No futebol moderno, academias deixaram de ser apenas celeiros de ídolos locais para se transformarem em ativos estratégicos. Um estudo recente da Football Benchmark explora como clubes utilizam seus centros de formação para gerar valor, seja por meio de ganhos financeiros diretos ou economias indiretas. A pesquisa destaca tendências e desafios enfrentados pelos clubes, revelando que, embora as academias sejam ferramentas indispensáveis, suas estratégias variam amplamente de acordo com o contexto de cada instituição.
O impacto das academias no futebol contemporâneo
A história do futebol é rica em exemplos de academias que marcaram época, como os “Busby Babes” do Manchester United ou os talentos de La Masia do Barcelona. Contudo, segundo a Football Benchmark, a função das academias evoluiu significativamente. Hoje, elas servem como:
- Instrumentos financeiros – com a venda de jogadores formados para equilibrar as contas e gerar lucros. Desde a temporada 2018/19, quatro dos 12 jogadores mais caros do mundo vieram de academias, rendendo mais de 100 milhões de euros para seus clubes formadores.
- Economias operacionais – reduzindo gastos com transferências e salários de contratações externas, especialmente em clubes grandes.
Um exemplo notável é o Barcelona, que, após enfrentar graves dificuldades financeiras, apostou em jogadores formados em La Masia para compor mais da metade de sua equipe principal. Essa abordagem não só aliviou o balanço financeiro, mas também reforçou a identidade do clube, gerando engajamento entre os torcedores.
Dados e desafios econômicos
A pesquisa da Football Benchmark aponta que os custos médios de operação de uma academia de elite na Europa podem ultrapassar 4,8 milhões de euros anuais, com clubes da Premier League frequentemente gastando o dobro desse valor. Além disso, construir instalações modernas pode exigir um investimento inicial entre 20 e 30 milhões de euros.
Esses custos altos são justificados pelo potencial de retorno financeiro e esportivo. No entanto, há desafios consideráveis, como:
- A longa jornada de desenvolvimento de jogadores, que pode levar de 10 a 15 anos.
- A imprevisibilidade dos resultados, com muitos jogadores não atingindo o nível esperado.
- A concorrência de grandes clubes, que frequentemente atraem jovens promessas de equipes menores.
Adaptação às novas realidades
O relatório também aponta como a pandemia de COVID-19 e as restrições financeiras recentes trouxeram novas perspectivas às academias. Com orçamentos reduzidos e limitações em contratações, muitos clubes optaram por reforçar seus elencos com talentos internos.
Além disso, o aumento de estruturas de posse multi-clubes e a polarização do mercado – dominado por poucos gigantes do futebol – tornam as academias uma alternativa viável para reduzir custos e aumentar a competitividade.
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Estratégias personalizadas para cada clube
A pesquisa da Football Benchmark ressalta que não há uma fórmula única para o sucesso. A eficácia de uma academia depende de como ela se alinha aos objetivos do clube. Alguns exemplos incluem:
- Clubes pequenos: Apostam na venda de talentos para gerar receitas essenciais, muitas vezes beneficiando-se do sistema de compensação por treinamento da FIFA.
- Clubes médios: Integram as academias em seus modelos de negócios, utilizando as vendas de jogadores para subsidiar operações.
- Grandes clubes: Usam academias para encontrar talentos de elite e reduzir custos de contratação.
Clubes europeus com mais transições bem-sucedidas
Transições da academia para a equipe principal (2018/19 – 2022/23)
- Atalanta – 35
- Dynamo Kyiv – 34
- Shakhtar Donetsk – 34
- Internazionale (Inter de Milão) – 33
- Red Star Belgrade (Estrela Vermelha) – 31
- MSK Žilina – 29
- Dinamo Zagreb – 29
- Rangers FC – 29
- Manchester City – 28
- Hajduk Split – 27
- Benfica – 27
Nota: Uma “transição bem-sucedida” significa um jogador que acumulou 450 minutos jogados pela equipe principal no período analisado, considerando apenas partidas oficiais de clubes.
Fonte: Football Benchmark analysis from ECA’s “Transition from academy to first team football” report.
Academias como pilares do futuro
Embora representem investimentos de longo prazo, as academias continuam sendo fundamentais para o futuro do futebol. Como aponta a Football Benchmark, elas não apenas produzem talentos que geram valor financeiro, mas também ajudam a reforçar a identidade dos clubes, conectando-os a suas comunidades e torcedores.
À medida que os custos no mercado de transferências aumentam e a busca por sustentabilidade financeira se intensifica, os clubes que souberem alinhar suas academias a uma visão estratégica estarão mais bem posicionados para competir dentro e fora de campo. O desafio, contudo, é encontrar o equilíbrio entre os retornos financeiros, o desempenho esportivo e a formação de talentos.