A Sociedade Anônima de Futebol do Clube Atlético Mineiro iniciou o processo para captação de R$ 105 milhões, na primeira emissão de debêntures por um clube empresa de futebol no Brasil. O investimento renderá ao investidor CDI (Certificado de Depósito Interbancário) mais 3,5% ao ano com vencimento em 2027.
O objetivo do clube no curto prazo é quitar parte das dívidas, e no médio e longo prazo, o aporte financeiro será relevante para alongar o perfil da dívida. Dessa forma, o clube evita a necessidade de fazer pagamentos referentes às dívidas no curto prazo, o que possibilita maior flexibilidade financeira.
A SAF do Atlético-MG começou em julho de 2023 e, na época, já contava com R$ 2,1 bilhões em dívidas, contabilizando a Arena MRV. Em novembro do ano passado, o clube recebeu um aporte de cerca de R$ 913 milhões, além de um outro aporte de R$ 200 milhões em maio deste ano, este último já associado à estratégia de captação via debêntures. Atualmente, a dívida se encontra em R$ 1,4 bilhão, valor extremamente alto quando comparado com outros clubes, já que apenas Corinthians e Botafogo contam com dívidas superiores.
O que são debêntures no mercado financeiro
As debêntures são títulos de dívida que geram um direito de crédito ao investidor. Empresas com dívidas e que buscam reestruturação financeira podem utilizar desse meio para captação de recursos de investidores. As empresas emissoras podem, inclusive, explicitar em quais projetos os recursos serão alocados para maior transparência e atração do investidor.
As debêntures são emitidas por sociedades anônimas para financiar novos projetos ou para quitar as dívidas, como mencionado. Sua emissão é uma estratégia de substituição aos empréstimos e permite o alongamento do perfil da dívida da empresa. Além disso, as debêntures incentivadas têm o benefício da isenção de imposto de renda, o que certamente atrai mais investidores.
O que são debêntures no futebol
No contexto do futebol, as “debêntures-fut” são um tipo específico de debêntures de acordo com a lei das SAF’s, de 2021. Mesmo assim, nenhum clube utilizou de tal artifício além do Atlético-MG, que foi o pioneiro. Historicamente, o contato entre clubes de futebol do Brasil e o mercado financeiro era quase que exclusivamente através de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
Na lei das SAF’s, estava previsto que as debêntures-fut seriam isentas de imposto de renda para pessoa física, como ocorre com algumas debêntures do mercado financeiro. No entanto, isso não ocorreu e gerou certa frustração do mercado, tendo em vista que a isenção permitiria que os próprios torcedores do clube pudessem contribuir com o investimento, mesmo que isso signifique uma rentabilidade menor. Agora, sem a isenção de imposto de renda, surgiram algumas dúvidas sobre a aceitação do modelo pelos investidores profissionais, que são o grupo alvo e restrito às debêntures-fut, ou seja, somente investidores profissionais são aptos a realizar o investimento, conforme norma da Comissão de Valores Imobiliários (CVM).
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Efeitos sobre as dívidas do Atlético-MG
Como já mencionado, as dívidas totais do Clube Atlético Mineiro somam R$ 1,4 bilhão, mesmo depois de se tornar uma SAF. Isso ocorre pois as dívidas permanecem com a Associação, sendo a SAF a responsável por contribuir com os pagamentos. Mesmo o montante sendo um alto valor para o futebol brasileiro, por meio das debêntures o clube busca reduzir o valor atual para R$ 1,2 bilhão até o final do ano. Vale ressaltar que o valor mencionado de captação dos R$ 105 milhões ainda não foi arrecadado e depende dos resultados dos investimentos.
A iniciativa do Atlético-MG marca o que pode ser uma nova forma dos clubes-empresa de contornar os altos valores em dívidas contraídas por gestões anteriores. De qualquer forma, o caminho mais lógico a ser seguido pelos clubes que buscam uma reestruturação financeira e consequente redução na dívida é redução de gastos e aumento de receitas. Neste caso, as debêntures contribuem para um aumento importante na receita anual do clube, que certamente será relevante para contribuir com a redução das dívidas.
Pelo panorama recente, uma redução nos gastos não está nos planos do Atlético-MG, pelo menos não no futebol. Os altos valores investidos na contratação e salários de jogadores revelam que essa não é a estratégia do clube. Dessa forma, o capital proveniente das debêntures torna-se ainda mais importante na redução das dívidas, já que não haverá possivelmente uma redução de gastos.