O mundo do patrocínio esportivo, que havia testemunhado um período de retração após o colapso de grandes players do mercado de criptomoedas em 2022, parece estar observando um retorno cauteloso desse setor. Recentes acordos indicam que, após o colapso dramático da exchange FTX e a volatilidade que devastou empresas e parcerias no esporte, as criptomoedas estão novamente em alta, com marcas como Kraken, Crypto.com e Bitpanda retomando suas relações com grandes entidades esportivas.
O Tottenham Hotspur, um dos gigantes do futebol inglês, estampa agora o logotipo da Kraken em suas camisas, enquanto a UEFA, através da Champions League, firmou uma parceria com a Crypto.com, uma das maiores exchanges globais. Além disso, a NFL também se uniu à Bitpanda, focando sua atuação no mercado europeu. Essas movimentações sinalizam uma retomada, ainda que tímida, dos patrocínios cripto no esporte, mas o cenário é muito mais complexo do que parece.
Por que agora?
A recuperação do mercado de criptomoedas é um fator central para essa nova onda de patrocínios. O Bitcoin, por exemplo, voltou a subir em 2023, atingindo níveis recordes, o que gerou um aumento no volume de negociações e, consequentemente, mais dinheiro disponível para parcerias de marketing. Além disso, a entrada de regulamentações mais rígidas trouxe uma certa confiança de volta ao mercado, embora muitos ainda questionem a estabilidade a longo prazo desse setor.
Para os clubes esportivos, as criptomoedas voltam a ser uma alternativa interessante, especialmente em um cenário pós-pandemia em que muitos enfrentam dificuldades financeiras para manter ou aumentar o valor de seus ativos de patrocínio. Em entrevista ao portal SportsPro, Daniel Haddad, chefe de estratégia comercial da agência Octagon, afirmou que clubes fora da elite europeia estão particularmente vulneráveis e, por isso, mais propensos a aceitar acordos com empresas de criptomoedas, desde que as condições sejam adequadas.
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Riscos e lições do passado
Apesar do otimismo em relação ao retorno das criptomoedas ao esporte, os riscos permanecem elevados. A principal preocupação continua sendo a volatilidade do mercado. O colapso da FTX em 2022, que tinha contratos valendo centenas de milhões de dólares com a NBA e a MLB, entre outros, é um lembrete claro de que o setor é suscetível a quedas bruscas. Além disso, questões reputacionais surgem, uma vez que muitos fãs de esportes permanecem céticos em relação a essas empresas, especialmente após uma série de acordos falhos que prometiam maior engajamento, mas entregaram pouco.
Haddad destacou ainda que os clubes e organizações esportivas aprenderam a lição do “boom” anterior e agora buscam maiores proteções contratuais, como cláusulas de rescisão e garantias de pagamento. Empresas como Crypto.com e Kraken, que passaram relativamente ilesas pelo “inverno cripto”, são vistas como parceiras mais confiáveis, tendo conseguido sustentar suas operações durante as oscilações do mercado.
O futebol como o grande campo de batalha
O futebol, especialmente as grandes ligas europeias, continua sendo o principal alvo das empresas de criptomoedas. A Champions League, um dos torneios mais vistos do mundo, está repleta de publicidade de empresas cripto, com o logotipo da Crypto.com sendo exibido em mais de 200 territórios ao longo de sua temporada. O retorno da Premier League também trouxe uma enxurrada de patrocínios, com 14 dos 20 clubes fechando algum tipo de acordo com empresas ligadas ao mundo digital, como plataformas de NFT e blockchain.
Segundo Dan Plumley, especialista em finanças esportivas da Sheffield Hallam University, o futebol oferece um nível de exposição que poucas indústrias podem igualar. Marcas como Kraken e Zondacrypto não só ganham visibilidade global, mas também criam laços emocionais com torcedores dedicados e engajados, ampliando seu alcance de maneira significativa.
O futuro do patrocínio esportivo com criptomoedas
Embora o futuro das criptomoedas ainda seja incerto, o retorno dos patrocínios ao esporte parece estar ganhando força. No entanto, é provável que vejamos menos acordos gigantescos como os que dominaram o cenário antes de 2022. Especialistas como Haddad sugerem que o mercado verá uma “onda de atividade” em patrocínios de menor valor, com clubes menores e acordos de curto prazo predominando. Ao mesmo tempo, as marcas que conseguirem sobreviver e prosperar nesse novo cenário serão aquelas capazes de oferecer não apenas dinheiro, mas também formas inovadoras de engajamento para os fãs.
Ainda que haja incertezas quanto ao futuro, o retorno das criptomoedas ao patrocínio esportivo é uma aposta que muitos clubes estão dispostos a fazer. Afinal, em um mundo onde a busca por novas fontes de receita é constante, as criptomoedas podem novamente se tornar uma peça fundamental nesse quebra-cabeça — com os devidos cuidados.