Durante décadas, a televisão foi o centro da vida doméstica, com móveis dispostos ao seu redor e hábitos de consumo de mídia construídos em torno da programação linear. No entanto, esse cenário vem mudando drasticamente. Relatórios recentes da Nielsen indicam que a TV tradicional está perdendo espaço de maneira acelerada para plataformas de streaming como YouTube e Netflix, tornando-se uma opção secundária para grande parte do público.
Declínio da TV linear
A participação da TV linear (aberta e a cabo) no total do consumo de vídeo nos Estados Unidos caiu para 44,4% em fevereiro, o menor percentual já registrado. O streaming, por sua vez, atingiu 43,5%, sua maior fatia desde o início das medições pelo relatório The Gauge, da Nielsen, em 2021. Outros formatos, incluindo video on demand não medido, DVDs e games, representaram os 12,1% restantes.
O declínio da TV linear tem sido rápido e contínuo. Em maio de 2021, quando o relatório começou a ser publicado, a TV representava 64,9% do consumo de vídeo nos EUA, enquanto o streaming tinha apenas 26%. Desde então, aproximadamente 21,3 milhões de lares abandonaram os pacotes de TV a cabo, reduzindo a penetração do serviço de 69% para 38% das residências americanas.
Ano a ano, a queda da TV linear se acentua. Em fevereiro de 2024, a participação do formato era de 50,9%, percentual que já era menor que os 56% registrados no mesmo período de 2023. Em fevereiro de 2022, a TV ainda detinha 61,4% do consumo de vídeo.
Ascensão do streaming
Enquanto a TV tradicional perde espaço, plataformas de streaming seguem ampliando seu domínio. O YouTube, por exemplo, representou 11,6% do consumo total de vídeo em fevereiro, enquanto a Netflix ficou com 8,2%. Juntas, as duas plataformas já estão a apenas 1,4 ponto percentual de superar toda a TV aberta nos EUA. Outras plataformas como Disney+ (4,8%), Amazon Prime Video (3,5%), Roku (2,1%), Tubi (2%) e Peacock (1,5%) também vêm ganhando participação.
O crescimento do streaming se reflete em eventos pontuais. O Tubi, por exemplo, teve um pico de audiência no Super Bowl LIX, capturando um terço do consumo total de streaming no dia do jogo e aumentando sua audiência em 16 vezes na comparação com janeiro de 2025. A plataforma atraiu principalmente espectadores de 18 a 34 anos, público-alvo cobiçado pelo mercado publicitário.
O impacto nos conteúdos e na indústria
A mudança de comportamento do público também se reflete na forma como diferentes conteúdos performam. No mês de fevereiro, os destaques da TV aberta incluíram o especial de 50 anos do Saturday Night Live na NBC (16,5 milhões de espectadores) e o Grammy Awards na CBS (16,2 milhões). Já o evento esportivo mais assistido na TV paga foi a final do torneio 4 Nations Face-Off da NHL, com 9,25 milhões de telespectadores na ESPN.
O esporte, tradicional trunfo da TV linear, enfrentou um mês de menor relevância, permitindo que dramas em horário nobre assumissem a liderança do consumo de conteúdo. Séries como Tracker e Matlock, da CBS, representaram 27% do total de audiência da TV aberta, um crescimento em relação aos 15% de janeiro, período dominado pelos playoffs da NFL e a final do College Football.
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O futuro da TV e do consumo de vídeo
O declínio contínuo da TV linear e o crescimento do streaming sugerem um futuro em que o modelo tradicional de televisão se tornará cada vez mais nichado. Com a migração do público, os investimentos publicitários também tendem a se redirecionar para as plataformas digitais, acelerando ainda mais essa transição. Enquanto isso, gigantes do setor buscam novas estratégias para se manterem relevantes nesse cenário de mudança.
A televisão pode até continuar presente nos lares, mas seu papel como protagonista do entretenimento já não é mais garantido.