IA no esporte: Olympic Channel defende o toque humano

Chris Jackson, chefe de dados do Olympic Channel, ressalta que a inteligência artificial deve ser uma aliada na criação de conteúdo


Por Guilherme Calafate

4 de janeiro de 2025

A aplicação da inteligência artificial (IA) no mundo esportivo tem transformado processos dentro e fora do campo de jogo. Seja na identificação de talentos, na análise de desempenho ou na criação de conteúdo, a IA vem sendo cada vez mais explorada. Porém, manter o equilíbrio entre o uso da tecnologia e a autenticidade humana é um desafio central, segundo Chris Jackson, chefe global de dados digitais e análises do Olympic Channel.

Em entrevista ao portal SportsPro, durante o evento SportsPro Madrid, Jackson destacou que, embora a plataforma de streaming do Comitê Olímpico Internacional (IOC) ainda não produza conteúdo exclusivamente com IA, a tecnologia é vista como uma ferramenta para empoderar criadores de conteúdo.

“O toque humano é vital”, afirmou Jackson. “Nos Jogos Olímpicos, nós entendemos que, enquanto contamos histórias esportivas, estamos contando, antes de tudo, histórias humanas que têm o esporte como pano de fundo.”

IA como aliada, não substituta

Jackson explica que a IA tem sido utilizada pelo Olympic Channel para otimizar processos e fornecer informações detalhadas, permitindo que jornalistas e criadores contem histórias com maior profundidade e contexto.

Uma das aplicações mais eficazes está em tarefas de back-end, como a marcação de artigos e a organização de dados nos sistemas de gerenciamento de conteúdo. Além disso, a IA ajuda a identificar momentos-chave, com base em dados sobre o que mais ressoa com o público.

“Quando destacamos um momento importante, conseguimos rapidamente obter o contexto — como o histórico de medalhas ou informações sobre o atleta — que antes levaria muito mais tempo para o redator,” explicou Jackson.

Outro exemplo é a capacidade de acessar rapidamente histórias passadas, o que enriquece o conteúdo atual. “Se fizermos isso corretamente, conseguimos colocar muita ‘alma’ no texto, mas sempre com um humano envolvido,” acrescentou.

Paris 2024: Inovação e Sustentabilidade

Durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024, a IA foi aplicada em diversas frentes, desde a criação automatizada de vídeos em múltiplos formatos e idiomas, até o combate ao assédio online sofrido por atletas. A tecnologia também foi usada para capturar dados e gerenciar energia, tornando os Jogos mais sustentáveis.

Além disso, o IOC anunciou que lançará em 2025 um projeto global de identificação de talentos esportivos, também com o suporte da inteligência artificial.

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Liderança responsável no uso da IA

A crescente aplicação da IA no esporte levanta preocupações sobre a substituição de empregos e a perda de autenticidade no conteúdo gerado. Em abril deste ano, o presidente do IOC, Thomas Bach, defendeu uma colaboração intersetorial e a criação de regulamentações governamentais para garantir o uso responsável da tecnologia.

Segundo Bach, a “Agenda Olímpica de IA” busca oferecer um marco holístico para aplicar a tecnologia no esporte. O dirigente, que deixará o cargo em 2025, destacou que o objetivo do comitê é liderar o uso da IA com responsabilidade.

O momento é agora

Para Jackson, o momento atual é ideal para explorar as possibilidades da inteligência artificial, uma vez que a tecnologia já está consolidada e em um ambiente estável. “As melhorias tecnológicas virão nos próximos anos, mas não serão tão revolucionárias a ponto de eliminar o trabalho humano necessário,” afirmou.

Sua mensagem final é clara: “Agora é a hora de começar. Todo o conhecimento adquirido no uso dessas ferramentas agora será ainda mais valioso no futuro.”