Esporte é entretenimento, e Jay-Z, um dos maiores artistas e empresários do mundo, se deu conta disso há algum tempo. Ele foi o primeiro rapper a atingir a marca de US$ 1 bilhão de patrimônio em 2019, e hoje esse valor já é estimado em US$ 2,5 bilhões. Contudo, pouco desse montante veio diretamente da indústria musical.
Entre investimentos em diversos segmentos, como moda, bebidas, streaming, aviação e cosméticos, em 2008, Jay-Z, em parceria com a gigante Live Nation, criou a agência Roc Nation. Ela atua nas áreas de agenciamento de talentos, produção musical, desenvolvimento estratégico de marcas, moda, turnês, e cuida das carreiras de nomes como Shakira, Lil Uzi Vert e J. Cole. E é justamente aqui que os esportes entram em jogo.
Roc Nation e futebol
Além do setor musical, a Roc Nation tem um “braço” no setor esportivo, a Roc Nation Sports, que agencia atletas de futebol, basquete, futebol americano e outros esportes, auxiliando no desenvolvimento de suas marcas pessoais.
Especificamente no futebol, a agência conta em seu portfólio com atletas como Kevin De Bruyne, Romelu Lukaku e Marcus Rashford, além de escritórios em Nova York, Los Angeles e Londres. Segundo a revista Forbes, a agência está entre as 10 maiores do mercado, lidando com contratos que, somados, ultrapassam os US$ 2,6 bilhões.
Miopia em marketing nos esportes
Mas qual é o diferencial da Roc Nation em relação a outras empresas do ramo? Justamente a forma de expandir a visão na área em que atua, ao perceber que o futebol, basquete ou qualquer outro esporte fazem parte de um contexto ainda maior: do entretenimento e da transformação social.
Essa é uma visão que muitas empresas ainda não aprenderam ao longo do tempo. Ela foi tema de um dos principais artigos de marketing, escrito por Theodore Levitt nos anos 1960, chamado “Miopia em Marketing”. Em resumo, a miopia em marketing é a perda de foco da empresa em relação ao seu ramo de atuação, ao se concentrar apenas na produção e venda de bens e serviços, sem buscar identificar e satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores. Essa visão estreita pode levar, com o tempo, à perda de relevância do negócio, sem que os donos percebam.
A primeira parceria da Roc Nation com um clube de futebol ilustra bem essa ideia. O acordo com o Milan, em 2020, visava expandir a marca do clube italiano, criar colaborações de merchandising e fortalecer sua presença digital. A estratégia de longo prazo buscava posicionar o clube não apenas como uma equipe de futebol, mas como uma marca de entretenimento global, explorando novos mercados e engajando torcedores de maneira inovadora.
Isso foi corroborado por Casper Stylsvig, diretor de receitas do Milan: “Essa ambiciosa parceria nos ajudará a mostrar o poder das marcas AC Milan e Roc Nation nos esportes, entretenimento e estilo de vida, e nos dará novas maneiras empolgantes de interagir com nossos fãs e parceiros ao redor do mundo.”
Um dos maiores méritos e diferenciais da Roc Nation é a forma como trata seus agenciados, como no caso de Marcus Rashford. O jogador do Manchester United influenciou, em 2020, o governo britânico a fornecer alimentos a crianças de famílias carentes durante a pandemia. Na época, o diretor de estratégia da Roc Nation Sports declarou: “Procuramos figuras que representem algo além do esporte que praticam. O que ele fez transcendeu a raça e qualquer agitação social que estamos experimentando. Este é um rapaz de 22 anos que diz: ‘Nenhuma criança deve passar fome neste país. Isso é inaceitável.’”
A Roc Nation aplica esse conceito ao ver o futebol não apenas como um esporte, mas como entretenimento. Rashford não é visto apenas como o atacante do Manchester United e da seleção inglesa, mas como uma personalidade que pode, por exemplo, estrelar a capa da revista Vogue ao lado de ativistas de causas raciais, sociais, políticas e de saúde mental.
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