Um dos principais objetivos dos jogos de videogame de esporte da atual geração é o realismo. Tentar deixar o virtual cada vez mais perto do real. E NBA 2K22 é um dos games que fazem isso com excelência. Especialmente porque não se restringe à jogabilidade e ao que o jogador pode fazer dentro das quadras, mas também fora delas. Mas o que isso tem a ver com o Sport Insider? Simples: o product placement de algumas das principais marcas de material esportivo e vestimentas no game é um case bem interessante, que merece ser analisado como mais uma das muitas possibilidades do marketing esportivo atual.
NBA 2K: Modo Carreira
Há alguns anos, a série de baquete da 2K Sports aposta no seu Modo Carreira como um grande simulador da vida de um atleta do esporte. Você cria o seu jogador e, além de ser escolhido no draft por uma das franquias da liga, pode interagir com outras pessoas, conviver na “Cidade” e fazer compras de cosméticos para o seu personagem.
“Com nosso modo MyCareer, os jogadores podem ter a experiência da vida de um jogador da NBA, e uma parte importante disso é poder se expressar pelo que você veste. De marcas que são favoritas do público a designers de alto padrão, que podem ser bem mais acessíveis pelo game do que na vida real, NBA 2K te deixa representar seu estilo na quadra e na Cidade”, diz um representante da empresa, em entrevista por e-mail ao Sport Insider.
Quem acompanha a NBA sabe o quanto os jogadores se dedicam ao “estilo”. Principalmente desde que Allen Iverson ajudou a revolucionar o jeito de se vestir no basquete, no início dos Anos 2000, a streetwear se tornou um dos pilares da cultura do esporte da bola laranja. Assim como o hip-hop. E NBA 2K22 leva isso também para o digital.
“Alegria e autoexpressão da comunidade”
A “Cidade” de NBA 2K22 funciona como um grande hub para quem cria jogadores no modo MyCareer. Lá, é possível treinar a parte física em um laboratório com a marca da Gatorade, jogar partidas em quadras pintadas pela Mountain Dew, ir a uma barbearia para dar aquele tapa no cabelo, fazer tatuagens e, principalmente, visitar diversas lojas.
A Foot Locker, principal rede de varejo esportivo dos Estados Unidos, tem um espaço enorme. Também há uma grande NBA Store, onde é possível adquirir itens de cada equipe da liga para personalizar o seu avatar – sejam casuais, para a Cidade, sejam de jogo, para as partidas da NBA.
Product placement: parcerias com grandes marcas
Nesse ano, foi criado ainda um shopping, com lojas de Nike, Jordan, Adidas, New Balance, Under Armour, Puma e Converse. A 2K Sports não revela como são feitos os acordos, mas destaca que o foco é na “alegria e autoexpressão da comunidade”.
“Fazemos parcerias com marcas que reflitam a cultura do basquete e do streetwear hoje, para dar aos jogadores uma experiência autêntica. É uma relação de reciprocidade entre nós e essas marcas, porque eles querem trabalhar conosco pela exposição e influência que temos, e para a gente, é importante gerar essa alegria e autoexpressão para nossa comunidade”, explica o porta-voz da empresa.
E o bacana é que não para por aí. Não são apenas marcas tradicionais do mercado esportivo que estão em NBA 2K22. Foram anunciadas 39 empresas de roupas e acessórios que chegaram para essa edição do jogo e terão drops limitados de itens na loja Swags, dentro do jogo, ou em pop-ups montadas na Cidade.
Centenas de produtos digitalizados
Billionaire Boys Club, Boss, Dim Mak, Just Don, Octobers Very Own (OVO), Patta e Pigalle são algumas dessas marcas, que se juntam às fabricantes de material esportivo na digitalização dos produtos para NBA 2K22.
Os desenvolvedores explicam que todos os itens são escaneados usando tecnologia de captura 3D para que a equipe possa criar os modelos virtuais com o maior nível de realismo possível. O trabalho é semelhante ao feito com os jogadores.
“Ter diversas marcas que espelhem o estilo dos jogadores da NBA hoje é um aspecto bastante importante para replicar o basquete e sua cultura. Conseguir fazer representações corretas das roupas, dos tênis e dos acessórios nos jogos é fundamental, e para isso, nós escaneamos todos os objetos físicos. Assim, criamos modelos 3D para nossos artistas incrementarem, adicionando os detalhes necessários e realizando o polimento, deixando-os o mais próximo possível do que vê na vida real”, comenta a companhia.
Crescimento constante
Um detalhe interessante é que essa experiência parece crescer a cada ano. Agora, por exemplo, os jogadores podem criar suas próprias marcas in-game. Quem sabe, no futuro, não seja criada uma Cidade completa mesmo, em que você pode ter carros, casas e por aí vai? Algo parecido à experiência de GTA Online, por exemplo.
“Cada ano traz novos updates para a série, e ouvimos o feedback da comunidade para tornar a experiência ainda melhor. Estamos animados para ver como A Cidade continua a evoluir”, diz a 2K Sports.
E, assim como com os objetos reais, é preciso pagar pelos itens. Sejam eles tênis para o atleta virtual entrar em quadra, seja uma camisa da OVO. Tudo é feito com a moeda virtual do jogo, a Virtual Currency (VC). É possível ganhar VC’s cumprindo objetivos no jogo e também compra-las nas lojas digitais de Xbox e PlayStation, usando dinheiro real.
Aí entra a parte de negócios da coisa. Mais do que proporcionar uma experiência cada vez mais realista para os players, a comercialização desses itens dentro do jogo movimenta centenas de milhões de dólares a cada temporada de NBA 2K.
Negócio lucrativo
Jogo de PlayStation mais vendido de setembro (mês de seu lançamento) nos Estados Unidos, NBA 2K22 ainda não teve o seu número de cópias comercializadas divulgado. Contudo, o último relatório fiscal da Take-Two, dona da 2K Sports e da RockStar Games, anunciava a marca de 112 milhões de vendas na série NBA 2K, iniciada em novembro de 1999.
Segundo o site especializado VG Charts, desde NBA 2K18 todos os títulos da série chegam a dois dígitos no número de milhões de vendas: 10 milhões no 2K18, 12 milhões no 2K19, um recorde de 14 milhões no 2K20 e 11 milhões em 2K21. Levando em consideração que o preço da edição padrão do jogo é de US$ 60, foram US$ 2,8 bilhões gastos em unidades do jogo.
Fora o grande investimento que jogadores fazem nas VC’s, vendidas em packs com valores que variam entre US$ 1,99 e US$ 99,99. No relatório do ano fiscal de 2020 da Take-Two, a empresa registrou US$ 410,7 milhões no que eles chamam de “gastos recorrentes” dos players de seus títulos – entre eles, GTA Online, Red Dead Redemption 2 e NBA 2K.
E grande parte desse dinheiro é justamente de pessoas deixando seus personagens “no estilo” com as roupas virtuais de grandes marcas do mundo real. Segundo relatório do NPD Group, em 2020, o gasto de consumidores com videogames alcançou US$ 56,9 bilhões – um aumento bem significativo, de 27%, em relação ao último ano.
As microtransações, como são chamadas essas compras de itens dentro dos jogos, são cruciais nesse aumento. De acordo com o ResearchAndMarkets.com, em 2020, foram movimentados US$ 33,4 bilhões com microtransações em games. A expectativa é de que, nesse ano, os números cheguem a US$ 34,59 bilhões, e em 2025, batam US$ 51,09 bilhões.
Ou seja, o mercado de jogos eletrônicos só deve continuar crescendo, e cada vez mais marcas devem explorar esse tipo de ativação de product placement. In-game advertising é algo que você deve ter em mente atualmente. Afinal, as possibilidades são muitas. Desde os produtos de diversas marcas no NBA até o exemplo recente do iFood com GTA RP e as placas de publicidade no League of Legends.
Com ousadia e criatividade, é possível desenvolver cases de alta relevância, impacto midiático e até retorno financeiro com ações desse tipo. NBA 2K22 é um grande exemplo disso, e nós não podemos esperar para ver o que teremos de novidades desse aspecto em NBA 2K23.
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