Ballon D’Or: odds, narrativas e o que significa para o futebol mundial

Messi e Haaland: quem deve levar o prêmio de melhor do mundo e por que? Será que há algum outro concorrente?


Por Daniel Endebo

21 de junho de 2023

Ballon D’Or: odds, narrativas e o que significa para o futebol mundial

Nos últimos dias, foram divulgadas as odds para o futuro vencedor do Ballon D’Or nos principais sites de aposta, e, como era de se imaginar, a corrida tende a ser uma disputa de 2 nomes: Lionel Messi, sete vezes condecorado com a premiação ao longo de sua carreira, e Erling Haaland, nova superestrela do futebol mundial e campeão de tudo pelo Manchester City. Essa é uma batalha bastante simbólica para quem valoriza o prêmio e vale a pena prestar atenção na premiação desse ano e seus desdobramentos. Mas vamos pelo começo.

O que dizem as odds?

            Valores Betfair em 14/06/2023 – Valores Gambling.com em 14/06/2023

Os sites de apostas começaram a especulação sobre quem deve ser coroado melhor jogador do mundo para a temporada recém-terminada. Junto aos palpites, vem as odds – pra quem não tem familiaridade com o mundo de apostas, “odds” são os valores que a casa paga por cada real/dólar/moeda apostado no vencedor. No caso acima, para cada R$ 1 apostado em Messi, a Betfair pagará R$0,29, enquanto que a Gambling.com pagará R$0,40.

Esses valores são definidos pela casa, levando em consideração uma série de informações, que vão desde argumentos concretos – gols marcados, títulos conquistados, volume de apostadores – até elementos subjetivos, como “quem é o nome mais famoso?” ou “que história queremos contar?”. Pode parecer uma loucura, mas como não há um critério objetivo definido pela entidade que dá o prêmio, abre-se margem para todo tipo de especulação e leitura.

Olhando para anos anteriores, títulos de primeira prateleira – Copa do Mundo e Champions League, em especial – sempre tiveram peso na decisão. Cannavaro, em 2006, foi eleito o melhor do mundo, basicamente por ter feito uma Copa impecável. Assim como Modric, vice-campeão da Copa 2018 (e campeão da Champions), também acabou eleito melhor do mundo, muito por conta do sucesso coletivo de seus times.

Em outras temporadas, não houve um padrão claro: Messi foi eleito o melhor do mundo em 2010, temporada em que Iniesta foi campeão do mundo como protagonista, e que Sneijder conquistou a Tríplice Coroa com a Inter, além do vice-campeonato mundial. Ou Cristiano Ronaldo, eleito melhor do mundo em 2013, ano que teve o Bayern de Munique de Ribery campeão de tudo. Nessas duas temporadas que exemplifiquei, o que foi mais decisivo: gols marcados? Popularidade do nome?

Sabendo que esse contexto está no ar, o fim da temporada europeia deixou bem claro que essa se tratava de uma corrida de dois homens só: Messi ganhou o título mais desejado, abocanhou (sem grande destaque) títulos nacionais pelo PSG e ainda colecionou bons números individuais; já Haaland assumiu a dianteira da corrida ao tomar de assalto todos os recordes do futebol inglês em sua temporada debutante, sendo a “cara mais famosa” do Treble conquistado pelo Manchester City.

Os demais nomes que figuram na lista, aparecem por duas razões: são retornos muitos sedutores para apostadores de plantão e, não raro, surgem interessados em “tentar ganhar sozinho”, o que não deve acontecer nessa temporada. O outro motivo é comercial-cultural: o prêmio funciona como um norte do futebol mundial para fãs casuais. Você não precisa ser um hardcore fan pra saber que o georgiano Kvicha Kvaratshkelia, o Kvaradona, foi uma grande história na temporada. Sua presença na lista de possíveis vencedores do prêmio referenda essa posição ao público mais casual.

A batalha das narrativas

Se o prêmio não tem critérios objetivos definidos e existem motivações comerciais-culturais para a decisão, é natural que elaboremos argumentações puramente narrativas para justificar uma ou outra escolha.

Por exemplo: Kvaradona e o atacante nigeriano Victor Osimhen, ambos do Napoli, aparecem em uma das listas, com odds iguais. É pouquíssimo provável que eles vençam o prêmio, mas vê-los ali é suficiente pra se perguntar “o que aconteceu de tão importante na temporada do Napoli, para que estejam aí na lista?”. E aí uma “googlada” te dá a resposta: o time napolitano foi campeão italiano pela primeira vez em quase 35 anos. Ambos não apenas foram os destaques individuais do torneio, como estão sendo cortejados por meio mundo da elite europeia para a próxima temporada.

Na lista do gambling.com, após os dois favoritos ao prêmio, há outros 5 nomes: 3 são jogadores do Manchester City (de Bruyne, Rodri e Gundogan), com o brasileiro Vini Jr. e o francês Mbappe completando a lista. Os dois últimos não conquistaram o principal título, nem de clubes, nem de seleções, mas têm sido figurinhas carimbadas em premiações e no imaginário popular como representantes da “nova geração” – e, claro, tem performado o suficiente para justificar o hype neles.

Mas qual o “case” pra defender Messi ou Haaland?

Haaland: o cometa

Pra quem acompanha futebol europeu a fundo, o gigante norueguês não é uma surpresa. Desde que explodiu no Red Bull Salzburg, Haaland chama a atenção do público. E depois de 3 temporadas super goleadoras pelo Borussia Dortmund, o Manchester City resolveu abrir a porta com dinamite: trouxe o centroavante jovem mais badalado do mundo para melhorar o ataque mais prolífico da Inglaterra.

E o resultado não poderia ser melhor: logo em sua temporada de estreia pelo time de Pep Guardiola, ele marcou mais de 50 gols, sendo o artilheiro com mais gols em uma única edição de Premier League, conquistando os 3 títulos disputados – incluindo o mais importante deles, inédito para o clube azul de Manchester: a UEFA Champions League. Em um time competitivo e competente, Haaland trouxe um ar de “pedigree” que faltava ao time.

Por fim, ele é um candidato a substituto da geração de Messi e Cristiano Ronaldo como “cara do futebol mundial” para os próximos anos.

Messi: the last dance

A argumentação pró-Messi poderia ser bem simples: ele foi o maior nome da Copa do Mundo, vencida pela Argentina, 36 anos após a última conquista. Edição essa que o condecorou não apenas com o troféu, mas também com diversos recordes individuais no palco mais importante do esporte.

Mas, como numa discussão dessas cabe um pouco de tudo, Messi fez mais que isso: ele também contribuiu para que o PSG conquistasse a Ligue 1 e a Copa da França. Títulos esperados para o time parisiense, mas que ajudam a rechear um currículo super vencedor. Tudo isso fechando a temporada com mais de 50 participações diretas em gols marcados (seja como marcador principal ou como assistente). Há mais, no entanto.

O desfecho

Para fins narrativos, há um argumento bem relevante: Messi recém anunciou sua ida ao Inter Miami e, aos 35 anos de idade, é pouco provável que ele volte a ter uma jornada pelo futebol europeu – um quase pré-requisito para estar na disputa do prêmio. Assim sendo, essa é a última chance real de premiar aquele que foi o principal nome do futebol mundial neste século, fazendo dessa premiação um marco simbólico de “passagem de bastão” para a nova geração.

Messi vence esse ano e deixa o campo da batalha para as novas superestrelas, que não são mais “jovens promessas”, como Haaland, Mbappé e Vini Jr. A ordem do esporte global pode ficar tranquila, o futebol estará em boas mãos (e pés) daqui pra frente.

Se tivesse que apostar, seria por esse caminho. E, bom, as odds parecem referendar a aposta.