Estados Unidos: o novo país do futebol

Além da Copa América, os norte-americanos vão sediar o Super Mundial de Clubes, em 2025, e a Copa do Mundo, em 2026; Olimpíadas de 2028 também serão disputadas nos EUA


Por Raphael Fernandes

17 de julho de 2024

Pulisic, astro dos Estados Unidos Créditos: Nathalia Teixeira

A Copa América 2024 chegou ao fim na última semana (14) com a Argentina de Lionel Messi sendo campeã pela 16ª vez do torneio. Considerado o primeiro teste de fogo para a Copa do Mundo, o saldo final da organização acabou sendo negativo por vários motivos. A começar pela redução dos campos, que foi alvo de críticas por todas as seleções participantes.

Dos 14 estádios utilizados na competição, 11 pertencem a times de NFL. Por conta disso, a Copa América foi disputada em gramados que medem 100 metros de comprimento por 64 metros de largura, bem diferente do padrão adotado pela FIFA (105×68). Para o técnico da seleção argentina, Lionel Scaloni, essa decisão foi descabida. Além disso, ele fez um apelo à Conmebol durante uma coletiva de imprensa.

“Aqui será o próximo Mundial, e imagino que os campos serão maiores e dentro do regulamento, porque dos que jogamos não me lembro se algum tinha as dimensões. Normalmente, um campo desse nível costuma ter dimensões maiores do que estas. Dois metros para cada lado é bastante, acredite… Espero que o Mundial seja jogado em campos de futebol, e não de futebol americano”, salientou Scaloni.

Para a Copa de 2026, que também terá Canadá e México, os gramados terão o tamanho convencional. A informação consta nos documentos oficiais da candidatura tripla dos norte-americanos e não deve ser problema no futuro. Outro ponto que a organização precisará ajustar é a segurança nos estádios.

Brigas generalizadas mancham a Copa América 2024

Darwin Núñez defendendo o povo uruguaio dos colombianos.
Darwin Núñez escalou as grades da arquibancada, recebeu um soco, mas conseguiu puxar sua esposa e filho para o gramado (Créditos: Nick Tre. Smith/Icon Sportswire via Getty Images)

Na semifinal entre Uruguai e Colômbia, Suárez e Borja discutiram feio após o apito final. Uma confusão se instaurou dentro de campo e subiu também para as arquibancadas, onde os colombianos, que eram a grande maioria no estádio, compraram a briga e começaram a encurralar torcedores uruguaios, além de familiares dos jogadores. Socos e chutes foram trocados e alguns craques, como Darwin Nunez, se envolveram no conflito.

Três dias depois, na final disputada entre Argentina e Colômbia, torcedores tentaram invadir o Hard Rock Stadium sem ingresso, o que gerou uma confusão desenfreada até com quem comprou as entradas e eram familiares de jogadores. Inclusive, em um dos vídeos que circulam na internet, alguns colombianos tentam invadir o estádio pelo duto de ar-condicionado.

De acordo com o jornal americano USA TODAY, a polícia prendeu pelo menos 10 pessoas e sete torcedores receberam atendimento da equipe de bombeiros na rampa de entrada do estádio de Miami. A prefeita do condado de Miami, Daniella Levine Cava, já se pronunciou sobre o assunto em suas redes sociais e disse que implantará novos protocolos em jogos futuros.

“A final da Copa América é organizada pela CONMEBOL, e o Departamento de Polícia de Miami-Dade fornece suporte junto com outras agências de segurança pública. Vamos ser claros: esta situação nunca deveria ter ocorrido e não pode acontecer novamente. Trabalharemos com a liderança do estádio para garantir que uma revisão completa desta noite ocorra imediatamente, a fim de colocar em prática os protocolos e políticas necessários para os jogos futuros”, finalizou Cava.

Erros de arbitragem colocam a Conmebol em situação delicada

Vinicius Jr em ação contra a Colômbia na Copa América.
Pênalti em Vini Jr. mudaria o cenário do jogo entre Brasil e Colômbia (Créditos: Ezra Shaw/Getty Images)

Além do campo reduzido e da segurança precária, a arbitragem poderia ser melhor. A tecnologia de impedimento semi-automático que foi implantada na Eurocopa não esteve presente na Copa América, o que prejudicou a revisão do VAR. Outra situação que manchou o torneio foi o pênalti não marcado do lateral Muñoz em cima do atacante Vinicius Jr. durante a partida entre Brasil e Colômbia.

No lance em questão, Vini invadiu a área e Muñoz o derrubou claramente com um carrinho. Jesús Valenzuela, porém, viu toque na bola e não marcou a penalidade. Dias depois, a Conmebol admitiu que o árbitro e a equipe do VAR erraram ao não marcar a penalidade.

“No minuto 42 (do 1º tempo), em uma disputa de bola dentro da área da Colômbia, um defensor não toca a bola e produz um contato imprudente na ação. O árbitro não consegue observar a ação e deixa que a partida continue. O VAR, em sua checagem protocolar, analisa o lance e não consegue identificar que o defensor não toca a bola antes de entrar em contato de maneira imprudente com o atacante. Com isso, o VAR confirma, de maneira incorreta, a decisão original de campo”, diz a confederação em nota oficial.

Conmebol quebra recorde de receita com Copa América 2024

Torcida do Brasil e Uruguai se divertindo durante a Copa América.
Média de público da Copa América foi de 50 mil espectadores (Créditos: Ethan Miller/Getty Images)

Apesar dos problemas mencionados, a Copa América também teve seus acertos. De acordo com a Conmebol, mais de um milhão de ingressos foram vendidos durante o torneio. Além disso, a estimativa é que a confederação tenha arrecadado US$ 600 milhões (R$ 3,2 bilhões) com o evento. O triplo da arrecadação média de edições anteriores que girava entre US$ 150 e 160 milhões (R$ 870 milhões).

Esse sucesso também se expande para as redes sociais e audiência. Durante a competição, o perfil oficial da Copa América no Instagram saiu de 1 milhão para 5 milhões de seguidores. Além disso, nos mesmos moldes do Super Bowl, tivemos a presença de Shakira no Halftime Show, no qual foi o assunto mais comentado do mundo no X. Fazendo um recorte para o Brasil, a Rede Globo alcançou 20 pontos de audiência na final, superando em 118% a média da edição passada, que ocorreu em 2021 e foi exibida pelo SBT.

Mundial de Clubes da FIFA será a última prova de fogo para a Copa do Mundo

Jhon Arias durante uma partida do Fluminense pelo Mundial de Clubes.
Além do Fluminense, Palmeiras e Flamengo já estão confirmados na próxima edição (Créditos: Marcio Machado/Eurasia Sport Images/Getty Images)

Por ser um torneio organizado pela FIFA, é bem provável que o impedimento semi-automático também esteja no Super Mundial de Clubes, que acontecerá entre os dias 15 de junho e 13 de julho do ano que vem. Sendo assim, o ponto mais urgente que a organização terá que resolver é a questão de segurança. Simultâneo ao Mundial, acontecerá a Copa Ouro, que reúne as principais seleções da Concacaf.

Para resolver essa dor de cabeça, a FIFA sugeriu dividir o país ao meio. O Mundial aconteceria na costa leste, em cidades como Boston, Nova York/Nova Jersey, Filadélfia, Miami, Atlanta, Charlotte e Orlando, para facilitar o fuso horário com a Europa. A Copa Ouro se concentraria na costa oeste, em cidades da Califórnia, Seattle, Las Vegas e Arizona.

Essa opção ainda está em análise, assim como a possibilidade das cidades mais centrais como o Texas e Kansas, se dividirem entre as duas competições, possibilitando um intercâmbio entre os torneios de clubes e de seleções, algo que seria inédito. Se tudo der certo na organização dessas duas competições, podemos afirmar que os norte-americanos estão prontos para a Copa do Mundo de 2026, que tem 11 cidades dos EUA como sedes, além de três no México e duas no Canadá.

Jogos Olímpicos de 2028 também serão disputados nos Estados Unidos

Logo dos Jogos Olímpicos de 2028, que acontecerá nos Estados Unidos.
LA 2028 terá beisebol, críquete, flag football, lacrosse e squash como esportes adicionais (Créditos: COI)

Entre os dias 14 a 30 de julho, a próxima edição das Olimpíadas acontecerá na cidade de Los Angeles, em 2028. Lembrando que essa será a terceira vez que LA receberá o evento, sendo as anteriores em 1932 e 1984. Se formos contar os Estados Unidos como um todo, o país sediou mais duas edições da competição: Saint Louis-1904 e Atlanta-1996.

Conhecida como a cidade dos esportes norte-americanos, Los Angeles possui estruturas modernas que serão utilizadas nos Jogos Olímpicos. O BMO Stadium, casa do Los Angeles FC na MLS, e o SoFi Stadium, dividido pelo Rams e Chargers na NFL, são exemplos disso. Além disso, o Los Angeles Clippers, da NBA, recentemente construiu o Intuit Dome, que também será utilizado nas Olimpíadas.

Será que o “Soccer” vai vingar nos Estados Unidos?

Pulisic durante uma partida pelos Estados Unidos
Futebol é apenas o quinto esporte mais procurado dos norte-americanos (Créditos: Bill Barrett/ISI Photos/USSF/Getty Images for USSF)

Com tantos eventos acontecendo em um período curto de quatro anos, os Estados Unidos têm tudo para se tornar o país do futebol. Não sabemos se a categoria masculina algum dia terá sucesso como o feminino – que é a maior campeã mundial com quatro títulos – mas temos que reconhecer que eles estão se esforçando para uma mudança.

Estrelas mundiais como Lionel Messi e Luis Suárez já atuam na MLS. E agora, a confederação do país está de olho em Jürgen Klopp, ex-Liverpool para o comando técnico da seleção. De acordo com o jornal The Independent, a proposta dos Estados Unidos seria focada no planejamento para a Copa do Mundo de 2026. Liderando posteriormente uma reformulação no elenco, além do desenvolvimento de novos jogadores para o futuro. Algo que seria interessante de ver no país que se acostumou a chamar o futebol de “Soccer”.