O Barcelona começou a La Liga com o pé direito. Em dois jogos, duas vitórias sobre Valencia e Athletic Bilbao, respectivamente. Sob o comando de Hansi Flick, o time teve cinco jogadores da La Masia — categoria de base do clube — entre os titulares neste início de temporada: Cubarsí, Balde, Marc Bernal, Casadó e Lamine Yamal.
A maior contratação do Barcelona nesta janela de transferência, inclusive, é uma prata da casa: Dani Olmo. Contratado em 2007 para as categorias de base, o camisa 10 da seleção espanhola ficou no clube até 2014, quando se transferiu para o Dínamo Zagreb e subiu para os profissionais. De lá, o craque foi para o Red Bull Leipzig em 2020, onde se destacou no futebol europeu e foi uma peça importantíssima para o título da Espanha na Eurocopa 2024.
Além de Dani Olmo e dos cinco titulares na última partida, o Barcelona ainda conta com mais nove talentos da La Masia em seu plantel, mostrando que os culés estão realmente engajados em usar novamente a base para voltar a conquistar a UEFA Champions League, título que não vem desde a temporada 2014/15.
A descaracterização do Barcelona nas últimas temporadas
Diferente do Real Madrid, o Barcelona nunca foi um time comprador. Tanto que, naquela temporada icônica do trio MSN, 15 jogadores da La Masia faziam parte do elenco, incluindo os craques Piqué, Busquets, Iniesta, Xavi e Lionel Messi. Entretanto, a situação começou a mudar a partir de 2017, quando Neymar Jr. transferiu-se para o PSG.
Em busca de um substituto, o Barça foi ao mercado e gastou 390 milhões de euros na contratação de três estrelas: Dembélé, Philippe Coutinho e Antoine Griezmann. Nesse meio-tempo, a diretoria renovou o contrato de seus principais jogadores com aumentos exorbitantes de salários, levando o clube à sua pior crise financeira da história, um prejuízo de 481 milhões de euros, cerca de R$ 3 bilhões, que foi descoberto em 2021.
O título da Champions League não veio e os sucessores de Neymar Jr. não renderam o esperado. Além disso, a categoria de base, que era uma referência no passado, acabou entrando em colapso. Entre 2017 e 2020, as principais revelações da La Masia foram Cucurella, Riqui Puig e Ansu Fati, joias que não conseguiram se destacar nos profissionais e não ajudaram o clube a equilibrar as receitas com uma possível venda.
O surgimento da nova geração espanhola
Por conta das dívidas, em 2021, o Barcelona começou a formar o time que estamos acompanhando nesta temporada, de forma caseira. O primeiro a se destacar nos profissionais foi Gavi, que venceu o prêmio Golden Boy no ano seguinte. Depois tivemos a subida de Balde, que sucedeu Jordi Alba na lateral esquerda.
Na temporada 2023/24, surgiram três jogadores que viriam a fazer parte da seleção espanhola no futuro: Lamine Yamal, Cubarsí e Fermín Torres. Isso sem falar nos volantes Marc Bernal e Casadó, que mal foram promovidos ao time principal e já são titulares de Hansi Flick. Com tantos talentos surgindo ao mesmo tempo, ficou mais fácil para a diretoria lidar com o Fair Play Financeiro da Espanha.
Barcelona teve que negociar Gundogan para inscrever Dani Olmo
Em seu regulamento de Fair Play Financeiro, a La Liga impõe um orçamento salarial a cada clube com base nas finanças. Por conta dessa grave crise, o Barcelona viu o seu limite de gastos despencar de 648 milhões de euros em 2022/23 para 270 milhões de euros em 2023/24. Para essa temporada, houve mais uma diminuição, desta vez para 204 milhões de euros.
Por isso, revelar jogadores é tão importante para o Barcelona, pois permite ao clube não estourar seu orçamento nem ultrapassar o limite salarial da La Liga na hora de buscar reforços. Dani Olmo, por exemplo, custou 55 milhões de euros aos cofres culés. Por ser um jogador de enorme salário, o clube teve que se desfazer de Gundogan, abrindo 15 milhões de euros no orçamento da temporada, além da economia prevista para o ano seguinte, que seria o último do contrato do volante.
Além disso, o clube estuda vender outros ativos, como participações em projetos do Barça Studios, e conseguir equilibrar a balança com novos empréstimos. Em último caso, diretores do clube também estão cogitando se apresentar como avalistas, colocando propriedades que tenham como garantia. Época de vacas magras que o Barcelona terá que se adaptar até equilibrar as finanças. Pelo menos, a galinha dos ovos de ouro do clube, a La Masia, voltou a gerar grandes talentos — e bota talento nisso.