O Manchester United, outrora um gigante inabalável do futebol mundial, vive uma de suas maiores crises da era moderna. Dentro e fora de campo, o clube enfrenta desafios que vão desde o desempenho esportivo decepcionante até uma estrutura financeira que se mostra cada vez mais insustentável. A chegada do bilionário britânico Jim Ratcliffe como acionista minoritário, ao invés de representar uma solução imediata, trouxe ainda mais questionamentos sobre o futuro do clube.
Desempenho esportivo em queda livre
A temporada atual tem sido uma das piores da história recente do Manchester United. O time ocupa apenas a 15ª posição na Premier League, atrás até mesmo do Everton, um clube que tem sido frequentemente citado como um exemplo de má gestão no futebol inglês. A falta de um projeto esportivo sólido, somada a sucessivas trocas de treinadores e contratações questionáveis, tem refletido diretamente nos resultados em campo.
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Para complicar ainda mais, a ausência na Champions League reduziu drasticamente as receitas do clube. O Manchester United teve uma queda de 42% na receita de direitos de transmissão, passando de £106,4 milhões para £61,6 milhões. Isso tornou a conquista da Europa League não apenas uma meta esportiva, mas uma necessidade financeira, visto que garantir vaga na Liga dos Campeões significaria um aumento significativo de receita.
O fardo financeiro do clube
O cenário financeiro do Manchester United também é alarmante. A dívida do clube já ultrapassa £700 milhões, sendo que £425 milhões em títulos privados precisarão ser pagos até junho de 2027. Com os juros do mercado mais altos do que na época em que essa dívida foi contraída, refinanciá-la pode ser extremamente oneroso.
Além disso, o clube já gastou mais de £1 bilhão em pagamentos de juros desde a controversa compra realizada pela família Glazer em 2005. Mesmo com os cortes de custos impostos por Ratcliffe, que incluem desde a eliminação de viagens para funcionários até a devolução de pedidos de material de escritório, o Manchester United continua operando com margens cada vez mais apertadas.
O lucro operacional despencou impressionantes 88,7% no último trimestre de 2024, caindo de £27,5 milhões para apenas £3,1 milhões. Ao mesmo tempo, os custos com contratações continuam pesando, com £414 milhões ainda pendentes em pagamentos de transferências. O clube também precisou arcar com £14,5 milhões em rescisões contratuais, incluindo a demissão do técnico Erik ten Hag e sua comissão técnica.
Jim Ratcliffe: a solução ou mais um problema?
Jim Ratcliffe, dono do grupo químico INEOS, chegou ao Manchester United com a promessa de transformar o clube e devolvê-lo ao topo do futebol mundial. No entanto, sua estratégia inicial já enfrenta resistência. O bilionário vem adotando um modelo de austeridade financeira, priorizando a redução de custos ao invés de grandes investimentos para reerguer o time rapidamente.
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Ao transferir sua participação no clube para uma entidade registrada na Ilha de Man, Ratcliffe não apenas garantiu um maior controle sobre a gestão, mas também associou o Manchester United a um conglomerado com uma dívida total de mais de €15 bilhões. O grupo INEOS enfrenta dificuldades em seu setor químico e recentemente teve sua perspectiva rebaixada pela agência de classificação de risco Fitch, devido à incapacidade de reduzir suas dívidas no ritmo esperado.
Os cortes de Ratcliffe já se tornaram um ponto de controvérsia entre torcedores e funcionários do clube. Além das demissões e cortes de benefícios, o Manchester United elevou os preços dos ingressos para £66 por jogo, sem descontos para crianças ou idosos, uma decisão impopular entre os fãs.
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O papel dos Glazers e o impasse para o futuro
Apesar da entrada de Ratcliffe, a família Glazer ainda mantém o controle majoritário do clube. Em seis meses, os donos americanos terão a opção de vender o Manchester United, o que poderia forçar Ratcliffe a também se desfazer de sua participação. Por outro lado, o empresário britânico também pode tentar aumentar sua fatia no clube, assumindo um controle mais amplo da gestão.
Por enquanto, os Glazers parecem satisfeitos em manter o status quo, sem indicar se pretendem vender o clube ou continuar com o modelo atual. Enquanto isso, os torcedores assistem a um Manchester United enfraquecido, sem direção clara dentro e fora de campo.
A crise do Manchester United não é fruto de um único fator, mas sim de uma combinação de má gestão, decisões financeiras equivocadas e um desempenho esportivo abaixo do esperado. Com dívidas crescentes, queda de receitas e um time longe de disputar títulos importantes, o clube enfrenta um dos momentos mais delicados de sua história. Resta saber se Jim Ratcliffe e a família Glazer conseguirão encontrar um caminho para a recuperação, ou se o Manchester United seguirá ladeira abaixo.