Em uma decisão histórica, a National Football League (NFL) deu luz verde para a introdução de capital privado na propriedade de suas equipes, marcando um novo e significativo capítulo na trajetória da liga mais poderosa dos Estados Unidos.
Em uma reunião especial realizada na última semana, os proprietários das franquias votaram por uma esmagadora maioria de 31 a 1 em favor da medida, com os Bengals sendo o único voto contrário. Esta decisão permitirá que empresas de private equity adquiram até 10% do capital de uma equipe – um percentual bem abaixo do que outras ligas esportivas americanas permitem, que pode chegar a 30%.
A abertura da NFL para o capital privado surge após anos de deliberações, e as regras estabelecidas mostram a cautela da liga ao lidar com essa nova fonte de financiamento:
- Inicialmente, apenas oito empresas foram aprovadas para participar desse mercado, que será rigorosamente monitorado;
- As regras incluem cláusulas que permitem à liga forçar a venda de participações em caso de violações de conduta;
- os investidores não terão direitos de governança nas equipes;
- As empresas devem manter suas participações por um mínimo de seis anos;
- A NFL receberá uma porcentagem das vendas futuras dessas participações.
“Nossa política de propriedade é um dos principais elementos fundamentais do nosso modelo de negócios”, declarou Joe Siclare, vice-presidente executivo de finanças da NFL. “Fomos muito deliberados nessa abordagem, muito comedidos. Isso é algo muito importante para a liga, e temos o benefício de ter muito interesse na comunidade de investimentos.”
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As empresas escolhidas
Com a aprovação da NFL para que empresas de private equity comprem participações minoritárias em suas franquias, oito grandes players do mercado financeiro estão posicionados para se beneficiar da crescente valorização das equipes. Embora a maioria dessas empresas possa não ser conhecida pelo público em geral, elas possuem um histórico robusto de investimentos no setor esportivo, que vai além do futebol americano.
Entre as empresas aprovadas para participar desse novo modelo de negócios estão gigantes que já possuem uma forte presença na indústria esportiva, como Arctos Partners, Ares Management, Sixth Street Partners e um consórcio que inclui Blackstone Partners, CVC Capital Partners, Carlyle Group, Dynasty Equity e Ludis.
Arctos Partners
Arctos Partners é uma dessas empresas que já possui uma forte presença no mundo dos esportes. Fundada em 2019 com foco exclusivo em investimentos esportivos, a Arctos já conta com mais de 20 investimentos em entidades profissionais. A sua ligação mais direta com a NFL é o investimento na Harris Blitzer Sports & Entertainment, empresa controladora do 76ers e do Devils, fundada por Josh Harris, proprietário do Commanders, mas, entre os seus ativos mais notáveis, estão participões nas seguintes equipes:
- Liverpool (Premier League)
- Paris Saint-Germain (Ligue 1)
- Philadelphia 76ers (NBA)
- Utah Jazz (NBA)
- Sacramento Kings (NBA)
- Golden State Warriors (NBA)
- New Jersey Devils (NHL)
- Tampa Bay Lightning (NHL)
- Pittsburgh Penguins (NHL)
- Minnesota Wild (NHL)
- Houston Astros (MLB)
- Chicago Cubs (MLB)
- Los Angeles Dodgers (MLB)
- Boston Red Sox (MLB)
- Aston Martin Formula One Team
Ares Management
Fundada em 1997, a Ares Management entrou mais recentemente no mercado esportivo com um fundo de US$ 3,7 bilhões focado em esportes, mídia e entretenimento. Além de ser acionista da Eagle Football Holdings, que controla o Crystal Palace e o Olympique Lyonnais, Ares possui um portfólio significativo no futebol, com participações minoritárias em clubes de renome como:
- Atlético de Madrid (La Liga)
- Chelsea (Premier League)
- Inter Miami (MLS)
- San Diego Padres (MLB)
- McLaren Racing (Fórmula 1)
Sixth Street Partners
A Sixth Street Partners se destaca por sua participação majoritária na Legends, uma agência de hospitalidade esportiva fundada em 2008 pelo proprietário do Dallas Cowboys, Jerry Jones, e pela família Steinbrenner, dona do New York Yankees. Além disso, a Sixth Street é a principal investidora do Bay FC, clube da NWSL, e possui participações minoritárias em gigantes do futebol como Barcelona e Real Madrid, além de ser acionista do San Antonio Spurs, da NBA.
Consórcio
Entre o consórcio de cinco empresas que também foram aprovadas pela NFL, algumas já possuem vínculos com o mundo dos esportes. A Carlyle Group detém uma participação no Seattle Reign e, recentemente, o fundador da empresa, David Rubenstein, adquiriu os Orioles. A Carlyle também esteve em negociações para financiar a aquisição majoritária dos Timberwolves.
Já a CVC Capital Partners investiu US$ 150 milhões na WTA e possui participações em diversas ligas e franquias, como a LaLiga da Espanha, a Ligue de Football Professionnel da França e a Premiership Rugby do Reino Unido. Por fim, a Dynasty Equity, fundada em 2022, tem investimentos no Liverpool e na TMRW Sports, empresa de Tiger Woods e Rory McIlroy, que está lançando a liga de golfe TGL no próximo ano.
Entenda a decisão da NFL
A introdução de capital privado na NFL tem como objetivo principal fornecer liquidez adicional para os clubes, financiar projetos de modernização de estádios e permitir a recapitalização das franquias. Com o valor das franquias crescendo rapidamente, muitas vezes fora do alcance até mesmo dos indivíduos mais ricos, a entrada de private equity se torna uma solução viável para manter a competitividade da liga.
Clark Hunt, proprietário do Kansas City Chiefs, enfatizou a importância de ter múltiplas opções de capital disponíveis para as equipes. “Ao ter quatro grupos de investimento, cada um dos quais traz vários bilhões de dólares para a mesa, há capital suficiente para atender qualquer um que queira aproveitar esta oportunidade nos próximos 18 meses”, afirmou.
Embora a NFL esteja seguindo os passos de outras ligas americanas ao permitir a participação de private equity, ela se distingue ao proibir, pelo menos por enquanto, a participação direta de fundos soberanos, como o Public Investment Fund (PIF) da Arábia Saudita, que financia a LIV Golf. Contudo, as regras não impedem que esses fundos participem indiretamente, como investidores em um fundo de private equity que possua até 10% de uma equipe da NFL.
Comparada a outras ligas, como NBA, NHL, MLB e MLS, que já permitem a participação de fundos soberanos, a NFL adota uma postura mais conservadora. No entanto, a possibilidade de fundos soberanos, como o PIF, deterem até 7,5% de uma entidade que possua uma equipe da NFL, deixa uma brecha para futuros movimentos no mercado.
O impacto dessa decisão na NFL vai muito além das fronteiras do futebol americano. A entrada de capital privado pode reforçar a posição da NFL não apenas como a maior liga esportiva dos EUA, mas também como uma referência mundial na integração de finanças e esporte em um mercado cada vez mais globalizado.
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