A decisão da Premier League de internalizar suas operações de produção de mídia a partir de agosto de 2026 marcou um dos movimentos mais significativos no cenário da transmissão esportiva global em 2024. O fim da parceria de 20 anos com a IMG, que operava sob a marca Premier League Productions (PLP), sinaliza uma mudança estratégica da liga inglesa em direção a um maior controle sobre seu produto e sua distribuição internacional.
A Premier League é singular no cenário esportivo mundial ao gerar mais receita de transmissão internacional do que doméstica. Para o ciclo de 2025 a 2028, espera-se uma arrecadação anual de £2,16 bilhões globalmente, em contraste com £1,67 bilhão no Reino Unido. Esse desequilíbrio destaca a importância estratégica do controle direto sobre a produção de conteúdo, permitindo uma gestão mais ágil e personalização para diferentes mercados.
A Premier League não está sozinha nesse movimento. Outras grandes ligas europeias e internacionais também têm adotado modelos de produção interna, cada uma com motivações e estruturas adaptadas às suas realidades comerciais e logísticas.
Caso LaLiga: centralização e parcerias estratégicas
Na Espanha, a LaLiga gerencia sua produção através da parceria com a Mediapro, responsável pela transmissão de mais de 800 partidas por temporada, incluindo jogos da primeira e segunda divisão. Desde 2015, a centralização dos direitos audiovisuais permitiu à LaLiga otimizar a distribuição de receitas e melhorar a qualidade das transmissões, com padrões elevados de produção, como o uso de até 22 câmeras em jogos de alto nível.
Bundesliga: pioneirismo e tecnologia avançada
Na Alemanha, a Bundesliga opera com a Sportcast, uma subsidiária da Deutsche Fußball Liga (DFL), desde 2006. Com produção em UHD HDR e cobertura de mais de 700 jogos por temporada, a liga alemã se destaca pelo uso intensivo de tecnologia e pela distribuição internacional eficiente, alcançando mais de 200 países.
Parceria da Major League Soccer (MLS) com a Apple
Nos Estados Unidos, a MLS deu um passo audacioso ao firmar um acordo de US$ 2,5 bilhões com a Apple, criando uma produção conjunta que cobre cerca de 950 partidas por ano. O formato permite um controle rigoroso sobre a experiência do torcedor, com produção onsite em alta definição e conteúdo adicional exclusivo para o serviço de streaming MLS Season Pass.
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Tendências e implicações para o futuro
A internalização da produção não é apenas uma questão de controle de conteúdo. Trata-se de uma estratégia para maximizar receitas, otimizar a distribuição global e explorar novas oportunidades de engajamento direto com o público. A Premier League, ao seguir esse caminho, potencialmente abre espaço para iniciativas de transmissão direta ao consumidor (DTC), o que poderia revolucionar o modo como o futebol é consumido globalmente.
O movimento da Premier League pode ter vários impactos:
- Controle Criativo: A liga poderá personalizar a experiência de transmissão para diferentes audiências, adaptando conteúdo e inovações tecnológicas com maior flexibilidade.
- Maximização de Receitas: O controle direto permite otimizar negociações de direitos e explorar modelos DTC (Direct-to-Consumer), como uma possível “Premflix”.
- Desafios Operacionais: A transição exigirá investimentos significativos em infraestrutura, tecnologia e capacitação de equipes.
Para os torcedores e o mercado, o impacto imediato pode ser discreto, mas a longo prazo, a internalização da produção promete redefinir a relação entre clubes, ligas e seus públicos, consolidando uma tendência que está apenas começando a mostrar seu verdadeiro potencial.
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