Efeito Fabrício Bruno: por que os jogadores do Flamengo não querem mais sair do Brasil?

Medalhões preferem a estabilidade do que uma saída arriscada para um clube médio da Europa


Por Raphael Fernandes

7 de junho de 2024

A silhueta do Fabrício Bruno gritando em uma espécie de megafone Créditos: Nathalia Teixeira

Após se destacar nos amistosos da seleção brasileira contra Inglaterra e Espanha, Fabrício Bruno ficou em evidência no mercado europeu. No início da temporada, a Atalanta sinalizou que pagaria 45 milhões de reais pelo zagueiro de 28 anos do Flamengo. Clubes de Portugal e da Rússia também tentaram, mas tiveram a mesma resposta negativa.

Só em maio que os cariocas mudaram de ideia quando o West Ham topou pagar 15 milhões de euros (R$ 84,3 milhões na cotação atual) pelo jogador. A princípio, parecia uma oferta irrecusável: jogar na Premier League, enfrentar os principais craques da atualidade e ter a chance de atuar na Champions League algum dia. Além, é claro, da seleção brasileira, afinal, estando na Europa, torna-se mais fácil para uma convocação. Entretanto, existe apenas um “porém” nesta história.

O Flamengo paga salário nível “europeu” para seus jogadores

Gabigol comemorando um gol contra o Vasco.
Com salário de R$ 1,6 milhões, Gabigol é o jogador mais bem pago do Flamengo (Creditos: Ruano Carneiro/Getty Images)

De acordo com o Capology – site especializado em finanças do esporte – o Flamengo tem uma folha salarial próxima dos R$ 25 milhões mensais, sendo a maior do Brasil. Inclusive, no início do ano, Fabrício Bruno renovou com o rubro-negro até dezembro de 2028. Não há informações concretas sobre quanto o defensor ganha atualmente, mas pela recusa ao West Ham, é provável que seja um valor substancial.

Pelo que o jornalista inglês Graeme Bailey apurou, os Hammers se mostraram dispostos a pagar 40 mil euros por semana ao jogador, o que convertendo para os padrões brasileiros, seria algo em torno de R$ 1 milhão por mês. Colocando na ponta do lápis, Fabrício Bruno percebeu que o valor oferecido estava próximo do que recebe no Flamengo e tentou renegociar a oferta salarial, mas ouviu de seus agentes que o West Ham já tinha esticado a corda até o limite.

O clube inglês até chegou a oferecer uma bonificação, mas como o custo de vida em Londres é maior do que no Rio de Janeiro, a negociação acabou melando. Além disso, outros fatores, como a vida pessoal do atleta, pesaram na decisão. Uma mudança para a Inglaterra não demanda apenas gastos, mas influencia na estabilidade de uma família. Ele é casado e tem um filho de dois anos.

Fabrício Bruno não é o único jogador do Flamengo que já recusou uma oferta da Europa

Arrascaeta comemorando um gol contra o Palestino.
A multa rescisória para tirar Arrascaeta do Flamengo é de 50 milhões de euros, quase R$ 268 milhões (Créditos: Wagner Meier/Getty Images)

Em 2022, o agente de Gabigol, Junior Pedroso, disse ao Globo Esporte que o Newcastle e West Ham manifestaram interesse no atacante. O primeiro fez apenas uma consulta formal, enquanto o segundo fez uma proposta de empréstimo, que não foi para frente. No ano seguinte, foi a vez do Zenit oferecer 25 milhões de euros (R$ 133,7 milhões) por Pedro.

Mesmo sendo um dos pilares do Flamengo desde 2019, nunca ficou muito claro se De Arrascaeta recebeu propostas para sair do clube carioca. De qualquer forma, durante uma entrevista para o programa Punto Penal, do canal 10, da TV uruguaia, o meia revelou que nunca pensou trocar o Flamengo por um clube médio da Europa.

“O que eu posso dizer, hoje em dia, por conta da minha idade, é muito difícil uma equipe grande, de prestígio, da Europa, investir em mim. Porque para sair do Flamengo é difícil. A cláusula é alta, então ir para uma equipe que talvez na Europa não luta por coisas importantes, é capaz que não me motive muito”, complementou Arrascaeta, que na época, tinha 29 anos.

Essa ambição de “lutar por coisas importantes” não diz respeito apenas ao Arrascaeta. Todos os jogadores sul-americanos desejam receber bem, ganhar troféus e representar a seleção de seus respectivos países. Então, tendo a oportunidade de fazer isso em seu próprio continente, torna-se mais difícil uma transferência para um clube de menor expressão da Europa. Antigamente, o fluxo de saídas era muito maior, pois o futebol brasileiro vivia seu pior momento econômico da história. Os salários eram atrasados e a remuneração oferecida era bem abaixo do que poderia ganhar no Velho Continente.

Mas, agora, com a criação de SAFs, investimentos exorbitantes de empresários e a inteligência financeira de alguns clubes – como é o caso do Flamengo – esse panorama vem mudando aos poucos. Não é qualquer proposta que balançará o coração dos medalhões brasileiros. É preciso ter um projeto, uma ambição, uma possibilidade de ser campeão. Até porque dinheiro eles já têm, só falta o protagonismo em um grande clube da Europa. Ninguém quer ser mais coadjuvante.

Bento pode ser em breve a venda mais cara de um goleiro no futebol brasileiro

Goleiro Bento comemorando uma vitória do Athletico-PR.
Destaque do Furacão, Bento vem sendo monitorado pela Inter de Milão desde o ano passado. (Créditos: Heuler Andrey/Getty Images)

Saindo um pouco da esfera “Flamengo”, Bento, que é um dos companheiros de seleção brasileira de Fabrício Bruno, está em detalhes de ser vendido para a Inter de Milão. Segundo o jornal Gazetta Dello Sport, os italianos já chegaram a um acordo com o Athletico-PR.

Ainda não há informações exatas sobre o valor, mas especula-se que a negociação possa render 20 milhões de euros aos cofres do Furacão (cerca de R$ 111 milhões). A diretoria dos Nerazzurri considera o valor alto, mas por saber do interesse de alguns clubes da Inglaterra, a negociação deve se manter. E pelo visto, todas as transferências do futebol brasileiro devem seguir pelo mesmo padrão. Se chegar com uma proposta frágil, as chances de receber um “não” são gigantes. Parece que os europeus vão ter que suar mais para levar os medalhões daqui.