Os contratos de fornecimento de camisas evoluíram de simples acordos locais para negócios bilionários que moldam a identidade global dos clubes. O recente acordo entre Barcelona e Nike é um marco dessa transformação.
Durante décadas, os clubes de futebol não davam tanta importância a quem produzia seus uniformes. A prioridade era a funcionalidade, e acordos comerciais eram pouco expressivos. Um exemplo icônico disso ocorreu na Copa do Mundo de 1986, quando a seleção argentina comprou às pressas camisas leves para enfrentar o calor mexicano. O uniforme improvisado, eternizado pelo gol “La Mano de Dios” de Maradona, foi leiloado por impressionantes US$ 8,9 milhões em 2022.
Hoje, os contratos com fabricantes de material esportivo são uma das principais fontes de receita para os clubes, superando até mesmo patrocínios de camisa e direitos de nomeação de estádios.
A transformação dos contratos
No início do século XX, os contratos eram informais e limitados a pequenas fábricas locais, com pagamentos irrisórios ou trocas por equipamentos. Mas à medida que o futebol cresceu em popularidade, o mercado se tornou global e competitivo. Um exemplo de mudança veio com o Manchester United, que fechou um dos primeiros contratos milionários com a Umbro na temporada 1992/93. Hoje, o clube recebe um valor mínimo garantido de US$ 1,13 bilhão em um contrato com a Adidas que vai até 2035.
A evolução também trouxe contratos mais longos e mais complexos. O Liverpool, por exemplo, recebe um valor fixo de US$ 37,6 milhões da Nike, mas garante 20% de royalties sobre as vendas líquidas dos produtos do clube. Estratégias como essa oferecem aos clubes maior controle sobre suas receitas e expandem sua presença global.
Barcelona e Nike: um acordo histórico
O contrato mais recente entre Barcelona e Nike é um símbolo da nova era dos acordos de fornecimento. Avaliado em cerca de €127 milhões (US$ 133 milhões) anuais, o contrato alcança um total superior a US$ 1,8 bilhão e se estende até 2038.
Além do valor financeiro, o Barcelona conseguiu importantes concessões. O clube garantiu controle absoluto sobre o e-commerce internacional, ampliando a receita da sua divisão Barça Licensing & Merchandising (BLM). Além disso, eliminou cláusulas relacionadas ao desempenho em campo, reforçando uma posição mais favorável no acordo.
+ Leia também:
– O Barcelona está saindo do pesadelo financeiro?
– Barcelona volta a apostar na “La Masia” para conquistar a Champions League
O dominío das gigantes e os desafios dos concorrentes
Adidas, Nike e Puma dominam o mercado, com contratos multimilionários que deixam pouco espaço para concorrentes menores. A britânica Castore, por exemplo, tentou atrair clubes oferecendo maior percentual de royalties, mas enfrentou dificuldades operacionais. Aston Villa e Newcastle United retornaram à Adidas, enquanto o Wolverhampton adotou um modelo próprio com a Sudu, buscando maior controle da cadeia de fornecimento e custos reduzidos.
O futuro dos acordos de camisa
A venda de camisas continuará central para a receita dos clubes, mas novas tendências já estão moldando o mercado. A popularização de peças como camisas retrô, linha casual e colaborações com marcas de moda, como o recente uniforme do AC Milan com a Pleasures, aponta para uma diversificação crescente.
Além disso, o uso de ativos digitais e dados de consumidores se tornará cada vez mais relevante. A relação entre clubes e fabricantes agora é uma parceria estratégica. Mais do que produzir camisas, os fornecedores precisam projetar as marcas dos clubes para novos mercados e audiências, consolidando o futebol como um fenômeno global.
O acordo histórico entre Barcelona e Nike é um reflexo da evolução dos contratos de fornecimento no futebol. Em um mercado dominado por gigantes, os clubes buscam mais do que números expressivos: eles querem controle, inovação e alcance global. À medida que a indústria evolui, parcerias estratégicas e novas tendências, como moda e digital, continuarão a moldar o futuro do futebol.