Cadu Ferreira: uma história de transição de carreira de sucesso no mercado esportivo

Em entrevista exclusiva, CEO da SISU Venture Partners nos conta um pouco sobre sua trajetória profissional


Por Raphael Crespo

23 de agosto de 2021

Carreira no mercado esportivo - Cadu Ferreira

Em agosto de 2002, o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007. A competição colocaria o Brasil no radar dos grandes eventos esportivos internacionais, que depois vieram em forma de Copa do Mundo da FIFA em 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Coincidentemente naquele mesmo mês, Cadu Ferreira, dava seu primeiro passo para trocar o tradicional mercado corporativo por uma carreira no mercado esportivo, pelo mundo da gestão e do marketing. Aceito para cursar a terceira edição do Fifa Master, considerado o melhor mestrado do mundo em gestão esportiva, partiu para um ano de imersão na Inglaterra, Itália e Suíça. Passados 17 anos, ele hoje é sócio e CEO da SISU Venture Partners, holding que controla algumas das principais empresas de gestão e marketing esportivo no Brasil, como a Golden Goal, a FENG, o Clube do Patrocínio e o próprio Sport Insider.

Após finalizar o mestrado na Europa e retornar ao Brasil para trabalhar num projeto da FIFA relacionado ao plano de ter o Brasil como sede da Copa do Mundo, o executivo fundou em 2004 a Golden Goal Sports Ventures. A empresa iniciou suas atividades tendo como primeiro cliente o AC Milan, à época um dos mais badalados clubes do futebol mundial.

Após 6 anos com crescimento acelerado, em maio de 2011, a empresa teve 60% do seu capital adquirido pelo grupo inglês CSM Sport & Entertainment. E passou a atuar no mercado nacional como CSM Brasil.

Participação em grandes eventos

“Era a musculatura que precisávamos para enfrentar os dois eventos globais que seriam sediados no Brasil”, comenta Cadu.

A CSM Brasil foi uma das principais empresas em atuação nos mega-eventos realizados em território brasileiro, tendo contratado mais de 25 mil pessoas para trabalhar em seus projetos na Copa do Mundo, além de atender a 11 patrocinadores globais dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

“A experiência que adquirimos trabalhando nesses dois eventos é de um valor inestimável”, explica e executivo.

Em março de 2019, em operação estruturada com o grupo Wsquare Capital, o executivo e seus sócios readquiriram da CSM o controle da operação no Brasil. Nascia assim a SISU Venture Partners, holding que hoje tem como suas investidas a Golden Goal, FENG, Clube do Patrocínio e o próprio Sport Insider.

Nasce o Sport Insider

O executivo conta que a decisão de investir no Sport Insider veio de um projeto apresentado pela Barões Digital Publishing.

“Fomos convencidos pelo pessoal da Barões de que poderíamos e deveríamos atuar como um publisher de referência no mercado esportivo. Principalmente pela experiência e expertise que adquirimos sobre os assuntos relacionados a gestão e marketing esportivo. O que passamos nestes quinze anos de estrada nos coloca em condição de estruturar, apresentar e discutir sobre temas e assuntos pertinentes ao mercado com uma visão que só tem quem está dentro. E com certeza a indústria aprecia o nosso ponto de vista. Nasce daí a ideia de investir no Sport Insider. E para fechar um gap histórico, um dos primeiros produtos a serem oferecidos ao mercado será justamente esse curso”, revela o empresário.

Início na vida profissional

Formado em 1994 em Administração de Empresas pela FAAP, em São Paulo, Cadu iniciou sua carreira profissional na área de controladoria financeira da Hoechst, um conglomerado químico alemão. Em 1997 fez um MBA executivo na BSP e na Universidade de Toronto, no Canadá. No ano seguinte deixou a Hoechst e foi trabalhar com consultoria na A.T. Kearney, uma empresa internacional focada em projetos de estratégia de alta gestão.

“A carreira em consultoria te propicia um aprofundamento em fundamentos de negócio e uma amplitude de experiências como poucas outras carreiras disponíveis no mercado. Nos meus cinco anos em consultoria, gerenciei projetos em doze clientes de diversas indústrias diferentes (bens de consumo, varejo, indústria automobilística, bancos, meios de pagamento, distribuição de eletricidade entre outras). Atuei em projetos tão diversos quanto o desenvolvimento da estratégia de precificação para o Carrefour no Brasil, passando pela revisão dos processos de montagem de um novo veículo na planta da Ford em Camaçari, até o valuation e negociação de venda da Toledo para um grupo internacional”,  conta o executivo.

Carreira no mercado esportivo

E foi justamente nos anos de A.T. Kerney que Cadu começou a abrir os olhos para o mercado esportivo. Fora do Brasil a empresa já atuava em projetos de consultoria estratégica para clientes como o comitê do bid Olímpico de Atenas 2004 ou a montagem de um plano de geração de novas receitas para o Shaktar Donetsky na Ucrânia.

“Por que não fazer o mesmo no Brasil? Juntei um grupo no escritório de São Paulo para analisar o mercado local e tentar convencer os sócios da A.T. Kearney  a iniciar uma prática de atuação em projetos de consultoria para o mercado esportivo brasileiro. Mas o timing era ruim. Estávamos no auge da ressaca das experiências de empresas globais que entraram para investir em clubes de futebol no Brasil e se deram mal, como a ISL, o fundo Hicks Muse, o Bank of America, entre outros. O momento estava errado, o mercado era desestruturado demais, o trauma de quem tentou fazer o certo e não conseguiu assustava. E os sócios da A.T. Kearney em São Paulo entenderam que, naquele momento, o movimento não valia o risco”, revela o empresário.

Mas Cadu estava convencido de que o mercado tinha potencial e que tudo era uma questão de tempo. Seguiu analisando oportunidades, refletindo sobre as dinâmicas do mercado, pensando em potenciais estratégias de entrada e avaliando suas opções. Foi quando ele se deparou com a notícia de que a FIFA estava lançando o processo seletivo para a terceira edição do Mestrado Internacional de Negócios, Direito e Humanidades do Esporte, o FIFA Master, coordenado pelo CIES (Centro Internacional de Estudos do Esporte) na Suíça.

O Fifa Master

“No começo de 2002, enquanto seguia me aprofundando sobre o mercado esportivo me deparei com um site de notícias coordenado por um alguns “sport insiders” dentre eles Luiz Augusto Veloso, ex-presidente do Flamengo. Lá fiquei sabendo sobre este mestrado da FIFA. Todo processo de inscrição estava lá, como publicamos recentemente no Sport Insider. E eu achei que a oportunidade de partir pra Europa e conhecer melhor sobre um mercado mais maduro que o nosso seria perfeita. Além de me aprofundar sobre os conceitos de uma carreira bastante diferente da que eu tinha desenvolvido até aquele momento, seria uma chance única de conhecer gente relevante na indústria. Este é um mercado iminentemente dependente de relacionamentos. Neste ponto o momento era perfeito pra mim. Eu tinha acabado de completar 30 anos, era solteiro, não tinha filhos e tinha conseguido economizar o suficiente para fazer essa aposta” conta Cadu.

Aprovado no processo de seleção para a terceira edição do Fifa Master, Cadu partiu para a Europa em agosto de 2002. O mestrado é realizado em três países em sequência: Inglaterra, Itália e Suíça.  Para o longo prazo, Cadu mantinha a ideia de voltar ao Brasil e abrir uma empresa de gestão e marketing esportivo. Mas o plano de curto prazo era ficar alguns anos na Europa para adquirir contatos, conhecimento e experiência, enquanto aguardava a maturação do mercado brasileiro.

Fundação da Golden Goal

“Aconteceu que pouco antes de me formar, recebi um convite para trabalhar num projeto interessantíssimo da Fifa no Rio de Janeiro. Então o retorno ao Brasil acabou sendo abreviado. Durante o ano em que trabalhei para a FIFA, dei início à montagem do plano de negócios para abrir a Golden Goal. Neste processo, um dos meus colegas de A.T. Kearney estava terminando um MBA no INSEAD na França naquele momento. E começamos a trabalhar juntos para tirar a Golden Goal do papel. Quando entendemos que já tínhamos alguns projetos que poderiam virar negócios, estipulamos um processo de captação de recursos com angel investors e fundamos a empresa em 2004, para começar as atividades em 2005”, lembra o empreendedor.

De acordo com Cadu, no início da Golden Goal, a abordagem “foi muito mais oportunística do que estratégica”. Ao garantir o direito de realizar um projeto inédito no Brasil com o AC Milan, a empresa seguiu na busca de outras oportunidades de negócios que a ajudasse a se estabelecer e crescer. E o mercado brasileiro, segundo o empresário, “era cheio delas”.

“Nosso crescimento foi acontecendo naturalmente, em função das oportunidades de mercado que encontramos. O primeiro projeto que fizemos no Brasil foi o Milan Junior Camp. Pode parecer inacreditável, mas no país do futebol, este foi o primeiro camp de futebol organizado por um clube profissional e serviu de modelo e exemplo para muitos clubes brasileiros. Foi ótimo ter trazido esse projeto, porque ele acelerou o processo de construção da nossa reputação e nossa marca. Nós éramos uma empresa recém fundada que estava trazendo para o país um projeto de marketing de um grande clube europeu. Isso acabou nos dando uma projeção de mercado muito superior ao nosso tamanho real naquele início e ajudou no processo de crescimento com o chamado “deal flow”, lembra o executivo.

Diversificação de negócios

Naquele mesmo ano, outras frentes foram abertas, como as áreas de consultoria, que estava no DNA dos sócios, e hospitalidade corporativa. Em 2005, a empresa investiu nos seus primeiros camarotes no Maracanã. Passados 15 anos, a Golden Goal cresceu e se tornou parte de um grupo maior, hoje certamente um dos players mais relevantes do mercado esportivo brasileiro. Além da Golden Goal, faz parte do grupo a FENG (de Fan Engagement), empresa focada em projetos de engajamento de fãs que atua nos principais programas de sócio torcedor de clubes Brasileiros.

Rotina de CEO

No papel de CEO da SISU, Cadu tem uma rotina bem movimentada e divide seu dia a dia na liderança estratégica e gestão das empresas do grupo.

“Nossa sociedade tem uma gestão muito participativa nas empresas investidas. Acabo atuando bastante no processo de planejamento estratégico, desenvolvimento de negócios, além da consolidação da cultura corporativa das empresas do grupo. O ciclo de realização de negócios nessa indústria é particularmente longo. É preciso muita paciência. Alguns projetos chegam a demorar de dois a três anos para maturar. Então é preciso disciplina e resiliência emocional. Paradoxalmente, o mercado é extremamente instável e os contratos costumam ser de curto prazo. Eu poderia dizer que a cada ano cerca de 40% da nossa receita vem de projetos novos, que não existiam no ano anterior. Então uma parte importante do meu dia a dia está no desafio de analisar tendências, fazer avaliações de risco e decidir onde vale a pena alocar nossos recursos sempre mantendo o conflito entre o curto e o longo prazo em foco”, revela Cadu.

Importância do networking

Outro ponto importante, e que ocupa boa parte do tempo do executivo, são atividades de networking. Segundo Cadu, a indústria do esporte depende intrinsicamente de relações pessoais.

“Acho que é como em qualquer outro mercado. Mas no esporte, conquistar e manter um bom network é fundamental, principalmente porque há uma rotatividade importante nas posições de poder das principais entidades esportivas. Eu calculo que cerca de 30% do meu tempo é voltado para networking. E é um investimento demandante, mas que sempre rende frutos”, diz o executivo. 

Visão de mercado atual

Cadu vê o atual momento do mercado esportivo no Brasil com muito otimismo. E muito mais maduro do que quando decidiu mudar os rumos de sua carreira, 15 anos atrás. Especialmente por ter passado por dois mega eventos, “que mudaram significamente a forma de atuação dos profissionais de seguem uma carreira no mercado esportivo, a abordagem de trabalho e até a percepção de quem está de fora, o que ajuda na estruturação e captação de novos negócios”.

“Eu vejo muitas oportunidades, como eu via em 2002. É um mercado que cresce de forma acelerada, muito acima da média de crescimento do PIB brasileiro e vai continuar assim por muitos anos. Principalmente porque é um mercado que está inserido no contexto do entretenimento. E o mercado de entretenimento tende a crescer conforme se observa um aumento da renda da população (que é o que esperamos que vai voltar a acontecer no Brasil nos próximos anos). A população passa a ter um valor discricionário maior para gastar com atividades de lazer. E o esporte está nesse contexto. Na nossa primeira fase como empreendedores, a Golden Goal cresceu acima de 60% todo ano. Depois veio o momento de trabalhar como parte de um grande grupo internacional e o foco nos mega-eventos, que foi algo totalmente fora da curva e catapultou o nosso crescimento. Hoje, passado o período da ressaca pós mega-eventos, os negócios da SISU projetam um crescimento de aproximadamente 55% em 2019 em relação ao último ano. As oportunidades estão por todos os lados”, diz o empresário.

Espaço para amadurecer e crescer

De acordo com o executivo, vários benchmarchs mostram que o Brasil ainda está um pouco atrás no ponto de vista de tamanho do mercado esportivo na relação com o PIB do País.

“Em mercados maduros, a indústria esportiva costuma representar cerca de 4% do PIB. No Brasil, calculamos que esta relação é de pouco mais de 1%. Isto mostra que há espaço pra quadruplicar o tamanho do mercado. É um fortíssimo um indicativo de potencial de crescimento, analisa Cadu. “Eu vejo as instituições, os clubes de futebol, mais maduros e profissionais do que 15 anos atrás. Confederações e Federações vão na mesma linha. E o Brasil e os brasileiros hoje têm mais abertura e trânsito no mercado internacional, principalmente pela experiência e reputação adquiridos nos dois grandes eventos que sediamos. Hoje temos muitos brasileiros trabalhando em vários lugares do mundo no mercado esportivo”, completa o empreendedor.

Há muitas carências

No entanto, nem tudo são flores. Há ainda algumas carências importantes no mercado esportivo brasileiro, que Cadu aponta com tranquilidade.

“As principais carências ainda residem no fato de que este é um mercado relativamente menos maduro e estruturado do que mercados mais tradicionais, como a indústria automobilística, a indústria de bens de consumo, ou até mesmo o agronegócio. Nem todos os players atuando no mercado esportivo estão no mesmo nível de profissionalismo. A gente vê diferenças muito grandes entre as instituições que atuam nesse mercado. E ainda é uma área que carece de preparação e treinamento constante de seus profissionais, principalmente em função das suas peculiaridades. Não é qualquer um que está preparado para trabalhar num clube de futebol, ou que sabe lidar com atletas e celebridades, apesar deste ser o sonho de muita gente. Salvo exceções, o preparo médio dos profissionais que atuam no mercado esportivo ainda é um pouco abaixo do que encontramos em outras indústrias. Essa ainda é uma carência que esse mercado precisa suprir, o que também abre espaço para muitas oportunidades de carreira”, analisa o executivo.

Mais detalhes sobre o curso do Sport Insider

Responsável pessoal por alguns módulos do curso, Cadu revelou ao Sport Insider um pouco do conteúdo que pretende passar em suas apresentações.

“Os meus módulos são bastante práticos e vão trazer muito da minha experiência pessoal. Eu tive que aprender muita coisa sozinho, na tentativa e erro. E aqui a gente está estruturando um pouco mais dessas lições aprendidas e passando de uma forma mais mastigada como é trabalhar nesse mercado, quais são as abordagens para entrar, nossa visão sobre onde estão as principais oportunidades, sempre de forma bastante pragmática. Do ponto de vista do empreendedorismo, vamos falar um pouco sobre como estruturar um negócio, como transformar uma ideia num projeto implementável, como entender se essa ideia tem potencial, se tem viabilidade financeira. Além disso, certamente vamos olhar para o pool de alunos do curso como uma fonte para recrutamento de talentos para os nossos negócios”, finaliza Cadu.

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