Barcelona, Nike e a evolução dos acordos de fornecimento de camisas

Do improviso ao bilhão: como os contratos de fornecimento de camisas se tornaram essenciais para a receita dos clubes


Por Guilherme Calafate

30 de dezembro de 2024

Os contratos de fornecimento de camisas evoluíram de simples acordos locais para negócios bilionários que moldam a identidade global dos clubes. O recente acordo entre Barcelona e Nike é um marco dessa transformação.

Durante décadas, os clubes de futebol não davam tanta importância a quem produzia seus uniformes. A prioridade era a funcionalidade, e acordos comerciais eram pouco expressivos. Um exemplo icônico disso ocorreu na Copa do Mundo de 1986, quando a seleção argentina comprou às pressas camisas leves para enfrentar o calor mexicano. O uniforme improvisado, eternizado pelo gol “La Mano de Dios” de Maradona, foi leiloado por impressionantes US$ 8,9 milhões em 2022.

Hoje, os contratos com fabricantes de material esportivo são uma das principais fontes de receita para os clubes, superando até mesmo patrocínios de camisa e direitos de nomeação de estádios.

A transformação dos contratos

No início do século XX, os contratos eram informais e limitados a pequenas fábricas locais, com pagamentos irrisórios ou trocas por equipamentos. Mas à medida que o futebol cresceu em popularidade, o mercado se tornou global e competitivo. Um exemplo de mudança veio com o Manchester United, que fechou um dos primeiros contratos milionários com a Umbro na temporada 1992/93. Hoje, o clube recebe um valor mínimo garantido de US$ 1,13 bilhão em um contrato com a Adidas que vai até 2035.

A evolução também trouxe contratos mais longos e mais complexos. O Liverpool, por exemplo, recebe um valor fixo de US$ 37,6 milhões da Nike, mas garante 20% de royalties sobre as vendas líquidas dos produtos do clube. Estratégias como essa oferecem aos clubes maior controle sobre suas receitas e expandem sua presença global.

Barcelona e Nike: um acordo histórico

O contrato mais recente entre Barcelona e Nike é um símbolo da nova era dos acordos de fornecimento. Avaliado em cerca de €127 milhões (US$ 133 milhões) anuais, o contrato alcança um total superior a US$ 1,8 bilhão e se estende até 2038.

Além do valor financeiro, o Barcelona conseguiu importantes concessões. O clube garantiu controle absoluto sobre o e-commerce internacional, ampliando a receita da sua divisão Barça Licensing & Merchandising (BLM). Além disso, eliminou cláusulas relacionadas ao desempenho em campo, reforçando uma posição mais favorável no acordo.

+ Leia também:

O Barcelona está saindo do pesadelo financeiro?

Barcelona volta a apostar na “La Masia” para conquistar a Champions League

O dominío das gigantes e os desafios dos concorrentes

Adidas, Nike e Puma dominam o mercado, com contratos multimilionários que deixam pouco espaço para concorrentes menores. A britânica Castore, por exemplo, tentou atrair clubes oferecendo maior percentual de royalties, mas enfrentou dificuldades operacionais. Aston Villa e Newcastle United retornaram à Adidas, enquanto o Wolverhampton adotou um modelo próprio com a Sudu, buscando maior controle da cadeia de fornecimento e custos reduzidos.

O futuro dos acordos de camisa

A venda de camisas continuará central para a receita dos clubes, mas novas tendências já estão moldando o mercado. A popularização de peças como camisas retrô, linha casual e colaborações com marcas de moda, como o recente uniforme do AC Milan com a Pleasures, aponta para uma diversificação crescente.

Além disso, o uso de ativos digitais e dados de consumidores se tornará cada vez mais relevante. A relação entre clubes e fabricantes agora é uma parceria estratégica. Mais do que produzir camisas, os fornecedores precisam projetar as marcas dos clubes para novos mercados e audiências, consolidando o futebol como um fenômeno global.

O acordo histórico entre Barcelona e Nike é um reflexo da evolução dos contratos de fornecimento no futebol. Em um mercado dominado por gigantes, os clubes buscam mais do que números expressivos: eles querem controle, inovação e alcance global. À medida que a indústria evolui, parcerias estratégicas e novas tendências, como moda e digital, continuarão a moldar o futuro do futebol.

Sport Insider
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.