Embora já sejam evidentes alguns avanços em relação a pessoas com deficiência no esporte, há ainda muitos obstáculos a serem enfrentados. Sendo que a inclusão social ainda é uma das principais barreiras nas vidas desses indivíduos. Justamente por isso, muitos utilizam do esporte como ferramenta para atingir não só essa inclusão, mas também uma melhor qualidade de vida, garantindo um futuro financeiramente mais seguro. Neste artigo, trazemos um pouco da história dos Jogos Paralímpicos de Inverno, que acabaram de ter sua 13ª edição entre os dias 4 e 13 de março de 2022, em Pequim (China), e falamos também sobre a atual realidade dos atletas paralímpicos brasileiros.
História dos Jogos Paralímpicos
Em 1948, Ludwig Guttmann, um neurologista polonês judeu que escapava do nazismo no Reino Unido, iniciava seu pioneirismo na reabilitação de paraplégicos e tetraplégicos veteranos de guerra. Foi através de seus estudos com inúmeros pacientes que notou a importância de atividades físicas na recuperação desses ex-combatentes: a maior parte morria um ano após suas lesões, mas, quando passou a incluir o esporte no tratamento, tudo mudou.
Tal descoberta culminou na criação dos primeiros Jogos de Stoke Mandeville, voltados para veteranos de guerra com alguma deficiência física, que posteriormente evoluíram para o que hoje é conhecido como Paralimpíadas. Anos mais tarde, Ludwig assumiu que um de seus maiores méritos como médico foi pensar a importância do esporte no tratamento de pessoas com deficiência. Mas seu mérito foi muito além de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Diversidade é convidar para ver o jogo, inclusão é chamar para ser titular – e foi isso que Guttmann fez.
Esporte contra o capacitismo
No entanto, mesmo sendo um facilitador, o esporte está longe de ser a solução perfeita, pois a falta de incentivo, investimento, acesso à estrutura – todas correlacionadas – evidencia a discriminação e preconceito (chamado também de “capacitismo”) e vice-versa.
Ou seja, a falta de patrocínios pode fazer com que os paratletas sejam “invisíveis” para o grande público, acentuando o preconceito, ou ainda o próprio preconceito enraizado na sociedade faz com que as empresas não tenham incentivo para investir e estimular esportes paralímpicos. No entanto, nesse caso a ordem dos fatores não altera o produto: o atleta paralímpico ainda enfrenta muitas dificuldades que poderiam ser evitadas.
Dificuldades dos atletas paralímpicos
Além disso, no caso dos paratletas brasileiros que disputam modalidades esportivas de inverno, a situação é ainda mais complexa: além do capacitismo, os esportistas devem superar as dificuldades impostas pelo fato de disputarem modalidades desenhadas para terrenos com neve e gelo morando em um país tropical.
Mas nem mesmo as barreiras climáticas foram capazes de conter os atletas paralímpicos brasileiros. Tendo estreado nos Jogos Paralímpicos de Inverno em 2014, em Sochi, na Rússia, o Brasil se fez presente em todas as edições da competição desde então.
Tal sucesso traz à tona uma das principais questões com a qual se deparam aqueles que não são familiarizados com as modalidades: como os paratletas se preparam para disputar competições em condições tão diferentes das quais estão acostumados?
Investimento no atleta paralímpico
A resposta para essa questão passa pelo trabalho realizado pela CBDN (Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). Surgida a partir do Clube Alpino Paulista (CAP), fundado na década de 60, a confederação oferece suporte aos atletas, recebendo verbas do Comitê Paralímpico Brasileiro provenientes em sua maioria da Lei Agnelo/Piva, que destina 2% das arrecadações das loterias federais (descontadas as premiações) aos comitês olímpicos e paralímpicos do país.
Com esses recursos, além de investir em equipamentos, a CBDN também consegue proporcionar treinamentos adaptados no asfalto/cerrado que simulam, guardadas as devidas proporções, as condições enfrentadas pelos esportistas nas competições. Ressalta a dimensão do esforço realizado pela CBDN o fato do Brasil ser, por exemplo, o único país do mundo com uma competição nacional de roller-ski – versão adaptada para o asfalto da modalidade de ski cross-country.
Resultados inéditos
Evidentemente, todo esse trabalho proporciona seus frutos: nos Jogos Paralímpicos de Inverno de 2022, em Pequim, China, Cristian Ribera e Aline Rocha, ambos atletas de ski cross-country, alcançaram respectivamente a 9ª e 10ª colocação geral, algo inédito para o Brasil.
Confira abaixo os resultados da performance do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Inverno de 2022, realizados em Beijing, China, que teve seu fim no dia 13 de março.
Modalidade Para Ski Cross Country:
Prova | Atleta | Colocação Geral |
Long Distance | Aline Rocha | 7ª |
Long Distance | Cristian Ribera | 14ª |
Long Distance | Guilherme Rocha | 19ª |
Long Distance | Robelson Lula | 20ª |
Long Distance | Wesley dos Santos | 23ª |
Sprint | Cristian Ribera | 9ª |
Sprint | Aline Rocha | 10ª |
Sprint | Guilherme Rocha | 18ª |
Sprint | Robelson Lula | 21ª |
Sprint | Wesley dos Santos | 24ª |
Middle Distance | Aline Rocha | 10ª |
Middle Distance | Cristian Ribera | 13ª |
Middle Distance | Guilherme Rocha | 18ª |
Middle Distance | Robelson Lula | 20ª |
Middle Distance | Wesley dos Santos | 27ª |
Revezamento Misto | Equipe: Aline Rocha, Cristian Ribera, Guilherme Rocha e Robelson Lula | 8ª |
Modalidade Para Snowboard:
Prova | Atleta | Colocação Geral |
Snowboard Cross | André Barbieri | 13ª |
Banked Slalom | André Barbieri | 13ª |
Tais resultados enaltecem a evolução apresentada pelo país nos últimos anos, apesar do baixo investimento e pouca visibilidade. O progresso do país nas modalidades não é por acaso, sendo reflexo dos esforços conjuntos de atletas e confederação na missão de tornar o Brasil uma potência nos Jogos Paralímpicos de Inverno, vencendo todas as barreiras impostas – sejam elas naturais e tangíveis ou apenas fruto da ignorância humana.
Por Sophia Di Buogo e Vítor Fleck