O impacto dos estaduais no calendário do futebol brasileiro

Com 16 datas, os estaduais são a segunda competição mais longa do calendário nacional


Por Poli Sports Business

6 de março de 2025

Parceria Editorial

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O calendário divulgado pela CBF para 2025 já levanta diversas preocupações. O primeiro problema evidente é a ausência de datas para a Copa Intercontinental, que, se mantida nos moldes previstos, exigiria de um a três jogos do campeão da Libertadores. Isso significa que a CBF precisará remanejar datas ao longo da temporada para encaixar esses confrontos ou o clube envolvido terá que lidar com um acúmulo ainda maior de partidas em um calendário já sobrecarregado.

Outro ponto crítico é o curto período de descanso para os jogadores. Com apenas 20 dias entre o fim do Brasileirão (21 de dezembro) e o início dos estaduais (12 de janeiro), os atletas terão menos do que os 30 dias de férias garantidos por lei. Isso sem contar o tempo necessário para a pré-temporada, que inclui testes físicos, treinamentos táticos e amistosos preparatórios.

Enquanto clubes europeus aproveitam esse período para ajustes técnicos, turnês internacionais e fortalecimento de suas marcas, no Brasil, os times acabam abrindo mão das primeiras rodadas dos estaduais para realizar esses compromissos. Isso enfraquece ainda mais os estaduais, competições que já vêm perdendo prestígio há anos.

A baixa atratividade financeira dos estaduais

Com exceção do Campeonato Paulista, os estaduais têm pouca atratividade financeira para os grandes clubes. O Flamengo é um exemplo claro disso: em 29 jogos do Campeonato Carioca entre 2022 e 2023, o clube lucrou apenas R$3,1 milhões, uma média de R$100 mil por partida. No mesmo período, em 38 jogos do Brasileirão, o lucro foi de R$35 milhões, cerca de R$920 mil por jogo — um valor nove vezes maior.

Mesmo considerando os R$22 milhões em cotas de transmissão, a ausência de premiação torna o Campeonato Carioca financeiramente desfavorável. O valor arrecadado na competição não cobre sequer um mês da folha salarial do clube, que gira em torno de R$28 milhões. Para minimizar esse problema, o Flamengo encontrou uma solução parcial: a venda de mando de campo. Na edição de 2025, o clube realizou quatro partidas no Nordeste, aumentando sua arrecadação.

Com essa estratégia, o Flamengo obteve um lucro de R$4,4 milhões apenas na primeira fase do torneio, superando os anos anteriores. Em contrapartida, Fluminense e Botafogo, que não adotaram a mesma tática, tiveram prejuízos estimados em R$800 mil e R$600 mil, respectivamente. Esse cenário torna ainda mais irônico o atual modelo do Campeonato Carioca: para que seja financeiramente viável, ele precisa ser disputado fora do Rio de Janeiro.

Além disso, há um fator essencial nessa equação: as federações estaduais. Enquanto os grandes clubes acumulam prejuízos, a FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) registrou uma arrecadação acima do esperado, atingindo R$ 2,8 milhões, dos quais R$ 1,3 milhão foi proveniente do Flamengo — cerca de 30% do que o próprio clube arrecadou com a competição.

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O entrave político para mudanças no calendário

Diante desse cenário, os estaduais tornam-se um alvo fácil para aqueles que defendem a redução do calendário. No entanto, há um motivo forte para a manutenção dessas competições: a política.

As federações estaduais representam a base de sustentação da CBF. Na eleição para presidente da entidade, cada federação tem peso 3 na votação, totalizando 81 dos 141 pontos possíveis — uma influência decisiva no pleito.

Esse modelo político gera uma contradição que impede a redução ou extinção dos estaduais. Como essas competições são a principal fonte de arrecadação das federações, qualquer mudança drástica seria extremamente impopular entre elas. Além disso, uma reformulação dos estaduais poderia desencadear uma troca de poder na CBF, algo que os ocupantes dos cargos mais altos da entidade certamente desejam evitar.

Sem um movimento conjunto de clubes e jogadores por mudanças estruturais no calendário, resta apenas esperar a já anunciada bagunça caso um clube brasileiro se classifique para a Copa Intercontinental — o que ocorreu nos últimos seis anos. Se isso acontecer novamente, será preciso adiantar e adiar rodadas do Brasileirão, e não seria surpreendente se o campeonato terminasse apenas em 2026.