O Football tomando o lugar do Futebol Americano

Muito além do interesse; NFL busca globalizar a sua marca e aumentar a prática do Futebol Americano no mundo


Por Cassio Bagnoli

21 de outubro de 2024

Parceria Editorial

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É inegável que o futebol americano e sua principal liga, a NFL (National Football League), já consolidaram o seu domínio no mercado norte-americano. Desde os contratos milionários dos jogadores até a enorme audiência televisiva e os estádios lotados; fizeram do esporte um verdadeiro fenômeno nos Estados Unidos. O Super Bowl, a grande final do campeonato, é um evento tão poderoso que seus espaços publicitários são disputados a preços astronômicos. Com tamanho sucesso no cenário doméstico, a NFL já conquistou o topo do mercado esportivo americano, tornando-se a liga mais rentável e popular do país.

No entanto, para continuar crescendo, a liga precisa expandir seus horizontes e atingir novos mercados. Este é o grande desafio para os próximos anos: levar o futebol americano além das fronteiras da terra do Tio Sam. A estratégia da NFL já está em andamento, com a realização de jogos em outros países, a criação de escritórios internacionais e programas de desenvolvimento voltados para popularizar o esporte ao redor do mundo. O objetivo agora é conquistar novos públicos e transformar o futebol americano, no football.

Jogos Internacionais

As partidas internacionais promovidas pela NFL não são uma novidade. Elas ocorrem há muito tempo, até mesmo antes da formação oficial da liga, que surgiu na década de 1970 a partir da fusão de duas ligas esportivas. Toronto, no Canadá, foi a primeira cidade a receber um jogo, ainda nos anos 1920, aproveitando sua proximidade com os Estados Unidos.

Ao longo dos anos, outros países como a Austrália, Irlanda, e Suécia, também foram palco de algumas partidas entre os times da liga, embora esses eventos tivessem caráter de exibição e serviam principalmente para divulgar o esporte. Contudo, o protagonismo dos jogos ficou direcionado ao Japão e a Alemanha, que sediaram diversos jogos entre as equipes da liga nos anos 1990, tornando-se mercados estratégicos e essenciais para a NFL na época.

O primeiro jogo de temporada regular fora dos EUA aconteceu apenas em 2005, na Cidade do México. O lendário Estádio Azteca recebeu Arizona Cardinals e San Francisco 49ers, em uma partida que atraiu mais de 100 mil pessoas. Esse marco impulsionou o projeto de internacionalização da NFL, consolidado com a entrada de Londres no calendário fixo de jogos da temporada regular desde de 2007.

Mais recentemente, a Alemanha retomou sua posição de destaque sediando partidas nas cidades de Munique e Frankfurt. Além da entrada do Brasil no mapa da NFL, com a realização da primeira partida em território brasileiro, em setembro, na Neo Química Arena, em São Paulo. O jogo entre Green Bay Packers e Philadelphia Eagles, levou quase 48 mil pessoas para o estádio, e teve os seus ingressos esgotados em poucas horas. Além disso, o evento contou com a participação de 14 marcas de forma ativa, e gerou mais de R$ 300 milhões para a cidade.

Diante do sucesso dessas iniciativas, a expectativa é de que o número de excursões ao exterior aumente para os próximos anos. A Espanha já está confirmada para receber uma partida da temporada em 2025, enquanto Brasil e Austrália intensificaram o interesse e as propostas para que outros jogos internacionais possam acontecer no hemisfério sul.

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Escritório no Brasil e Jogos Olímpicos

As iniciativas da NFL vão além do campo e têm como objetivo fortalecer a presença da liga em mercados internacionais. Recentemente, a entidade abriu um escritório em São Paulo, com a liderança do mexicano Luís Martinez, que já tinha experiência na organização de partidas internacionais em seu país natal e foi fundamental para trazer o primeiro jogo oficial ao Brasil. Esse novo escritório segue o modelo da filial alemã, que opera há alguns anos e ajudou a expandir a popularidade do futebol americano na Europa.

O mercado brasileiro é uma das prioridades da NFL. Segundo dados da própria liga, e do Ibope Repucom, o país conta com cerca de 40 milhões de fãs da modalidade – a terceira maior base de torcedores no mundo – obtendo um crescimento superior aos 300% nos últimos dez anos. Tais dados foram importantes para atrair os times Miami Dolphins e New England Patriots, na aquisição de direitos de marketing no país. Além disso, a NFL tem investido em eventos como a NFL Run e a NFL Experience para engajar ainda mais o público local. Esses eventos fazem parte de uma estratégia maior de criar laços duradouros com os fãs brasileiros e massificar a presença da liga em terras tupiniquins.

Outro aspecto importante é o comércio de produtos licenciados que que registrou um aumento de 16% na venda de camisas entre o primeiro semestre de 2023 e 2024. Contudo, o dado mais revelador foi o crescimento na venda de bolas de futebol americano no mesmo período, ultrapassando os 174%. Esse é um dado importantíssimo para a liga, que pretende massificar a prática esportiva do esporte através da sua modalidade mais recente, o Flag Football.

O Flag Football também está em destaque em um cenário mais amplo, a disciplina será uma das novidades dos próximos Jogos Olímpicos, em Los Angeles 2028. A inclusão do esporte é uma oportunidade de ouro para a NFL ampliar sua visibilidade global e fortalecer sua marca em mercados emergentes, através da visibilidade proporcionada pelo evento.

Programa de Desenvolvimento

Desde 2017, a NFL implementou o International Player Pathway (IPP), um programa de desenvolvimento voltado para atletas estrangeiros, com o objetivo de aumentar a presença internacional na liga e facilitar o ingresso desses jogadores na liga norte-americana. Juntamente com um grupo de scout, a NFL promove a captação de talentosos atletas globalmente, muitos dos quais têm experiência em esportes semelhantes, como rugby e futebol australiano. Esses atletas são expostos aos facilities da liga, como campos de treinamento, técnicos de futebol americano, e contato direto com as equipes e decisores na contratação de atletas.

Neste ano, a liga adicionou novas regras em seu projeto de classificação de jogadores internacionais. Para ser considerado elegível, o atleta precisa ter uma cidadania estrangeira (fora dos Estados Unidos e Canadá), e possuir como residência principal um local no exterior. Além disso, o jogador deve ter no máximo 24 anos; máximo de dois anos de experiência no esporte durante o ensino médio (high school) – especialmente para aqueles que aspiram ser selecionados no draft – e não podem ter disputado partidas nos torneios universitários. Outra novidade é o início de prospecção de atletas que queiram fazer parte dos special teams (como punters e kickplacers), que frequentemente recrutam talentos de outros esportes.

Os clubes que aderem ao programa recebem incentivos da liga. A partir de agora, eles poderão aumentar o número de atletas em suas equipes de treinamento, com uma vaga reservada para um jogador internacional; e podendo alça-los ao time principal por até três vezes na temporada. Além disso, os times ganham uma exceção no limite de sessões de treinamento para aprimorar o jogador escolhido. As equipes também estão liberadas para fazer o próprio trabalho de detecção de talentos, uma prática que já está sendo amplamente utilizada por diversas franquias.

Até o momento, cerca de 40 jogadores já foram recrutados pelos mais variados times da liga, através do programa, seja por meio do draft ou como agentes livres. Destaque para Reino Unido, Nigéria e Austrália, entre os países que mais tiveram atletas recrutados. O Brasil também contou com a participação de um jogador, Durval Queiroz, que chegou a assinar com o Miami Dolphins, em 2019. Esse programa é parte de um projeto mais amplo e ambicioso de expansão global da NFL, que pode, futuramente, culminar na criação de ligas internacionais dedicadas ao esporte.

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