Projeto Inspire reúne grandes atletas brasileiras para discutir desafios das mulheres no esporte

Parceria entre a Riachuelo, a Secretária de Esportes, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro e a Golden Goal, tem Rebeca Andrade, Etiene Medeiros, Raissa Rocha Machado, Ana Marcela Cunha e Fernanda Keller como embaixadoras


Por Redação

23 de novembro de 2021

Na noite desta segunda-feira (22/11), no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro (RJ), foi lançado oficialmente o Projeto Inspire, uma parceria entre Riachuelo, Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro e a Golden Goal, que busca impactar mulheres por meio da trajetória de atletas de alto rendimento. O evento contou com as presenças das embaixadoras da plataforma (na foto, da esq. para a dir.): a ginasta Rebeca Andrade, a atleta paralímpica do lançamento de dardo Raissa Rocha Machado, a triatleta Fernanda Keller e as nadadoras Etiene Medeiros e Ana Marcela Cunha.

A plataforma tem como missão inspirar e incentivar mulheres de todo Brasil na busca por seus objetivos e pela conquista de seu espaço em todos os setores da sociedade, não apenas no esporte.

Além do Projeto Inspire, premiação em parceria com o COB

Conduzido pela apresentadora Aline Malafaia, o evento contou também com as participações de Paula Passo (Gestora do projeto pela Golden Goal), Marcella Kanner (Head de Comunicação e Marca da Riachuelo) e Manoela Penna (Diretora de Comunicação e Marketing do Comitê Olímpico Brasileiro).

A executiva do COB subiu ao palco no final para fazer um anúncio especial em primeira mão: a criação do “Prêmio Inspire”, que passa a ser uma das categorias do tradicional Prêmio Brasil Olímpico, maior premmiação do esporte brasileiro, que acontece no dia 7 de dezembro, no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju (SE).

Elevação feminina

“Começamos a perceber que as mulheres tinham desafios específicos, que vão desde a dificuldade em conseguir patrocínio à preocupação com estética e até mesmo à obrigação do uso de alguns uniformes que são desconfortáveis. Além disso, constatamos em pesquisas que o número de mulheres que fazem atividades físicas é menor do que o de homens. Muito por causa de jornada dupla também de trabalho e cuidar de casa. Com essa plataforma de elevação feminina, queremos focar em trazer histórias reais e não da superatleta. Não olhar só ali para aquele pedacinho de vitória. E sim mostrar que essa jornada é possível. E fazer com que as mulheres busquem seus objetivos e conquistem seus lugares”, disse Paula Passo.

Marcella Kanner lembrou dos objetivos do projeto desde o início, três anos antes, e falou sobre como a Riachuelo é uma marca com muitas mulheres em posição de protagonismos. De acordo com a executiva, 67% do quadro de 40 mil colaboradores são mulheres, sendo que 63% das funcionárias da empresa ocupam cargos de liderança.

Diversas redes sociais

Durante o período de um ano, o Projeto Inspire vai compartilhar nas suas redes sociais oficiais (YouTube, Instagram e Tik Tok) conteúdos com temas relacionados ao empoderamento da mulher, desigualdade de gênero, dia a dia das atletas, saúde mental, conversa com nova geração e muito mais.

O projeto conta ainda dezenas de vídeos sobre os mais variados temas disponíveis no Youtube, além de um espaço no site para que as pessoas possam contar suas histórias.

Com a palavra, as atletas

Estrelas da noite do Projeto Inspire, as atletas embaixadoras do projeto contaram um pouco de suas expectativas de depois responderam a perguntas de jornalistas na coletiva de imprensa.

Mais experiente das cinco e pioneira do triatlo no Brasil, Fernanda Keller foi a primeira a falar sobre a iniciativa.

“Quando a Paula Passo, da Golden Goal, e a Riachuelo me convidaram, foi um sonho pra mim. Porque não existe uma medalha, um recorde que faça sentido se ele não é compartilhado. Um dia a gente precisou acreditar no nosso sonho. E hoje somos nós que podemos inspirar”, disse Fernanda, cinco vezes campeã do Ironman Brasil, recordista mundial de pódios no Campeonato Mundial de Ironman e única triatleta do mundo a participar da competição 22 vezes consecutivas, ficar seis vezes entre as três melhores e 14 vezes entre as dez melhores do mundo.

Rebeca fala sobre preparação psicológica

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, Rebeca Andrade se tornou a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha na ginástica artística (prata no individual geral), logo depois se tornou a primeira campeã olímpica da modalidade, ao ficar com o ouro na prova de salto, e, consequentemente, a primeira a conquistar dois pódios em uma mesma edição de Jogos Olímpicos.

Na coletiva do Projeto Inspire, Rebeca foi perguntada sobre o caso da ginasta norte-americana Simone Biles, que desistiu de disputar desistiu de cinco de suas seis finais olímpicas em Tóquio.

“Tenho acompanhamento psicológico desde os meus 13 anos. E tenho certeza de que foi fundamental. Foi bem difícil quando saiu a notícia da Simone. Já é difícil para uma atleta abrir mão de uma competição. Imagina uma Olimpíada, que é só de quatro em quatro anos. Mas confesso que fiquei feliz de ela ter se colocado em primeiro lugar, porque ela podia ter se lesionado. Os Estados Unidos são um país referência na ginástica e ela sofreu muita pressão dela própria, da equipe, do país, ainda mais sendo uma das melhores do mundo. E fiquei feliz que ela voltou a competir no último dia e ainda conquistou uma medalha. Como mulher, negra, ela me inspira a me colocar em primeiro lugar, pensar no meu corpo. No Mundial eu abri mão do solo e foi muito difícil, mas eu sabia que meu corpo não iria aguentar”, lembrou Rebeca, que dois meses depois conquistou mais um ouro no salto e uma prata nas barras assimétricas, desta vez no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, realizado em Kitakyushu, também no Japão.

Desafios de uma cadeirante

Medalha de prata nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2021, no lançamento de dardo F56, para atletas cadeirantes, e ouro nos Jogos Parapan-Americanos de 2019 em Lima, no Peru, Raissa Rocha Machado falou sobre como as coisas poderiam ser mais fáceis para ela se, ao começar, tivesse mais exemplos em quem se inspirar.

“Eu queria tanto ter uma Raissa lá atrás, seria mais fácil. Mas hoje estou aqui inspirando outras mulheres. Foi um processo muito difícil para mim. Foi tão doloroso ver outras pessoas andando e eu não. Quando eu andei pela primeira vez numa cadeira de roda, eu me senti como uma deficiente. Mas a minha mãe me preparou pra vida, nunca me tratou como tal. Eu fazia faxina, lavava louça. Tanto que hoje moro sozinha. Nos Jogos do Rio (2016) eu fiquei em sexto e virei minha chave lá. Precisei olhar pra mim e dizer: se você não se aceitar, quem vai te aceitar? Fiquei minha vida toda dentro da casa da minha mãe, me guardando. Mas pensei: ‘as pessoas precisam me ver’. Sempre quis ser modelo. E a Riachuelo abriu as portas pra mim, de um projeto de Barbie cadeirante”, lembra Raissa.

Exclusão das mulheres desde a infância

Primeira mulher brasileira a conquistar o ouro em um Campeonato Mundial de Natação e nos Jogos Pan-Americanos, Etiene Medeiros foi considerada a melhor nadadora do Brasil na década passada. Eleita em 2014 pela Forbes uma das pessoas mais influentes do Brasil com menos de 30 anos, ela fundou em Recife o Instituto Etiene Medeiros, um projeto próprio dedicado à transformação social.

“Todas conhecem o quanto essas meninas super poderosas batalharam para estarem aqui. Essa plataforma é para inspirar que outras venham. É sobre empoderamento feminino. São pautas importantes, enfrentamentos importantes. Dentro e fora da piscina, do Mar, dos ginásios”, disse Etiene.

Quando perguntada sobre quais são as principais dificuldades que as mulheres enfrentam no esporte, a nadadora foi para a origem dos problemas: a infância.

“Eu posso listar um monte de desafios. O principal é a exclusão, essa coisa de dizer que menino pode e menina não pode fazer algo. O primeiro ambiente que a gente tem isso é nas escolas. A menina brinca de amarelinha e o menino de futebol. Essa primeira fala é bem doida, porque é com crianças: ‘meninas não podem fazer isso ou aquilo’. Mas nós podemos, sim. A gente pode fazer o que quiser”, afirmou a nadadora.

Mãe como inspiração

Já Ana Marcela Cunha, medalhista de ouro na maratona aquática dos Jogos Olímpicos de Tóquio e seis vezes vencedora do prêmio de melhor nadadora do mundo em águas abertas, lembrou de sua maior inspiração: sua mãe. E fez questão de falar dos bons resultados do esporte feminino brasileiro no Japão.

“Cada uma tem seu jeito, sua história, mas todo mundo dentro do mesmo projeto. Nós tivemos nossas inspirações também e hoje estamos aqui. Querendo ou não, as mulheres tiveram resultados ainda melhores que os dos meninos. Crescemos muito de 2016 para cá. Espero que o Projeto Inspire seja realmente muito motivador para todo mundo”, disse a nadadora campeã olímpica.