O fim da parceria entre Adidas e Alemanha: causas e consequências

Entenda o que o novo acordo da Alemanha com a Nike diz sobre a saúde financeira das principais marcas de roupas esportivas do mundo


Por Redação

5 de abril de 2024

O fim da parceria entre Adidas e Alemanha: causas e consequências (Foto: Steffen Prößdorf)

Muitas pessoas ao redor do mundo foram apanhadas de surpresa quando a Federação Alemã de Futebol (DFB) anunciou por meio de um curto comunicado de imprensa de quatro parágrafos que a empresa norte-americana Nike substituiria a sua rival alemã Adidas como fornecedora oficial de uniformes das suas seleções nacionais a partir de 2027 até a temporada de 2034.

De todos os detalhes que surgiram e que estão sendo debatidos sobre o inesperado e histórico acordo de oito anos, há um detalhe fundamental para se manter em mente: com uma oferta no valor de 100 milhões de euros por ano, a Nike estava preparada para pagar quase o dobro do que a Adidas estava oferecendo para continuar a parceria.

Timing ideal para a Nike vencer a Adidas

A Nike já havia tentado “roubar” o fornecimento do uniforme da seleção alemã da Adidas e, em 2007, fez à DFB uma oferta no valor de US$ 500 milhões ao longo de oito anos. Mas o órgão dirigente do futebol alemão manteve-se ferozmente leal à Adidas, proibindo até mesmo os jogadores patrocinados pela Nike de usarem as chuteiras da empresa enquanto representavam a seleção nacional no início dos anos 2000.

No entanto, o fraco desempenho da equipe masculina nos últimos torneios internacionais significa que o futebol alemão não está numa posição tão forte como estava naquela altura. A DFB foi bastante franca ao dizer que o valor expressivo da oferta da Nike foi a principal motivação para fazer a mudança, com o seu tesoureiro a enfatizar que a federação pode agora olhar para “um futuro financeiramente estável novamente”.

Ainda assim, a revolta contra o novo acordo de fornecimento da DFB foi tão grande que a entidade se sentiu compelida a publicar uma sessão de perguntas e respostas em seu site, que explicava que a federação havia conduzido um processo de licitação transparente e se apoiava fortemente no fato de apoiar financeiramente seus 7,3 milhões de membros – em vez de serem financiados por eles.

Na verdade, se colocarmos a nostalgia, o legado e a tradição de lado, faz todo o sentido comercial que a DFB aceite uma oferta que duplica o que recebe no âmbito do seu acordo atual – quer a sua justificação altruísta seja genuína ou não.

Outro fator que deve ser levado em consideração é a saúde financeira da própria Adidas, que passou os últimos anos enfrentando consequências do fim da sua parceria com o rapper Kanye West e as implicações que isso teve nas vendas da sua lucrativa linha Yeezy. Depois de reportar um declínio de 7,6% nas receitas e uma perda líquida de 58 milhões de euros no exercício financeiro de 2023, duplicar a sua taxa anual para a DFB poderia ter sido um luxo que a Adidas não poderia se permitir.

Essa coincidência de fatores criou a tempestade perfeita para a Nike tirar partido – uma federação que precisava de mais dinheiro e um rival que não estava em condições de corresponder a uma grande oferta.

Revolta alemã

O problema do esporte é que não se pode simplesmente deixar o legado, a tradição e a nostalgia de lado. A Adidas é parceira da DFB desde a década de 1950 e tem sido sinônimo do sucesso das seleções nacionais masculina e feminina da Alemanha, que ostentaram o logotipo da empresa durante 14 triunfos em Copas do Mundo e Campeonatos Europeus.

Em muitos aspectos, a longevidade do relacionamento da Adidas com a DFB significa que as três listras da marca estão tecidas no futebol alemão – literal e figurativamente. À primeira vista, a empresa parece ter perdido um contrato que nunca deveria perder.

Além disso, a Adidas é uma história de sucesso alemã e estabeleceu-se como uma das marcas mais reconhecidas do país, ao lado de fabricantes de automóveis como a Mercedes-Benz e a Volkswagen. No setor de roupas esportivas – e principalmente em roupas e equipamentos de futebol – é uma das duas empresas que dominam o mercado globalmente.

Para a Nike, a sua maior rival, cortar essa relação era, portanto, impensável até à semana passada. No mínimo, é a maior demonstração de força da Nike, cujo presidente-executivo, John Donahoe, disse que o acordo provou que “ninguém pode nos vencer”.

A polêmica troca de fornecedor esportivo não passou batida nem para os políticos alemães, incluindo o ministro da Economia, Robert Habeck, que disse que “teria esperado mais patriotismo” da DFB no meio da disputa entre Adidas e Nike.

A Adidas pode se recuperar desse golpe?

Realmente, o orgulho da Adidas pode ter sido ferido e o preço das suas ações cairam logo após o anúncio da DFB. Mas a empresa pode ser elogiada por se aliar à razão em detrimento da emoção, ao não se deixar atrair para uma guerra financeira com a Nike numa altura em que o dinheiro está escasso e a seleção alemã apresenta um desempenho insatisfatório.

Embora possa ter sofrido o fim abrupto de uma de suas parcerias mais antigas, isso não terá um impacto significativo na posição da empresa no futebol. A nível internacional, a Adidas tem acordos com Argentina e Itália, duas seleções do topo, e ainda fornecerá os kits da Alemanha no Mundial de 2026 – torneio que também patrocinará.

Além disso, do ponto de vista de relações públicas, a Adidas está sendo retratada como vítima da situação, o que pode tornar difícil para a Nike conquistar os leais fãs do futebol alemão quando se tornar oficialmente fornecedora de equipamentos da DFB em 2027.

Esse é um obstáculo que a empresa norte-americana estará confiante em ultrapassar, mas a destituição da Adidas como fornecedora de equipamentos da seleção de futebol alemã não deverá desviar a atenção de alguns dos desafios maiores que a Nike enfrenta.

O anúncio da DFB foi oportuno para a empresa, depois de ter alertado que a sua receita no primeiro semestre do ano fiscal de 2025 provavelmente diminuirá, à medida que pretende reduzir produtos-chave. Ao fazer parceria com a DFB, a Nike certamente venceu uma batalha pública no território da sua maior rival, mas as duas principais marcas de vestuário esportivo do mundo têm, sem dúvidas, desafios maiores a enfrentar.

Sport Insider
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.