BRICS: colaboração esportiva e a realização de megaeventos para aumentar o prestígio internacional

Os países emergentes, especialmente os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tem utilizado o esporte como promoção política internacional e meio de fortalecer a legitimidade política e a coesão nacional a nível interno


Por Esportes em Debate

29 de agosto de 2023

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BRICS: colaboração esportiva e a realização de megaeventos para aumentar o prestígio internacional

Os megaeventos esportivos são competições de grande escala que têm relevância global e atraem um grande número de participantes, espectadores e meios de comunicação; Isto obriga o país anfitrião a realizar grandes investimentos em infra-estruturas, logística e segurança, bem como a implementação de políticas públicas que requerem a colaboração de organizações públicas e privadas em escala local, nacional e internacional.

Nesse sentido, pode-se ressaltar o destaque que os países que compõem o grupo dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tiveram nos últimos anos com seu desenvolvimento no âmbito esportivo. A grande dimensão das suas economias e o seu rápido crescimento tornaram-nos Estados mais ativos e influentes nos assuntos econômicos globais, desfrutando de maior peso e influência na Organização Mundial do Comércio (OMC) ou no G-20, por exemplo. Ao mesmo tempo, os BRICS implementaram uma série de medidas para alcançar os países ocidentais desenvolvidos no esporte, colocando especial ênfase nos megaeventos.

China, Brasil, África do Sul e Rússia receberam todos os tipos de megaeventos esportivos, desde as Olimpíadas de verão e inverno até os campeonatos mundiais e regionais de futebol e outros esportes, em pouco mais de uma década. A Índia tem mostrado um perfil mais discreto, destacando-se apenas, além dos campeonatos mundiais de críquete, na organização dos Jogos da Commonwealth, realizados em Nova Delhi, em 2010.

Contudo, a organização de um grande evento não garante por si este tipo de ganho político; Pode até ser contraproducente, porque existe a possibilidade de serem expostos os pontos fracos do Estado organizador em vez dos seus pontos fortes, uma vez que, como foi apontado, atrair esse tipo de atenção exige preparação e políticas complexas. Isto implica que a capacidade de um país ter sucesso em acolher grandes eventos depende do reconhecimento internacional em relação às suas condições econômicas

É salientado que os pontos fortes e as oportunidades dos BRICS, do ponto de vista político, refletem-se durante a fase de candidatura. É aqui que as diferentes cidades, ou diretamente as nações, competem entre si para oferecer a melhor opção como sede.

No procedimento de aceitação de uma candidatura olímpica, por exemplo, valorizam-se o apoio governamental e a opinião pública, o estado das finanças, tanto a nível nacional como estadual, a qualidade das infra-estruturas a nível geral e especificamente esportivas, os transportes ou as condições e ambientais; portanto, sair vitorioso é uma primeira demonstração de força no sistema internacional.

No caso das Olimpíadas de Pequim em 2008, o projeto derrotou as candidaturas de Paris, Toronto, Osaka e Istambul na rodada final de votação; enquanto o Rio de Janeiro fez o mesmo contra Madri, Chicago e Tóquio na votação do COI para a edição de 2016. Assim, potências como Estados Unidos, Japão, França poderão ser derrotadas em favor de cidades de Estados semiperiféricos que, embora nas últimas décadas tenham desfrutado de aumentos de poder que lhes permitiram começar a desenvolver projeções geopolíticas de âmbito global, ainda são considerados países com capacidades mais limitadas do que as dos estados ocidentais.

O Brasil aplicou sua liderança regional como base para as candidaturas à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou em seu discurso na época perante o COI, o desequilíbrio existente na organização dos Jogos Olímpicos, que até então ignoravam a América do Sul.

Argumenta-se frequentemente que os megaeventos são uma tremenda oportunidade para os Estados organizadores, uma vez que podem contribuir para o desenvolvimento e mostrar ao mundo inteiro os seus pontos fortes e progressos em termos de desenvolvimento social, econômico e político. Contudo, com base no que foi observado aqui, existem limitações importantes para os BRICS cumprirem tais propósitos.

Este projeto também pode resultar em aumento de custos, subutilização de infra-estruturas ou obras inacabadas, que acabam por ser pagas à custa da redução de outros serviços públicos, através de impostos ou dívida pública, num contexto de níveis consideráveis de pobreza e desigualdade. Além disso, considerando as especificidades político-econômicas de cada país, os megaeventos podem até se tornar uma grande ameaça à estabilidade político-econômica, como mostra o caso brasileiro

O agrupamento desses países continua a ser central para o debate das potências emergentes. Argentina, Arábia Saudita, Irã, Etiópia, Egito e os Emirados Árabes Unidos se tornarão membros plenos a partir de janeiro de 2024, o que promete modificar ainda mais o intercâmbio esportivo entre as nações do grupo, e o fortalecimento dos seus laços culturais. Juntos, os BRICS detêm mais de 40% da população mundial e um PIB combinado podendo chegar a US$ 32,9 trilhões. A política internacional continuará andando junto com os interesses do esporte por um longo tempo.