À espera de um comprador: a situação atual do Chelsea FC

Entenda as consequências das sanções impostas pelo governo do Reino Unido ao clube londrino e ao seu proprietário, Roman Abramovich


Por Guilherme Calafate

15 de abril de 2022

Chelsea

Desde o início da invasão de tropas russas ao território da Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, diversas consequências estão afetando não só os países envolvidos no conflito, mas toda a economia mundial. Principalmente pelo fato de diversos países terem aplicado sanções econômicas e políticas tanto à Rússia quanto a aliados e pessoas próximas a Vladimir Putin, em uma tentativa de frear o avanço militar comandado pelo presidente russo.  

Um exemplo disso é o Chelsea Football Club, um dos maiores clubes da Inglaterra e do mundo, que está sendo afetado diretamente por conta da relação próxima de seu atual proprietário, o bilionário russo Roman Abramovich, com Putin. O clube está enfrentando consequências que vão desde o congelamento de suas finanças até a proibição da venda de ingressos em seus jogos como mandante.  

Sanções impostas  

No dia 10 de março, Abramovich foi adicionado pelo governo do Reino Unido a uma lista de sete oligarcas russos alvos de sanções financeiras, devido ao conflito em andamento na Ucrânia. Como parte dos esforços para isolar o presidente russo e seus aliados, os sete oligarcas – donos de impérios de negócios avaliados em cerca de 15 bilhões de euros e intimamente associados ao Kremlin – tiveram seus ativos congelados no Reino Unido, foram proibidos de viajar para a região e nenhum cidadão ou empresa local pode fazer negócios com eles. 

Em comunicado oficial, o governo do Reino Unido justificou as sanções alegando que Abramovich está associado a Vladimir Putin por décadas, tendo recebido benefícios financeiros e outros benefícios materiais de Putin e do governo da Rússia. Além disso, o comunicado afirma que o proprietário do Chelsea “está ou esteve envolvido em desestabilizar a Ucrânia e minar e ameaçar a sua integridade territorial, soberania e independência, por meio da empresa siderúrgica e mineradora Evraz PLC, na qual Abramovich tem uma participação significativa e exerce o controle efetivo”. 

Como isso afeta o clube? 

As sanções impostas a Abramovich afetam diretamente o funcionamento do Chelsea, que teve suas finanças congeladas e foi impedido de gerar receita, o que inclui a proibição de vender ingressos para jogos no estádio do clube, Stamford Bridge, o congelamento dos pagamentos de prêmios e direitos de transmissão e até o fechamento provisório da loja oficial do clube em seu estádio.   

No entanto, diante do impacto significativo das sanções ao clube londrino e os potenciais efeitos colaterais, o governo do Reino Unido publicou uma licença que autoriza a continuação de atividades relacionadas ao futebol, que inclui permissões para o clube continuar jogando partidas e outras atividades relacionadas. O governo enfatizou que a licença só permitirá as ações explicitamente nomeadas, para evitar que o Chelsea – e, consequentemente, seu proprietário – gere qualquer nova receita e impedir que Abramovich seja capaz de contornar as sanções. 

Além das consequências diretas das medidas do governo do Reino Unido, patrocinadores do Chelsea decidiram seguir o exemplo e suspender as suas relações com o clube. A principal patrocinadora do clube, a operadora de telecomunicações britânica Three, rompeu o contrato no dia 10 de março e exigiu que a sua marca fosse retirada imediatamente das camisas do time. Apenas cinco dias depois (15), a companhia privada de cruzeiros MSC Crociere suspendeu temporariamente o seu patrocínio, enquanto aguarda o resultado do processo de venda do clube. 

Venda às pressas 

Em resposta à tensão política e à forte pressão do parlamento britânico, Roman Abramovich já havia anunciado que iria vender o Chelsea antes das sanções do governo serem impostas. Em um comunicado publicado no site oficial do clube no dia 2 de março, Abramovich anunciou que pretende se desligar completamente do clube e que todo o lucro líquido obtido com a operação será destinado a uma fundação criada para apoiar vítimas da Guerra na Ucrânia. Desde o dia 26 de fevereiro, ele já havia entregado o comando do clube aos curadores da Fundação de caridade do Chelsea. 

Apesar do oligarca russo ter anunciado que a venda não seria acelerada, o Raine Group, banco encarregado de realizar a operação, está tentando finalizar o processo de venda o quanto antes e já chegou a uma lista final de quatro candidatos para assumir o clube londrino. A lista final dos interessados em adquirir o clube inclui nomes com uma vasta experiência no comando de franquias esportivas.  

Entre os possíveis compradores estão Stephen Pagliuca, co-proprietário do Boston Celtics, da NBA, e vice-presidente da Atalanta, da Itália, Todd Boehly, um dos proprietários do Los Angeles Dodgers, da MLB, a família Ricketts, dona do Chicago Cubs, também da MLB, e Martin Broughton, ex-presidente do Liverpool, em associação com Josh Harris e David Blitzer, acionistas do Crystal Palace, da Premier League. 

O Raine Group estabeleceu o dia 11 de abril como data limite para receber as propostas definitivas dos candidatos. Assim que as propostas forem recebidas, a aquisição total poderá ser assinada, selada e entregue até o final do mesmo mês. Contudo, o vencedor também precisará ser aprovado pelo governo do Reino Unido.  

Segundo estipulações do mercado financeiro, os valores se aproximam dos 3 bilhões de libras (18 bilhões de reais) pretendidos inicialmente pelo atual proprietário. O futuro comprador também terá que garantir cerca de 1 bilhão de euros (R$ 5,2 bilhões) em investimentos futuros, para garantir que o investimento no clube continue em um ritmo semelhante ao da era Abramovich. 

Arquibancadas (quase) vazias 

Enquanto o processo de venda não é concluído, algumas das sanções impostas pelo governo do Reino Unido ainda estão mantidas. Porém, o esforço da diretoria do Chelsea, aliada à Associação Inglesa de Futebol, em pressionar o governo pelo direito de vender ingressos está obtendo alguns resultados para promover o retorno de sua torcida ao tradicional estádio de Stamford Bridge.  

O governo britânico permitirá que o Chelsea venda ingressos novamente depois de ajustar os termos de sua licença para operação, mas sob determinadas condições e somente para algumas competições. Para o confronto com o Real Madrid em Stamford Bridge pelas quartas de final da Uefa Champions League, o atual campeão do torneio poderá vender ingressos, mas não receberá o dinheiro. A Uefa será responsável por recolher os lucros da partida. Os torcedores do time também poderão assistir à semifinal da FA Cup contra o Crystal Palace, em Wembley, com os organizadores da competição recebendo os lucros.  

O governo também permitiu a venda de ingressos para jogos envolvendo a equipe feminina do Chelsea. A nova licença afirma que o clube deve transferir os lucros da venda de ingressos “para um terceiro autorizado”, como instituições de caridade. Contudo, o Chelsea ainda não pode vender novos ingressos para jogos em casa pela Premier League para seus torcedores – além dos que já possuem ingressos para a temporada –, mas agora a torcida visitante pode comprar entradas.