O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? – Parte 1: ausências e participações modestas

Confira a primeira parte de uma série especial que trará um prognóstico da participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris 2024


Por Cassio Bagnoli

3 de julho de 2024

Parceria Editorial

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O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? - Parte 1: ausências e participações modestas (Créditos: Nathália Teixeira)

O ciclo olímpico que culminará nos Jogos de Paris 2024 traz consigo expectativas variadas para o desempenho dos atletas brasileiros. Nesta série especial, traçaremos um panorama do momento vivido por cada entidade, ou pelo esporte como um todo, mostrando as expectativas de resultados em cada uma delas.

Apesar dos esforços das confederações olímpicas e do investimento do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), algumas modalidades ainda enfrentam desafios significativos. Na primeira parte, começaremos explorando as modalidades em que o Brasil ainda não tem representantes ou em que a simples participação já é um grande feito.

Analisaremos os desafios e as barreiras enfrentadas por essas modalidades, e o que está sendo realizado para promover o desenvolvimento e a inclusão de novos esportes no cenário olímpico nacional. Veremos, também, como o financiamento, a infraestrutura e a busca por talentos estão sendo direcionados para promover o desenvolvimento e permitir que mais atletas possam competir em alto nível.

Badminton

Investimento: R$ 4,815 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Badminton (CBBd)

Número de atletas em Paris: 2 (1 Homem e 1 Mulher)

Provas: Individual Masculino e Feminino

Medalhas em Tóquio: 0

(Foto: Allison Saeng / Unsplash)

“Ah, o esporte da peteca!”. Talvez seja dessa forma que a maioria dos brasileiros se lembram do Badminton. A modalidade não tão comum para nós, faz um enorme sucesso em diversos países asiáticos e na Dinamarca. A CBBd, entidade responsável pela regência do esporte no país, possui uma pequena equipe de gestão e não conta com nenhum grande patrocínio.

Por conta disso, a confederação tem bastante dificuldade de arrecadação, tornando o repasse do COB um recurso fundamental nas receitas. Quase toda a verba é utilizada na preparação técnica das equipes, e na participação em eventos esportivos. A organização também desenvolve um circuito nacional da modalidade, tentando espalhar o campeonato por diversas localidades do país.

O grande projeto da entidade tem sido o Projeto Jovens Talentos, realizado em conjunto com a Universidade Federal do Piauí e a Secretaria Nacional de Alto Rendimento. O programa além de atrair jovens para o esporte, conta com um incrível complexo de Badminton, sendo o maior deste tipo na América Latina. A ideia surgiu logo após a realização dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, como parte do legado olímpico. Por conta de diversos fatores, a entrega final foi postergada por alguns anos, até ser concedida à coordenação da universidade em 2022. Desde então, o programa já vem rendendo frutos para a equipe brasileira, atraindo novos nomes que estão se destacando internacionalmente e conquistando resultados expressivos para o Brasil.

A nível das Américas, o Brasil já se encontra numa boa situação, sendo sempre um grande adversário nos torneios continentais. Os nossos atletas possuem vitórias em torneios challengers, além de já termos conquistas em Jogos Pan-americanos, como as medalhas nas competições de duplas em Santiago, no ano passado. Muitos dos medalhistas são oriundos do projeto piauiense.

Em Paris, o Brasil só estará presente nas disputas de simples, apesar de ter brigado bastante pela qualificação nas duplas. O já experiente Ygor Coelho, e a jovem Juliana Viera vão em busca de garantir a melhor colocação brasileira na história do esporte em Olimpíadas

Basquete

Investimento: R$ 5,947 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Basketball (CBB) (Basquete Brasil)

Número de atletas em Paris: 0-12* (0-12 Homens)

Provas: Torneio Masculino de Quadra*

Medalhas em Tóquio: 0

O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? - Parte 1: ausências e participações modestas
(Foto: Reprodução / CBB)

*A classificação olímpica do basquete ainda não terminou. O Brasil terá a última chance de conquistar o seu lugar no torneio olímpico masculino, no começo de julho; em um pré-olímpico disputado em Riga, na Letônia. Mesmo que a seleção brasileira conquiste a vaga, as chances de medalha serão pequenas.

Bicampeão mundial no masculino e, ao lado dos Estados Unidos, única seleção a ter participado de todas as edições de Copa do Mundo FIBA; uma vez campeão mundial no feminino; e cinco medalhas olímpicas no Basquete de quadra, sendo uma prata e quatro bronzes. Quem olha para a situação atual dessa modalidade tão vencedora para o Brasil, sem conhecer o passado do esporte, não deve acreditar nos feitos que já foram conquistados. Ao longo do tempo, o Basquete foi perdendo espaço na preferência do público brasileiro. Outras modalidades apareceram, e algumas cresceram ao ponto de se tornarem o novo número dois no coração dos amantes de esportes.

O último ciclo olímpico da modalidade foi de retomada da credibilidade. O Basquete brasileiro ficou de fora de todos os eventos em Tóquio, e está caminhando para seguir o mesmo caminho em Paris. Nos últimos anos, a relação entre a CBB e a LNB (Liga Nacional de Basquete), entidade que organiza a NBB, ficou estremecida. Por mais de uma década a NBB recebia a chancela de competição oficial da confederação brasileira. Porém, no começo deste ciclo olímpico, a CBB pleiteou uma vaga em competições internacionais para os times que atuavam em seu campeonato brasileiro. Tal medida levou a um conflito entre as duas partes, resultando na retirada da chancela da NBB para o campeonato deste ano. Ainda não há uma solução para o tema, e espera-se que a própria FIBA venha a intervir no assunto. Enquanto esperam a decisão sobre qual campeonato será de fato o “oficial”, quem perde é o Basquete brasileiro.

Basquete – Apesar dos problemas apresentados, a retomada no desempenho esportivo aconteceu. Em ambos os gêneros, o Basquete do Brasil conseguiu se recolocar na prateleira das grandes equipes. A chegada de José Neto para a equipe feminina, e Gustavo de Conti para o time masculino, trouxeram um ar novo e alguns bons resultados, como a participação brasileira no mundial masculino de 2023. Contudo, a esperada classificação olímpica não veio. A seleção feminina, mesmo jogando o pré-olímpico em Belém, no Pará, teve um grupo difícil pela frente e ficou de fora. Além disso, recentemente foi anunciado o desligamento de José Neto da posição de técnico do time.  No masculino, de Conti, foi demitido meses antes do início torneio de classificação olímpica, sendo substituído por Aleksandar Petrovic, que esteve à frente do comando da equipe durante o ciclo dos Jogos de Tóquio, no qual a equipe brasileira também não obteve sucesso.

Basquete 3×3 – O Brasil alcançou excelentes marcas nesta nova modalidade olímpica, durante os últimos anos. Ambas as equipes se colocaram como potências continentais, como por exemplo as conquistas na AmeriCup 3×3. No entanto, o grande resultado veio em 2023, quando a equipe masculina foi quarta colocada no mundial sênior da categoria. Mesmo com a excelente marca, a seleção não obteve sucesso na complicada classificação olímpica da modalidade. Estranhamente, a equipe convocada para a disputa contou apenas com um dos atletas que haviam participado do mundial, algo que pode ter afetado as chances do time brasileiro.

Breaking

Investimento: R$ 3,409 milhões (2024)

Entidade: Conselho Nacional de Dança Desportiva (CNDD)

Número de atletas em Paris: 0

Provas: N/A

Medalhas em Tóquio: N/A

O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? - Parte 1: ausências e participações modestas
(Foto: Reprodução / Paris 2024 Olympics)

O Breaking será a grande novidade das Olimpíadas de Paris, a única nova modalidade a estrear no maior palco esportivo mundial. O Breaking tem na sua origem o hip-hop, um estilo musical criado nos anos 70, nos Estados Unidos, e que rapidamente se espalhou ao redor do globo; e que contou com um ciclo de aprendizado e entendimento do que é ser uma modalidade esportiva.

A palavra-chave deste ciclo olímpico – e por enquanto o único, já que o Breaking não foi escolhido para os Jogos de Los Angeles – foi: estruturação. Os amantes desta arte tratavam a prática da dança, e as consequentes “batalhas”, como atos culturais e de promoção dos ideais do hip-hop. Foi com muita estranheza que a comunidade recebeu o anúncio de que agora, o Breaking, seria visto como esporte.

Não se sabe ao certo quem foi o responsável pela entrada desta dança nos Jogos, mas é possível concluir que alguns fatores colaboraram para a realização disso. O primeiro deles era a vontade do Comitê Olímpico Internacional (COI), em trazer um novo e jovem público para o palco olímpico. O segundo ponto foi a determinação que permitia cidades-sedes a escolherem novas modalidades para o programa esportivo. E, o terceiro e mais importante ponto foi o excelente trabalho de lobby, feito pela WDSF (World Dance Sport Federation) para a inclusão do mais novo esporte nos Jogos Olímpicos.

Com isso, todos os envolvidos no desenvolvimento desta nova etapa do Breaking, precisaram acelerar o passo para organizar e estruturar a modalidade em diversos aspectos. Desde a criação de um circuito de competições, formato de disputas e até sistemas de pontuação. O mesmo vale para o Brasil, que precisou correr contra o tempo para desenvolver o seu projeto.

A CNDD, entidade que já era reconhecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ficou com a responsabilidade de desenvolver o Breaking. O conselho – que ainda trabalha para ganhar a chancela de confederação – criou uma comissão exclusiva para tratar do assunto. No topo desta comissão foram escolhidos o B.boy Bispo (José Bispo de Assis) e a B.girl Lu (Lucimar dos Santos), duas referências do cenário do hip-hop brasileiro, para a administração da nova diretoria esportiva.

Eles trabalharam bastante para divulgar o esporte e buscar a classificação olímpica. Várias medidas como camps de treinamento em Portugal, viagens para competições internacionais, intercâmbio com a seleção francesa, criação de “bate-papos” para uma melhor compreensão da comunidade, treinamentos técnicos de capacitação para juízes, e até mesmo a realização de uma das etapas classificatórias para os Jogos Olímpicos, que ocorreu no Rio de Janeiro. Porém, o principal projeto foi a construção de um campeonato brasileiro de Breaking, na tentativa de criar um circuito nacional do esporte.

No entanto, nenhuma dessas ações gerou grandes resultados esportivos. O Brasil passou longe da classificação olímpica, e teve como melhor resultado a quarta colocação do B.boy Luan San, no mundial de 2021. Resultados frustrantes, frente ao potencial do Brasil que possui uma grande comunidade de hip-hop, assim como os Estados Unidos, França e Japão.

Escalada Esportiva

Investimento: R$ 4,938 milhões (2024)

Entidade: Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE)

Número de atletas em Paris: 0

Provas: N/A

Medalhas em Tóquio: 0

(Foto: Reprodução / Paris 2024 Olympics)

Como o próprio nome diz, a ABEE não é uma confederação como a maioria das organizações esportivas. Fundada em 2014, a associação tem o dever de cuidar e desenvolver a Escalada Esportiva no Brasil, e tem um longo caminho até o amadurecimento da modalidade no país. De modo geral, os resultados obtidos até o momento são pífios, num esporte dominado pelas nações europeias que possuem tradição em escalada e montanhismo, como Itália, Áustria, França e Eslovênia; além dos Estados Unidos e alguns países asiáticos, como por exemplo, Japão, Indonésia e China.

Diferentemente dos resultados conquistados até o momento, a gestão da entidade tem sido bastante profissional e transparente. Mesmo com a pouca tradição, a associação possui parcerias com uma marca de artigos de roupas esportivas e lifestyle, a Galápagos Outdoor (também é parceira da Confederação Brasileira de Surfe), e com a prefeitura de Curitiba com um centro de treinamento no Parque Olímpico do Cajuru. Além de um investimento privado da Prudential, que no ano passado aplicou R$80.000,00 na modalidade.

Tudo isso, coloca a organização com uma ótima saúde financeira, fechando o último ano com um superávit acima dos R$100.000,00; e dando espaço para aplicação em novos projetos, como o primeiro camping internacional com a equipe brasileira, realizado na última temporada. Tal como outras entidades esportivas brasileiras, a ABEE, destina uma grande parte da sua verba para a preparação técnica, participação em campeonatos internacionais, manutenção do esporte, e no fomento da modalidade com a realização de etapas de Copa Brasil, Campeonato Brasileiro e até de etapas do Campeonato Sul-americano. A organização ainda desenvolve um projeto social de inclusão de atletas de baixa renda, na participação do Campeonato Brasileiro de Escalada Esportiva.

Como ressaltado, os resultados da seleção adulta têm sido fracos, até o momento não houve nenhuma conquista relevante. E por isso, o foco da associação é em trabalhar nas categorias juvenis, alçando-os rapidamente para a seleção principal. A média de idade da equipe adulta para esta temporada é de pouco mais de 22 anos, composta por sete escaladores (quatro homens e três mulheres, sendo apenas um atleta das provas de velocidade).

No masculino, o Brasil teve uma boa performance nos Jogos Pan-americanos de Santiago com Pedro Egg (Velocidade) parando nas quartas-de-final. No feminino, a equipe brasileira conta com algumas promessas para o futuro. Laura Timo (Boulder e Lead) de apenas 15 anos, e a suíço-brasileira Anja Kohler (Boulder e Lead), que optou por defender o país natal de seu pai, e já participou do mundial júnior da categoria. Há ainda uma grande aposta da entidade na paranaense Mariana Hanggi (Boulder e Lead), que já foi campeã dos Jogos Sul-americanos da Juventude.

Golfe

Investimento: R$ 4,781 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Golfe (CBGolfe)

Número de atletas em Paris: 0

Provas: N/A

Medalhas em Tóquio: 0

O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? - Parte 1: ausências e participações modestas
(Foto: Reprodução / Paris 2024 Olympics)

O Golfe fez o seu retorno aos Jogos Olímpicos na Rio 2016. Na ocasião o Brasil esteve presente, muito por conta de ser a sede do evento. Porém, desde então, os nossos golfistas não conseguiram se aproximar do alto rendimento, e passamos longe da classificação para Paris. Para se ter uma ideia, os rankings olímpicos ficam em torno do top 300 e 400 para garantir as vagas. No masculino, o nosso atleta mais bem ranqueado, Fred Biondi, terminou perto da posição 500. E, no feminino, a situação é pior, uma vez que nenhuma golfista brasileira aparece entre as mais de 1600 ranqueadas.

São esses números que levam a confederação a ter um trabalho focado nas crianças! O grande objetivo é trazer uma nova geração para o esporte, e desenvolver as habilidades de jovens talentos desde muito novos. Não é por acaso que o principal projeto da entidade é o Golfe Para a Vida, que atua juntamente com os campos de golfe pelo Brasil, na introdução e na socialização dos pequenos. Tais medidas estão fazendo o número de praticantes de golfe crescer ano a ano no país, mesmo com o baixo número de campos públicos (apenas três), entre os mais de cem campos de golfe registrados pela entidade.

A arrecadação da entidade se baseia, basicamente, em três pilares: repasse do COB, taxas de filiações e parcerias. Normalmente, a verba oriunda destes recursos é investida da seguinte forma: Organização e Participação em competições (30%); Preparação Técnica (20%); Fomento e Manutenção da entidade (25%); Auxílio aos Atletas Profissionais (10%); e o restante (cerca de 15%) nos demais custos de operação.

A porcentagem de investimento na organização de campeonatos cresceu consideravelmente nos últimos anos, tanto que o campo olímpico de golfe, no Rio de Janeiro, foi sede de uma etapa do PGA Latino América em 2024. Vale ressaltar também, a grande parceria da CBGolfe com a The R&A, a principal entidade regulatória do golfe no mundo; e que possui um projeto de incentivo e apoio à modalidade em escala global. A organização firmou esta parceria com a confederação brasileira em 2018, e desde 2020 já foram investidos cerca de R$1.500.000,00, beneficiando cinco campos de golfe no Brasil (Caxangá Golf & Country Club (PE); Clube Campestre de Livramento (RS); Coruja Golfe Clube (SP); Japeri Golfe (RJ) e Santa Maria Golfe Clube (RS)) com polos de desenvolvimento.

O presente do golfe ainda não é brilhante, mas o futuro pode ser promissor. O Brasil vem colecionando conquistas em eventos de categorias infanto-juvenis, como os já multicampeões mundiais, Bento Assis e Bella Simões.

Hóquei na Grama

Investimento: R$ 4.730 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Hóquei na Grama e Indoor (CBHG)

Número de atletas em Paris: 0

Provas: N/A

Medalhas em Tóquio: 0

(Foto: Adrian Payne / Unsplash)

Provavelmente, esta seja a modalidade menos conhecida do público brasileiro, e definitivamente com as menores chances de classificação para os nossos atletas. O esporte tem bastante dificuldade de crescimento em terras brasileiras, muito devido ao baixíssimo reconhecimento por parte do público, e a necessidade de uma grande quantidade de pessoas para ser praticado. Além disso, o alto custo de acesso aos equipamentos e os poucos locais de prática são obstáculos para o desenvolvimento do esporte. Para se ter uma noção, o campeonato brasileiro deste ano, inicialmente, contou com apenas 9 equipes no masculino e 7 no feminino, oriundas de apenas quatro estados (São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul). O esporte não é praticado nos principais clubes esportivos do país, algo que dificulta ainda mais a compreensão da modalidade.

Apesar dos problemas, a confederação trabalha bastante para aumentar o interesse, e no incentivo à prática do esporte, por meio de parcerias públicas com prefeituras e clubes; uma vez que a entidade não conta com nenhum patrocinador grande para investimento privado. Boa parte do repasse do COB à confederação é utilizado para custear a organização de campeonatos, principalmente os juvenis, e para cobrir as despesas de viagem para competições internacionais. Também são realizadas diversas clínicas de introdução à modalidade ao redor do país, e há um trabalho de identificação de potenciais atletas que moram no exterior, e possam servir o Brasil.

Nos campos, o Brasil evolui lentamente, mas o “gap” para as grandes potências, como Argentina, Holanda, Índia e Reino Unido, ainda é gigantesco. Os melhores resultados aconteceram em 2015 e 2016, quando a equipe masculina chegou a disputar a medalha de bronze nos Jogos Pan-americanos de Toronto; e na participação nas Olimpíadas do Rio, em que a seleção brasileira atingiu os critérios mínimos impostos pela federação internacional, para garantir a vaga de país-sede. Ano passado, o Brasil voltou a competir no Pan de Santiago, no Chile, novamente com a seleção masculina. E, apesar de não ter avançado na fase de grupos, fez bons jogos contra os Estados Unidos e o Canadá, conquistando uma vitória contra o time de Trinidad e Tobago.

Pentatlo Moderno

Investimento: R$ 4,649 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM)

Número de atletas em Paris: 1 (1 Mulher)

Provas: Individual Feminino

Medalhas em Tóquio: 0

(Foto: Reprodução / COB)

A medalha de bronze de Yane Marques, nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, parece um sonho distante para os amantes e seguidores deste esporte. Desde então, os resultados obtidos são simplórios, e não chegaram nem perto de criar uma perspectiva de desenvolvimento para o futuro da modalidade. A CBPM não possui nenhum tipo de parceiro estratégico ou patrocinador (com exceção das Forças Armadas para o treinamento e apoio de atletas), e também não realizou nenhuma aquisição de recursos públicos durante todo o ciclo olímpico de Paris. E o motivo é simples, a entidade não conta com um setor de marketing para que essas parcerias possam ser desenvolvidas. Por isso, o repasse do COB, outras doações e a taxa de inscrições em competições da confederação são fundamentais na gestão da entidade.

Contudo, a CBPM possui um projeto chamado de Penta Jovem, permitindo a captação e desenvolvimento de futuras promessas para a modalidade. E está trabalhando num Plano Estratégico e de Negócios para o próximo ciclo olímpico, que aliás será de grandes mudanças para o Pentatlo Moderno. A Union Internationale de Pentathlon Moderne (UIPM) anunciou que esta será a última temporada na qual o esporte contará com as cinco modalidades tradicionais, que formam o Pentatlo Moderno: Esgrima, Hipismo, Natação, Atletismo e Tiro Esportivo.

A federação internacional está em busca de rejuvenescer o esporte, e de fato torná-lo “moderno”; somado aos casos de agressão à cavalos nos Jogos de Tóquio, fizeram com que o Hipismo fosse retirado da lista e substituído por uma controversa Corrida com Obstáculos. A UIPM utilizou-se de vários critérios para escolher a nova modalidade, e a selecionada foi uma das versões administradas pela World Obstacle, a entidade máxima de provas com obstáculos e corridas de aventura. A prova é bastante semelhante ao que é praticado em realities de entretenimento, como o American Ninja Warrior.

Em Paris, o Brasil terá apenas uma representante, a pentatleta Isabela Abreu. A paranaense de 28 anos, é atualmente sargento do exército e conquistou o seu lugar nos Jogos, após a nona colocação nos Jogos Pan-americanos do ano passado, em Santiago, no Chile. O objetivo é de buscar uma boa colocação, e voltar a colocar o país em destaque no esporte.

Remo

Investimento: R$ 5,158 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Remo (CBR) (Remo Brasil)

Número de atletas em Paris: 2 (1 Homem e 1 Mulher)

Provas: Skiff Simples Individual Masculino e Feminino

Medalhas em Tóquio: 0

O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? - Parte 1: ausências e participações modestas
(Foto: Reprodução / COB)

Quando olhamos para o Remo brasileiro, e as baixas perspectivas de crescimento, é difícil entender como este esporte já foi a base de diversos clubes de futebol pelo país. O Remo é uma das mais tradicionais modalidades esportivas do programa olímpico, mas quando se trata da atenção do público em terras brasileiras, ele costuma ficar para “escanteio” durante as Olimpíadas.

A CBR tem bastante dificuldade para encontrar parceiros privados e patrocínios que possam ser revertidos para a entidade. Por isso, a confederação depende quase que exclusivamente dos recursos oriundos do COB; que por sua vez são investidos, em sua maior parte, no desenvolvimento e manutenção da modalidade, na preparação técnica e na participação em regatas.

Nas águas, o rendimento brasileiro melhora lentamente. Recentemente, a equipe brasileira obteve bons resultados no sul-americano da categoria disputado no Rio de Janeiro. E voltou a medalhar nos Jogos Pan-americanos de Santiago, justamente com os nossos dois representantes em Paris, Beatriz Tavares e Lucas Verthein. O carioca, a propósito, é o maior destaque do país no esporte. Ele compete pelo clube Botafogo, do Rio de Janeiro, e contou com um grande apoio pessoal do empresário estadunidense, e CEO da SAF do Botafogo, John Textor, na aquisição de barcos e equipamentos de competição.

Lucas foi o nosso único atleta nos Jogos de Tóquio, e conseguiu uma surpreendente semifinal. Agora, ele briga para alcançar um resultando ainda melhor, e tentará ser finalista nas raias parisienses. A confederação conta com essa conquista para ter um ciclo até Los Angeles com um incremento no apoio e visibilidade ao esporte, que terá a adição de uma nova modalidade nas Olimpíadas de 2026, o Remo Costal! A prova escolhida foi o Beach Sprint, que teve a presença da equipe brasileira em Barletta, na Itália, no mundial do ano passado.

Rugby

Investimento: R$ 5,32 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) (Brasil Rugby)

Número de atletas em Paris: 12 (12 Mulheres)

Provas: Torneio Feminino

Medalhas em Tóquio: 0

O que esperar do Brasil nas Olimpíadas? - Parte 1: ausências e participações modestas
(Foto: Reprodução / COB)

“Rugby. Isso ainda vai ser grande no Brasil”. Quem não se lembra dos comerciais feitos pela Topper, nos quais satirizavam a popularidade do esporte no país, enquanto aproveitavam para divulgar o patrocínio da marca à confederação. Mais de uma década após o anúncio da parceria, podemos afirmar: o Rugby ainda não é grande no Brasil.

A Topper já não é mais a fornecedora oficial da CBRu. Atualmente, a entidade utiliza o material esportivo da KickBall. Porém, apesar da ainda pouca relevância do esporte no cenário nacional, é possível dizer que a modalidade já deu vários passos para chegar ao estrelato. A Confederação Brasileira de Rugby é uma das entidades mais estruturadas entre as modalidades olímpicas, e conta uma gestão altamente profissional. Não é à toa que a organização tem diversos patrocinadores e apoiadores do esporte ao seu lado.

São inúmeras as atividades comandadas pela confederação, dentro e fora de campo, no trabalho de desenvolvimento técnico, captação de atletas, elaboração de campeonatos, participações internacionais e, principalmente, no fomento ao esporte. Uma das principais ações da entidade foi a escolha de nomenclaturas indígenas, tais como Tupis, Yaras e Curumins para batizar as suas equipes profissionais e de base. Todas essas ações já geraram retorno para a organização, que conta com dezenas de milhares de praticantes e milhões de interessados no esporte no país.

Nas olimpíadas, o Rugby é disputado em sua versão Sevens, fugindo do grande número de atletas que a modalidade principal, o Rugby XV, traz à campo. Em Paris, o Brasil terá a presença de sua equipe feminina. As Yaras tiveram um ciclo de clara evolução, firmando-se entre as principais seleções do mundo no circuito mundial da modalidade; e alcançando ótimos resultados, e até mesmo vitórias, contra equipes intermediárias e de ponta, como a Espanha, Japão, Irlanda e Canadá. A medalha ainda é um sonho distante, mas a tarefa será avançar às quartas-de-final do torneio olímpico. Por sua vez, a equipe masculina não tem muitas chances de classificação. A popularidade do esporte em nossos vizinhos (Chile, Argentina e Uruguai), e o ainda alto gap técnico, se tornam um obstáculo na conquista de melhores resultados.

Tiro Esportivo

Investimento: R$ 4,742 milhões (2024)

Entidade: Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE)

Número de atletas em Paris: 3 (1 Homem e 2 Mulheres)

Provas: Rifle 50m três posições Feminino; Skeet Feminino e Pistola de ar 10m Masculino. (Por terem conquistado as classificações nas respectivas provas, os atiradores brasileiros também poderão competir nas provas de Rifle de ar 10m Feminino e Pistola Rápida 25m Masculino)

Medalhas em Tóquio: 0

(Foto: Reprodução / COB)

Desde a medalha de prata conquistada por Felipe Wu, nas Olimpíadas do Rio, os resultados do Tiro Esportivo brasileiro ficaram bem aquém das expectativas para o esporte. Wu, foi o nosso único representante nos Jogos do Japão, e ao mesmo tempo, o único a subir ao pódio nos Jogos Pan-americanos de Santiago, no ano passado.

De modo geral, a confederação possui uma gestão eficiente e transparente. A entidade possui cerca de quatro mil praticantes da modalidade no país, e consegue fomentar o esporte através da realização de campeonatos regionais e brasileiros. Por conta disso, a organização consegue uma boa arrecadação de recursos privados, por meio de patrocínios e inscrições em competições.

Porém, o ciclo dos Jogos de Paris não tem sido fácil para os atletas brasileiros. Um decreto de lei promulgado pelo governo Lula (decreto 11.366/2023), no começo de 2023, limitou a aquisição de munição para os atiradores; reduzindo dos anteriores cinco mil para até seiscentas unidades por arma. Normalmente, os atiradores utilizam entre 200 e 400 em um dia de treinamento. Com isso, muitos atletas precisaram cessar os treinamentos, encontrando outras formas de prática, como o uso de simuladores. Mesmo com as dificuldades, a equipe brasileira será maior nestes Jogos, e contará com três atletas: Geovana Meyer; Georgia Furquim e Philipe Chateaubrian. Todos eles tiveram boas performances em etapas classificatórias continentais, onde conquistaram as suas vagas. Georgia é o grande destaque, ela se firmou entre as melhores das Américas na prova do Skeet, e pode conseguir uma boa po