O nome e talento de Stephen Curry, armador multi-campeão pelo Golden State Warriors, não é novidade para ninguém. Muito menos para os verdadeiros fãs de basquete e NBA. Também não pode ser considerada uma novidade a frequência com que o nome da estrela tem aparecido em listas e discussões sobre os melhores jogadores de todos os tempos. O que temos de “novo”, na verdade, é a inclusão de seu nome na mais alta prateleira dessas listas: o top-10.
O legado de Stephen Curry: o maior arremessador de todos os tempos
“Qualquer um pode jogar basquete. Alguns de nós jogam bem, outros podem até jogar muito bem, mas de tempos em tempos, alguém aparece e joga diferente.”
Em 2009, Stephen Curry foi escolhido pelo Golden State Warriors, na 7ª posição do draft daquele ano — recebido com vaias, por parte dos torcedores. Ao final de sua primeira temporada, terminou em segundo lugar na votação para ROY (Rookie Of the Year), e foi selecionado para o All-NBA Rookie 1st Team.
No segundo ano, sofreu sua primeira lesão, no tornozelo. No terceiro ano, agravou a lesão e jogou apenas 26 jogos. Mesmo assim, o time optou por renovar o seu contrato — decisão bastante criticada na época.
Em seu quarto ano (2012-13), Curry finalmente se manteve saudável e quebrou o recorde de mais bolas de três pontos feitas em uma única temporada (272). Mas ainda havia dúvidas sobre sua capacidade de se manter saudável. No ano seguinte, foi selecionado para a sua primeira aparição no All-Star Game, como titular.
Em seu sexto ano (2014-15), Curry repete o feito de temporadas anteriores e estabelece um novo recorde de bolas de três (286), além de vencer o prêmio de MVP. E ainda termina a temporada como campeão da NBA — primeiro título da franquia em 40 anos.
A temporada de 2015-16 ficou marcada para a história. Os Warriors quebraram o recorde de partidas vencidas durante a temporada regular — ultrapassando o lendário time dos Bulls de Michael Jordan (72 vitórias em 1995-96) — e Curry, pela terceira vez, estabeleceu um novo recorde de bolas de três pontos, com incríveis 402 cestas feitas. Como consequência, Curry se tornou o primeiro MVP eleito de forma unânime. No entanto, o Cleveland Cavaliers, liderado por LeBron James, acabou com as chances de um “ano perfeito”, ao vencer as finais daquele ano.
De lá para cá, Curry e os Warriors venceram mais dois títulos. Mas mais importante do que isso, revolucionaram o jogo para sempre. Ele não só revolucionou o arremesso de três pontos, mas transformou o estilo e estratégia de jogo das demais equipes da liga. De 2009 para 2022, a quantidade de arremessos de três pontos tentados por jogo praticamente dobrou, de 18 para 35.
Muitos argumentam que os seus três anéis de campeão, dois MVPs — um deles por decisão unânime —, quatro aparições no All-NBA 1st Team, oito seleções para o All-Star Games, e inúmeros recordes com bolas de três pontos, são o suficiente para garantir o seu lugar dentro do top-10 de todos os tempos. Ainda, em meio à tantos títulos, prêmios e recordes, a maneira com que Steph mudou o jogo, de fato o coloca ao lado de pouquíssimos nomes do esporte. Curry, o melhor arremessador de todos os tempos, com toda certeza, já tem seu nome marcado na história da NBA para sempre. Isso não está (e não deveria estar) em discussão.
NBA Top-10 All-Time
É relativamente fácil listar os dez melhores jogadores da história da NBA. Por outro lado, é muito difícil ordená-los entre si. Portanto, para simplificar, a lista a seguir está segmentada em tiers.
NBA Top-10 melhores jogadores de todos os tempos, de acordo com o autor:
Tier | Jogador | Títulos | MVP | Finals MVP* |
Tier 1 | LeBron James | 4 | 4 | 4 |
Tier 1 | Michael Jordan | 6 | 5 | 6 |
Tier 2 | Kareem Abdul-Jabbar | 6 | 6 | 2 |
Tier 2 | Kobe Bryant | 5 | 1 | 2 |
Tier 2 | Larry Bird | 3 | 3 | 2 |
Tier 2 | Magic Johnson | 5 | 3 | 3 |
Tier 2 | Shaquille O’Neal | 4 | 1 | 3 |
Tier 3 | Bill Russell | 11 | 5 | 0* |
Tier 3 | Tim Duncan | 5 | 2 | 3 |
Tier 3 | Wilt Chamberlain | 2 | 4 | 1* |
*O prêmio de Finals MVP (oficialmente chamado de Bill Russell NBA Finals MVP Award) foi implementado na temporada de 1968-69.
Tier 1: LeBron James e Michael Jordan
Há muito o que falar sobre estes dois, mas é preciso de muito pouco para diferenciá-los do resto. Michael jogou em uma das épocas mais “duras” da história da NBA, venceu todas as finais que disputou, e acumulou seis títulos. LeBron joga em uma das épocas mais técnicas da história, já chegou a 10 finais de NBA, e acumula 4 títulos. Ambos sendo os únicos da lista capazes de serem eleitos Finals MVP em todas as suas conquistas. Ambos são (ou foram) forças transformadoras da liga como um todo.
Muitos consideram Jordan como melhor pontuador, e James como o jogador mais completo. Ambos exímios defensores. Alguns dizem que Michael é o GOAT, outros LeBron. O fato é: a discussão quase sempre fica apenas entre os dois. O que não falta são debates sobre o assunto.
Tier 2: Kareem, Kobe, Bird, Magic e Shaq
Essa quina carrega 15 diferentes títulos da NBA. Cada um dominou a liga de uma maneira. Magic e Kareem, conquistaram 5 anéis juntos, enquanto firmavam a dinastia dos Lakers nos anos 80. Larry protagonizou uma das maiores rivalidades da história da liga, contra Magic e os Lakers, sendo líder da segunda grande força daquela época, vencendo 3 anéis com os Celtics. Shaquille O’ Neal, com o apoio de um jovem Kobe, liderou a volta da dinastia roxa e amarela no início dos anos 2000, com um tricampeonato, sendo MVP das finais em todas as três oportunidades. Ambos ainda venceram novamente, separados. Destaque para a liderança de Kobe em um bicampeonato e bi-MVP das Finais pelos Lakers, em 2009 e 2010.
Muitos consideram o “skyhook shot”, assinatura de Kareem, a arma mais letal de todo o esporte. Não é à toa que ele lidera o ranking de mais pontos feitos de todos os tempos (38.387). Magic revolucionou o jogo e a sua posição por dominar como um armador de grande porte com visão de quadra e agilidade incomparáveis. Não é à toa que lidera o ranking de mais assistências dadas de todos os tempos. E Shaq (como é popularmente conhecido) é considerado por muitos o jogador mais dominante que a NBA já viu, dos dois lados da quadra. Kobe é considerado um dos maiores pontuadores de todos os tempos, presente no top-5 com 33.643 pontos, além de ter cravado 81 pontos em um único jogo — maior marca na “era moderna” e segunda maior da história.
Tier 3: Bill Russell, Tim Duncan e Wilt Chamberlain
Coincidência ou não, temos três jogadores da mesma posição neste tier. Os três extremamente dominantes. Russell não só redefiniu o que era o jogo de basquete, como dominou a era em que jogou, vencendo onze vezes a NBA. Duncan foi campeão cinco vezes, muitas vezes passando por alguns “companheiros de top-10 All-Time”. Chamberlain muito provavelmente subiria na lista se o debate fosse apenas baseado em estatísticas de jogo, com uma média impressionante de 30,1 pontos (2˚) e 22,9 rebotes (1˚) por jogo em sua carreira, além dos dois títulos.
Bill Russell literalmente inventou o “toco”. Ele começou com o que, ao longo do tempo, se tornou uma das mais importantes habilidades defensivas do jogo. Além disso, antes de Bill Russell, o basquete era um jogo majoritariamente branco — para não dizer completamente. Tim Duncan alcançou um feito que nenhum outro nome na lista conseguiu alcançar, ser campeão em três décadas diferentes (90, 00 e 10). E Wilt Chamberlain carrega estatísticas das mais impressionantes, entre elas o feito irrepetível de ter marcado 100 pontos em um jogo.
O que falta para Stephen Curry entrar no top-10?
Dentre as inúmeras conquistas e mudanças no jogo, Curry preenche praticamente todos os requisitos para entrar no top-10. É o melhor arremessador de todos os tempos, tem mais anéis do que Chamberlain e Bird, e mais MVPs do que Shaq e Kobe. Então, o que falta?
Steph levou seu time às finais da NBA seis vezes em oito anos, sendo que a sexta ainda para ser disputada em 2022. Portanto, jogou em cinco finais e venceu três delas. O “problema” está exatamente aí, nas finais. Talvez o momento considerado mais importante de todos no mundo esportivo. E na NBA não é diferente.
Em suas três vitórias, não foi MVP das finais. Na primeira delas (2015), quem foi mais decisivo foi Iguodala. Também não liderou a série em pontos, assistências ou rebotes por jogo — apesar de ter sido derrotado, LeBron James, que está no topo da lista, liderou nas três categorias. Nas outras duas oportunidades (2017 e 2018), foi novamente coadjuvante, atrás de Kevin Durant, que levou os dois MVPs para casa.
Contra os Cavaliers (2016), sofreu a primeira e única derrota após a abertura de uma vantagem de 3-1 na história das finais. Contra os Raptors, em 2019, Curry, apesar de ter liderado o time durante a série, foi apenas o terceiro maior pontuador da equipe, com 21 pontos, no jogo mais importante (Jogo 7) — quando também não liderou em assistências.
O que falta é protagonismo no momento do título.
NBA Finals 2022: a oportunidade de entrar no top-10
Mais uma vez, Stephen Curry levou o seu time às finais. E dessa vez, caso vença, tem tudo para ser MVP e se consagrar no top-10.
Os Warriors vêm de uma vitória fácil (4-1) sobre os Mavericks de Luka Dončić, grande talento em ascensão, onde Curry foi eleito o primeiro MVP das finais da conferência Oeste, prêmio estabelecido essa temporada — nomeado em homenagem à Magic Johnson, com seu equivalente na conferência Leste, em homenagem à Larry Bird, ambos dentro do top-10.
Agora, com um elenco mais jovem ao seu redor, com Klay Thompson, companheiro que voltou de lesão no meio da temporada regular, em um papel mais secundário, e Draymond Green assumindo o “trabalho sujo” (como de praxe), Steph Curry tem tudo para assumir a responsabilidade e sair como protagonista das finais. No entanto, para isso, terá de liderar seu time à vitória.