Na próxima sexta-feira (18), serão iniciados os Jogos Mundiais para cegos. A competição acontece na Inglaterra, na cidade de Birmingham e engloba mais de 70 países. O evento acontece a cada quatro anos e já foram realizadas 6 edições. A última aconteceu na Coreia do Sul em 2015, pois, em 2019, a Federação Internacional de Esportes para Cego (IBSA) cancelou o evento por não encontrar uma sede apta para o campeonato. Em 2007, a cidade de São Paulo foi sede da competição.
Há variadas modalidades na competição, englobando Powerlifting, Judô, GoalBall, Futebol, Xadrez, Boliche, Tiro ao Alvo, Showdown, Críquete, Arco e Flecha e, por fim, tênis. A estimativa é de receberem cerca de 1.250 atletas nos dez dias de evento.
Em algumas modalidades têm classes para a deficiência, sendo B1 para cegos totais ou com apenas percepções de luz, B2 para atletas com percepções de vultos e B3 para atletas que conseguem definir imagens.
Modalidades
Powerlifting
O esporte aumenta e desenvolve a força física e as habilidades de um atleta, mesmo se o praticarem como outra forma de exercício. O levantamento de peso (powerlifting) é composto por três movimentos: o agachamento (squat), o supino (bench) e o levantamento terra (deadlift).
Os atletas são categorizados por sexo, idade e peso corporal. Cada competidor tem permissão para três tentativas em cada movimento, sendo o melhor levantamento em cada disciplina somado ao seu total geral. O levantador com o maior total em sua respectiva categoria de idade e peso será declarado vencedor. Em casos em que dois ou mais levantadores alcançam o mesmo total, a pessoa com o peso corporal mais leve vence.
Judô
O Judô é a arte marcial mais popular do mundo para atletas com deficiência visual. Ele se baseia nas mesmas habilidades, movimentos, táticas e respeito da versão convencional do esporte, e os atletas realmente dependem de seus sentidos e instintos para superar o adversário. A principal diferença/modificação em relação ao judô convencional é a forma como os judocas iniciam ou reiniciam a luta. Eles devem começar com um agarre no quimono de seu oponente.
GoalBall
Ao contrário de outras modalidades paralímpicas, o goalball foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com deficiência visual. A quadra tem as mesmas dimensões das de vôlei (9m de largura por 18m de comprimento). As partidas são realizadas em dois tempos de 12 minutos, com três minutos de intervalo. Cada equipe conta com três jogadores titulares e três reservas.
De cada lado da quadra, há um gol com 9m de largura e 1,30m de altura. Os atletas são, ao mesmo tempo, arremessadores e defensores. O arremesso deve ser rasteiro ou tocar pelo menos uma vez nas áreas obrigatórias. O objetivo é balançar a rede adversária.
A bola tem um guizo em seu interior para que os jogadores saibam sua direção. O goalball é um esporte baseado nas percepções tátil e auditiva, por isso, não pode haver barulho no ginásio durante a partida, exceto no momento entre o gol e o reinício do jogo e nas paradas oficiais. A bola tem 76 cm de diâmetro e pesa 1,25 kg.
Futebol
É jogado entre duas equipes com quatro jogadores que são cegos, além de um goleiro que pode enxergar ou ter deficiência visual. Além disso, cada equipe tem um guia atrás do gol adversário para orientar os jogadores quando eles chutam. As regras são semelhantes ao jogo de futsal da FIFA, exceto que o campo de jogo é menor, todos os membros da equipe, exceto o goleiro, jogam com vendas nos olhos, a bola emite um som quando se move e não há a regra de impedimento.
Xadrez
O xadrez para pessoas com deficiência visual pode ser jogado por qualquer um e provou ser um jogo popular ao redor do mundo. Não há classificação no xadrez – todos os jogadores podem competir entre si, independentemente de sua visão. Isso é graças às adaptações que foram feitas às regras da Federação Internacional de Xadrez. No xadrez competitivo entre jogadores com visão e jogadores com deficiência visual, qualquer jogador pode solicitar o uso de dois tabuleiros. O jogador com visão usará um tabuleiro normal, enquanto o jogador com deficiência visual pode usar um tabuleiro adaptado. Os tabuleiros adaptados têm pelo menos 20 x 20 cm, com os quadrados pretos ligeiramente elevados em 3-4 mm. Cada um dos quadrados no tabuleiro tem um buraco no centro para que as peças possam ser encaixadas nesses buracos. Cada uma das peças tem um pino na base, que se encaixa no buraco nos quadrados do tabuleiro, fixando a peça com segurança no lugar. Todas as peças pretas têm um pino fixado em suas cabeças, ajudando o jogador a distinguir entre branco e preto. Os jogadores, ao sentir os quadrados elevados ou rebaixados e as peças, podem determinar se a peça é preta ou branca, ou se está em um quadrado preto ou branco. Ao sentir a forma da peça, eles podem determinar se é um Peão, Torre, Bispo, Cavalo, Rainha ou Rei.
Boliche
O boliche é um esporte popular para pessoas com deficiência visual e é praticado em mais de 20 países ao redor do mundo. Campeonatos mundiais e regionais regulares são realizados, incluindo eventos masculinos, femininos e por equipe. Os jogadores podem jogar em qualquer pista de boliche, mas a maioria dos jogadores cegos totais precisa de orientação visual ou usa uma guia para ajudar em seus lançamentos. Quando a orientação visual está sendo usada, os jogadores cegos recebem auxílio para se alinharem na abordagem por assistentes que enxergam. Os jogadores normalmente se alinham em um ponto de onde desejam realizar seus lançamentos. Esse ponto de referência pode ser uma certa régua na abordagem. Um assistente que enxerga geralmente é necessário para informar ao jogador cego quantos pinos foram derrubados ou como os pinos restantes foram perdidos. Esses assistentes identificam os pinos derrubados ou que ficaram em pé, chamando as localizações numeradas dos pinos. Essas informações orientam o jogador sobre onde lançar a próxima bola ou como modificar o lançamento da bola na próxima jogada.
Showdown
O jogo é disputado em uma mesa especialmente projetada por dois jogadores de lados opostos, usando raquetes planas tipo pás. O objetivo do jogo é rebater a bola na parede lateral, ao longo da mesa, por baixo da tela central e para dentro do gol do oponente. O primeiro jogador a atingir onze pontos, liderando por dois ou mais pontos, é o vencedor. Cada jogador serve duas vezes seguidas. Os jogadores marcam dois pontos por gol e um ponto quando seu oponente acerta a bola na tela, joga a bola para fora da mesa ou toca a bola com qualquer coisa além da raquete ou mão de rebatida.
O som produzido pelas bolinhas que rolam dentro da bola indica a localização da bola durante o jogo. O esporte tem um custo inicial baixo, requer manutenção mínima e pode ser praticado em um espaço do tamanho de uma sala de aula ou sala de reuniões.
Críquete
O Críquete Internacional para Cegos é baseado nas leis tradicionais do críquete praticado por pessoas com visão, com algumas adaptações. A bola tem o mesmo tamanho da usada no críquete convencional, mas é feita de plástico rígido e contém sinos para torná-la audível. Além disso, é arremessada sob o braço. As equipes são compostas por 4 jogadores B1, com os outros 7 divididos entre B2 e B3.
Arco e Flecha
Existem todos os tipos de adaptações que podem ser feitas dependendo da deficiência. Arqueiros com deficiência visual usam miras táteis para tocar o dorso da mão e mirar, podendo receber feedback de um observador sobre onde sua flecha caiu. Dependendo do grau de visão do arqueiro, alguns usam vendas nos olhos ao competir para nivelar o campo de jogo.
Tênis
A bola é maior do que uma bola de tênis regular e possui esferas no centro, que fazem um som à medida que a bola quica no chão. O jogo pode ser disputado em uma quadra menor, usando raquetes mais curtas e uma rede mais baixa. As quadras B1, que é a categoria para aqueles com o nível mais baixo de visão, também possuem linhas táteis. Dependendo da categoria de um jogador, eles podem quicar a bola até três vezes antes de devolvê-la ao oponente. Jogadores com visão podem jogar contra jogadores com deficiência visual, mas têm permissão para apenas um quique e não podem dar voleios.
Brasil
A Confederação Brasileira de Desportos de Deficiência Visuais (CBDV) possui 36 atletas convocados para os jogos mundiais de 2023, estes atletas participaram nas seguintes categorias: Futebol de cegos, Goalball feminino e Judô. No Goalball masculino, o Brasil não participará desta edição pois apenas países que não possuem vagas para as Paraolimpíadas de 2024 em Paris puderam se inscrever e a seleção masculina conquistou sua vaga com o título mundial conquistado em dezembro. Já as mulheres precisam ganhar o título dos jogos para conseguirem carimbar o passaporte para Paris, e, para buscar este feito, teremos em quadra as atletas Ana Carolina Duarte Ruas Custódio, Ana Gabriely Brito Assunção, Danielle Vilas Longhini, Jéssica Gomes Vitorino, Kátia Aparecida Ferreira Silva e Moniza Aparecida de Lima.
O judô é uma das categorias mais relevantes no país, tendo em vista que com ela conquistamos 25 medalhas nas Paraolimpíadas, sendo 5 de ouro, 9 de prata e 11 de bronze. Neste torneio, os judocas brigam por pontos no ranking mundial, principal critério para selecionar os atletas que irão para Paris em 2024, entre os nossos atletas está o Marcelo Casanova, de apenas 19 anos, que é top 4 mundial na categoria até 90kg e B2. A sua jornada se iniciou em 2012 nos tatames do Recreio da Juventude e em 2020 ele trocou o judô convencional para o paralímpico e, até o final do ano passado, ele se encontrava em 16° no ranking e sua ascensão foi meteórica ao ponto que neste torneio será o porta bandeira.
Nos jogos mundiais para cegos deste ano, está inserida na programação a Copa do Mundo, em que a seleção Brasileira é pentacampeã e atual tricampeã consecutiva e entrará em campo com expectativas de conquistar o tetracampeonato. Na fase de grupos teremos os seguintes adversários: Irã, México e Marrocos. O retrospecto contra esses adversários é animador, contra o Irã foram 4 jogos, 3 vitórias e 1 empate, México foram 15 jogos e 15 vitórias, Marrocos foram 3 jogos e 3 vitórias, portanto nunca perdemos para nenhum dos 3 adversários.
Parcerias
Os jogos fizeram diversas parcerias para ser possível realizar o evento, entre elas está uma das maiores de seus setores, como por exemplo VISA, AirBnB, Allianz, Bridgestone, Panasonic, Samsung, Coca-Cola, Intel, P&G, Toyota, entre outras.
Transmissão
A transmissão dos Jogos Mundiais de Cegos estará presente pelas redes sociais do torneio como Facebook, Instagram e Twitter. Entretanto, não serão todas as modalidades que irão ser transmitidas desde o início, as modalidades possíveis de acompanhar serão futebol para cegos masculino e feminino, futebol com visão parcial masculino, Goalball masculino e feminino e todas as categorias do judô, enquanto o arco e flecha só será transmitida o último dia e o críquete apenas as finais masculinas e femininas. As redes sociais para acompanhar a competição são @IBSAGames2023.
Por Rennan Bianchi e Thiago Diniz