Investindo no futuro: a nova direção dos clubes sauditas

Entenda a nova estratégia da Saudi Pro League, baseada em regras flexíveis e no desenvolvimento a longo prazo


Por SBL Mackenzie

16 de outubro de 2024

Parceria Editorial

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O futebol saudita tem movimentado o mercado de futebol mundial há algumas temporadas, disputando e até pagando maiores salários que o mercado europeu para craques de grande influência no mundo da bola, como Karim Benzema (eleito o melhor jogador do mundo em 2022), Neymar e Cristiano Ronaldo. Em 2022, o maior ídolo da seleção Portuguesa foi seduzido pelas cifras de 1,1 bilhão de reais por ano oferecidas pelo Al-Nassr da Arábia Saudita, um aumento de quase nove vezes em relação aos seus vencimentos em seu clube anterior, o Manchester United, se tornando o jogador mais bem pago do mundo.

O futebol saudita gastou no primeiro semestre de 2023 cerca de 1 bilhão de euros, ficando atrás apenas da Premier League, que gastou cerca de 2 bilhões de euros e superando outras tradicionais ligas europeias como LaLiga, Série A, Ligue 1 e Bundesliga. O investimento no primeiro semestre foi tão incisivo que a liga bateu seu recorde gastos com apenas duas semanas de janela de transferências aberta, tendo Neymar Jr como a principal, o craque brasileiro se transferiu do PSG para o Al-Hilal em agosto de 2023 por 90 milhões de Euros (cerca de 540 milhões de reais pelas cifras da época). De acordo com o jornal francês L’Equipe (à época da negociação do brasileiro com o Al-Hilal), o desejo de Neymar seria de retornar ao futebol europeu após o fim do vínculo com o clube saudita, quando terá 33 anos.

Foco em jovens promessas do Brasil?

Contudo, observamos um movimento diferente dos clubes sauditas na última janela. Anteriormente, seu foco estava nos grandes jogadores com o nome estabelecido no futebol mundial, contando com a marca e marketing de forma a atrair atenção à liga. Desta vez, eles resolveram ir atrás de jogadores sem tantos feitos no futebol europeu, porém com mais juventude, um grande potencial de crescimento e com potencial de revenda.

O jogador Marcos Leonardo havia fechado contrato com o Benfica em 3 de janeiro de 2024. Ele foi vendido pelo Santos ao clube português por 18 milhões de euros, realizando o sonho de muitos jovens de jogar na Europa. Contudo, em apenas nove meses, já havia assinado contrato com o Al-Hilal, da Arábia Saudita, sendo comprado por 40 milhões de euros (cerca de 250 milhões de reais), pouco mais que o dobro do valor pelo qual o Benfica havia adquirido o jogador. Os jovens brasileiros Ângelo e Wesley, ambos com 19 anos, e Alexsander, com 20, também têm potencial para jogar na Europa, mas foram parar no futebol saudita.

Os dados dessa última janela de transferências mostram que o mercado saudita não tem um foco específico em jovens promessas do Brasil, mesmo com forte investimento para trazê-las. A mais recente jovem estrela é o francês Moussa Diaby, trocando o Aston Villa pelo Al-Ittihad na primeira janela de 2024 pelo valor de 60 milhões de Euros (368 milhões R$), se tornando a segunda contratação mais cara do futebol saudita.

“Estou animado de ingressar no Al-Ittihad e fazer parte de um projeto que visa construir um time forte, que reflete a rica história e os valores do clube. Não vejo a hora de colaborar com meus colegas e alcançar vitórias para dar alegria à torcida” disse Diaby.

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Diminuição no investimento

O ano de 2024 marcou algumas mudanças na estratégia de mercado saudita, além do foco em jovens promessas do futebol mundial, a liga saudita reduziu mais da metade do valor investido em comparação com o ano anterior caindo de cerca de 1 bilhão de euros para 420 milhões de euros (2,5 bilhões R$). Os sauditas continuaram com valores elevados, porém se enxergou uma menor necessidade de investimento, com uma lida de renome pré-estabelecida, e jogadores com status de “promessa” no radar.

Essa mudança de foco nos investimentos demonstram a diferença em comparação com o período de ascensão do mercado chinês, onde levavam nomes grandes do futebol europeu por valores acima do mercado, porém visavam apenas os veteranos, situação que envelheceu o campeonato chinês rapidamente, e, juntado com outras questões internas, como a diminuição de investimentos e a visibilidade da liga, tanto interna quanto externa.

“Sauditas não querem repetir o insucesso esportivo da seleção do Catar na última Copa, o insucesso recorrente dos clubes norte-americanos nas competições da Concacaf, e nem o insucesso comercial dos chineses. Por isso estão também atentos a jovens promissores e à “oxigenação” de suas principais equipes, para que essas tenham também atletas com ambições competitivas típicas dos iniciantes, e que possam ser dominantes nas competições asiáticas”, afirmou Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil.

Mudanças na regra

A Saudi Pro League, visando oferecer mais autonomia, oxigenar a liga e promover o desenvolvimento de seus clubes, abriu uma brecha na regra de estrangeiros, que limitava a inscrição de até oito estrangeiros por clube nas competições. Agora, eles ampliaram esse teto para até dez atletas estrangeiros, sendo que dois deles devem ter até 21 anos de idade.

“Essa alteração é uma tentativa da liga de mudar o perfil dos jogadores contratados pelos clubes árabes, buscando dar espaço para novos talentos e desenvolver ainda mais o futebol local. A ideia é garantir que o fortalecimento do futebol na Arábia Saudita seja um projeto de longo prazo, e não apenas um ‘boom’ passageiro” explicou o advogado Vitor Hugo Almeida, especialista em Direito Desportivo e membro do Bichara e Motta Advogados.

O futebol saudita não atingirá as expectativas do futebol chinês ou será uma pedra no sapato do futebol europeu? O fato é que a Saudi Pro League ainda está longe de se equiparar às principais competições europeias, mas não podemos deixar de considerar que eles têm uma estratégia bem alinhada, uma flexibilização de normas e regras para adequar suas competições e uma ótima estrutura financeira, necessidades para o sucesso neste mercado tão grande e concorrido. Sendo assim, há muito a se esperar em relação ao futuro da Saudi Pro League.