Barcelona volta a apostar na “La Masia” para conquistar a Champions League

Dos 27 jogadores do plantel culé, mais da metade são das categorias de base.


Por Raphael Fernandes

26 de agosto de 2024

Uma arte com as revelações mais recentes do Barcelona: Gavi, Cubarsí e Lamine Yamal. Créditos: Nathalia Teixeira

O Barcelona começou a La Liga com o pé direito. Em dois jogos, duas vitórias sobre Valencia e Athletic Bilbao, respectivamente. Sob o comando de Hansi Flick, o time teve cinco jogadores da La Masia — categoria de base do clube — entre os titulares neste início de temporada: Cubarsí, Balde, Marc Bernal, Casadó e Lamine Yamal.

A maior contratação do Barcelona nesta janela de transferência, inclusive, é uma prata da casa: Dani Olmo. Contratado em 2007 para as categorias de base, o camisa 10 da seleção espanhola ficou no clube até 2014, quando se transferiu para o Dínamo Zagreb e subiu para os profissionais. De lá, o craque foi para o Red Bull Leipzig em 2020, onde se destacou no futebol europeu e foi uma peça importantíssima para o título da Espanha na Eurocopa 2024.

Além de Dani Olmo e dos cinco titulares na última partida, o Barcelona ainda conta com mais nove talentos da La Masia em seu plantel, mostrando que os culés estão realmente engajados em usar novamente a base para voltar a conquistar a UEFA Champions League, título que não vem desde a temporada 2014/15.

A descaracterização do Barcelona nas últimas temporadas

Neymar Jr. durante uma partida pelo Barcelona.
Em 2017, Neymar Jr. foi negociado pelo Barcelona com o Paris Saint-Germain por 222 milhões de euros (R$ 821 milhões), à época (Créditos: Xavier Bonilla/NurPhoto via Getty Images)

Diferente do Real Madrid, o Barcelona nunca foi um time comprador. Tanto que, naquela temporada icônica do trio MSN, 15 jogadores da La Masia faziam parte do elenco, incluindo os craques Piqué, Busquets, Iniesta, Xavi e Lionel Messi. Entretanto, a situação começou a mudar a partir de 2017, quando Neymar Jr. transferiu-se para o PSG.

Em busca de um substituto, o Barça foi ao mercado e gastou 390 milhões de euros na contratação de três estrelas: Dembélé, Philippe Coutinho e Antoine Griezmann. Nesse meio-tempo, a diretoria renovou o contrato de seus principais jogadores com aumentos exorbitantes de salários, levando o clube à sua pior crise financeira da história, um prejuízo de 481 milhões de euros, cerca de R$ 3 bilhões, que foi descoberto em 2021.

O título da Champions League não veio e os sucessores de Neymar Jr. não renderam o esperado. Além disso, a categoria de base, que era uma referência no passado, acabou entrando em colapso. Entre 2017 e 2020, as principais revelações da La Masia foram Cucurella, Riqui Puig e Ansu Fati, joias que não conseguiram se destacar nos profissionais e não ajudaram o clube a equilibrar as receitas com uma possível venda.

O surgimento da nova geração espanhola

Lamine Yamal comemorando um gol pelo Barcelona.
Com apenas 17 anos, Lamine Yamal já fez 8 gols e deu 10 assistências em 53 partidas pelos profissionais (Créditos: Alex Caparros/Getty Images)

Por conta das dívidas, em 2021, o Barcelona começou a formar o time que estamos acompanhando nesta temporada, de forma caseira. O primeiro a se destacar nos profissionais foi Gavi, que venceu o prêmio Golden Boy no ano seguinte. Depois tivemos a subida de Balde, que sucedeu Jordi Alba na lateral esquerda.

Na temporada 2023/24, surgiram três jogadores que viriam a fazer parte da seleção espanhola no futuro: Lamine Yamal, Cubarsí e Fermín Torres. Isso sem falar nos volantes Marc Bernal e Casadó, que mal foram promovidos ao time principal e já são titulares de Hansi Flick. Com tantos talentos surgindo ao mesmo tempo, ficou mais fácil para a diretoria lidar com o Fair Play Financeiro da Espanha.

Barcelona teve que negociar Gundogan para inscrever Dani Olmo

Dani Olmo durante sua apresentação no Barcelona.
Dani Olmo ainda não foi inscrito para disputar partidas do Campeonato Espanhol, por problemas no teto de gastos salariais do Barcelona (Créditos: Gongora/NurPhoto via Getty Images).

Em seu regulamento de Fair Play Financeiro, a La Liga impõe um orçamento salarial a cada clube com base nas finanças. Por conta dessa grave crise, o Barcelona viu o seu limite de gastos despencar de 648 milhões de euros em 2022/23 para 270 milhões de euros em 2023/24. Para essa temporada, houve mais uma diminuição, desta vez para 204 milhões de euros.

Por isso, revelar jogadores é tão importante para o Barcelona, pois permite ao clube não estourar seu orçamento nem ultrapassar o limite salarial da La Liga na hora de buscar reforços. Dani Olmo, por exemplo, custou 55 milhões de euros aos cofres culés. Por ser um jogador de enorme salário, o clube teve que se desfazer de Gundogan, abrindo 15 milhões de euros no orçamento da temporada, além da economia prevista para o ano seguinte, que seria o último do contrato do volante.

Além disso, o clube estuda vender outros ativos, como participações em projetos do Barça Studios, e conseguir equilibrar a balança com novos empréstimos. Em último caso, diretores do clube também estão cogitando se apresentar como avalistas, colocando propriedades que tenham como garantia. Época de vacas magras que o Barcelona terá que se adaptar até equilibrar as finanças. Pelo menos, a galinha dos ovos de ouro do clube, a La Masia, voltou a gerar grandes talentos — e bota talento nisso.