução na disponibilidade de dados e no cenário tecnológico nos últimos anos, o setor de análise de dados ainda enfrenta alguma resistência no mercado brasileiro. De acordo com Rodolfo, a quantidade de dados disponíveis atualmente é muito maior do que no início dos anos 2000, com a internet proporcionando uma facilidade muito maior para angariar dados. Porém, ainda existem ressalvas sobre o quanto isso é efetivamente utilizado em todas as potencialidades dentro do esporte.
“Em alguns parâmetros, acho que caminhou bastante, o pessoal utiliza bem, mas, em outros, estamos engatinhando ainda, por uma série de questões. Acho que desde restrições orçamentarias até mesmo restrições de interpretação, devido a um certo preconceito com dados”, afirma o sócio-fundador da Stadiumetric. “Acho que parte do preconceito que existe em trabalhar com dados passa por uma valorização muito grande da intuição, de achar que vai ser aquela pessoa que vai ver algo que mais ninguém está vendo.”
Os benefícios da análise de dados
O cientista de dados salienta que a intuição nunca vai ser totalmente eliminada de um processo decisório, mas a disponibilidade de dados e as metodologias de análise desses dados que existem atualmente são um suporte para a tomada de decisões mais racionais. Para ele, dados devidamente estruturados e bem analisados podem ajudar a sair de um ciclo vicioso de decisões intuitivas equivocadas.
“Na grande maioria dos clubes, quando liberam os seus relatórios financeiros, há uma piora em diversos indicadores de liquidez financeira. Acho que isso é um efeito acumulativo de muito tempo tomando decisões muito intuitivas, acreditando que uma hora vai acertar e reverter toda uma tendência negativa que já se arrasta há muito tempo”, constata Rodolfo.
Atuação no mercado futebolístico
Em sua trajetória de quase uma década, a Stadiumetric já participou de várias decisões voltadas para a definição de preços de ingressos, que é a principal zona de atuação da empresa, principalmente pelo fato dessa ser a fonte de receita dos clubes mais fácil de ser gerenciada. Enquanto outras fontes de receita, como direitos de transmissão e patrocinadores, são normalmente estipuladas em contratos mais longos e sem espaço para mudanças, a bilheteria é uma das receitas comerciais de melhor gestão em curto prazo, que possibilita um incremento de resultado.
“O preço do ingresso avulso e o plano de sócio torcedor se relacionam de alguma forma e existe metodologia para interpretar isso e tomar melhores decisões, não só de precificação do plano de sócio, como também dos ingressos. A questão é conhecer os riscos que cada uma dessas decisões vai fazer você enfrentar”, explica Rodolfo, sobre o processo conhecido como “precificação dinâmica.”
Segundo o sócio fundador da Stadiumetric, esse processo é baseado em uma análise de todas as variáveis que compõe cada jogo, como o dia e o horário da partida, o campeonato disputado e os desempenhos do time mandante e do adversário no torneio. “Na parte da bilheteria, a gente tem casos em que as decisões de aumentar 20% a 30% o valor de um determinado ingresso fez com que o clube batesse recorde de bilheteria. Em alguns casos, o clube detém esse recorde até hoje nas bilheterias nacionais.”
Cases de sucesso da Stadiumetric
Entre os principais clubes do futebol brasileiro em que a Stadiumetric já atuou estão o São Paulo e o Fortaleza. Em maio de 2015, uma matéria do jornal O Estado já ressaltava o êxito do trabalho junto à diretoria do Leão, que alavancou o número de sócios torcedores. Intitulado ‘Leões do Pici’, o programa lançado em 2015 oferecia mais parceiros e mais vantagens ao torcedor, além de atender às suas principais solicitações, como inserir novas opções de pagamentos aos associados. Nos primeiros dias de adesão, o programa alcançou a marca de 240 novos associados, se destacando, na época, como o maior do Brasil em número de novos sócios.
Já o trabalho desenvolvido junto à diretoria do São Paulo se tornou tema de uma reportagem da Folha de S. Paulo, em maio de 2019. Em entrevista exclusiva ao jornal, o então diretor financeiro do clube, Elias Barquete Albarello, ressaltou a importância da contratação da empresa para estudar as variáveis que influenciam na precificação dos ingressos. “No ano passado, antes da Copa (do Mundo de 2018), nós estávamos com um tíquete médio muito baixo, cerca de R$ 20. A partir do segundo semestre, a gente contratou uma empresa, a Stadiumetric, que desenvolveu um modelo de precificação dinâmico.”
Oportunidades crescentes no mercado
Além das receitas de bilheteria e planos de sócios torcedores, ainda existem outras áreas de atuação no mercado esportivo brasileiro em que a Stadiumetric pretende se desenvolver. Uma delas é a elaboração de modelos de contrato mais eficientes entre jogadores e clubes de futebol. Para Rodolfo, a extensa disponibilidade de dados sobre o desempenho dos atletas possibilita que os clubes tenham mais eficiência em sua maior fonte de despesas: a folha salarial dos jogadores profissionais.
“Dá para pensar em contratos de remuneração para o atleta muito mais eficientes, que façam ele entregar o máximo do potencial dele, para trabalhar o seu desempenho de uma forma mais justa e obter uma maior eficiência na locação de despesas, justamente na principal despesa dos clubes, que é a remuneração de atletas. A gente olha para isso e entende como uma baita oportunidade de mercado”, ressalta o cientista de dados.