A receita de dias de jogo tem sido um pilar financeiro para clubes de futebol há décadas, ao lado das receitas de transmissão e patrocínio. No entanto, mudanças no comportamento dos torcedores e avanços tecnológicos desafiam os modelos tradicionais de bilheteria, forçando os clubes a se adaptarem a um cenário dinâmico e orientado por dados. Um levantamento da Football Benchmark apontou o impacto de diversas estratégias adotadas por clubes europeus para otimizar essa fonte de receita e garantir maior eficiência na gestão de estádios.
Desafios para maximizar a receita de dias de jogo
Apesar de sua importância, a receita de dias de jogo enfrenta desafios estruturais e operacionais que limitam seu potencial. Estádios com capacidade reduzida, assentos subutilizados e ineficiências operacionais impactam negativamente a geração de receita. Além disso, muitos estádios permanecem inativos fora dos dias de jogos, perdendo oportunidades de arrecadação adicional por meio de eventos e outras atividades comerciais.
Um dos principais desafios identificados foi a alta taxa de ausência de detentores de ingressos de temporada. No RB Leipzig, por exemplo, 25% dos portadores de carnês deixavam de comparecer às partidas, criando lacunas visíveis nos estádios e reduzindo o potencial de arrecadação. Para mitigar essa questão, o clube implementou exigências mínimas de comparecimento, obrigando os torcedores a assistir a pelo menos 10 dos 17 jogos em casa para manter o direito de renovação do ingresso.
+ Leia também:
– A volta de Neymar: impactos midiáticos e financeiros
– Fair Play Financeiro: equilibrando as finanças e a competição no futebol
Soluções e estratégias adotadas pelos clubes
1. Modelos de preços dinâmicos – Valencia CF
Buscando otimizar a venda de ingressos, o Valencia CF adotou um modelo de precificação dinâmica para a temporada 2024/25. Os preços começam mais baixos e aumentam conforme a demanda, a importância da partida e a taxa de ocupação do estádio. Essa abordagem visa maximizar a receita, mas gerou críticas dos torcedores, que argumentam que a prática prejudica a lealdade dos fãs ao criar desigualdades nos preços. Apesar da resistência, o clube acredita que o modelo ajudará a estabilizar suas finanças.
2. Ingressos baseados em assinatura – FC Copenhagen
O FC Copenhagen inovou ao substituir a venda tradicional de carnês pelo modelo de assinatura, permitindo que os torcedores paguem mensalmente pelos ingressos. Essa mudança eliminou a barreira do pagamento inicial elevado e facilitou o acesso ao estádio para públicos mais jovens, especialmente na faixa etária de 15 a 24 anos. O programa FCK+ ainda oferece benefícios exclusivos, como transmissões de jogos e conteúdos especiais do clube. Como resultado, a média de público saltou de 15 mil para quase 27 mil espectadores por partida.
3. Licenças de Assento Pessoal (PSLs) – Real Madrid e Barcelona
Inspirados no modelo norte-americano, os gigantes espanhóis Real Madrid e Barcelona adotaram as Personal Seat Licenses (PSLs) para financiar reformas nos estádios e reduzir sua dependência de endividamento. O Real Madrid arrecadou €70 milhões com a venda de 475 licenças, enquanto o Barcelona obteve €100 milhões com a venda de 300 assentos VIP. Essas licenças garantem aos compradores o direito de uso dos assentos por até 30 anos, além da possibilidade de revenda. Apesar do sucesso entre clubes de elite, esse modelo se limita a times com alta demanda e grande apelo comercial.
4. Digitalização e experiência do torcedor – Cercle Brugge
O Cercle Brugge, da Bélgica, adotou uma abordagem digital para melhorar a experiência do torcedor e a eficiência operacional. O clube implementou um sistema de digitalização progressiva, começando com processos internos como ticketing, pedidos de catering e gestão de serviços premium. A automação reduz erros humanos e melhora a logística, tornando a experiência dos torcedores mais fluida e eficiente.
O futuro dos dias de jogo
O futebol moderno exige que os clubes busquem soluções inovadoras para maximizar a receita de dias de jogo sem comprometer a experiência do torcedor. Seja por meio da digitalização, de novas estratégias de precificação ou de modelos alternativos de ingressos, a otimização financeira dos estádios tornou-se uma prioridade global. O levantamento da Football Benchmark destaca que a adaptação a essas tendências é essencial para garantir a sustentabilidade econômica dos clubes e ampliar o engajamento dos torcedores em um ambiente cada vez mais competitivo.