Por que os times brasileiros jogam mais partidas que os europeus?

O desgaste físico dos atletas tem impactado o desempenho de clubes como o Flamengo; entenda o motivo


Por Raphael Fernandes

21 de agosto de 2024

Uma foto do Tite pelo Flamengo. Créditos: Nathalia Teixeira

Não é novidade para ninguém que o calendário do futebol brasileiro é exaustivo. Além das longas viagens, os clubes precisam encontrar maneiras de preservar o condicionamento físico dos jogadores em meio a competições simultâneas – como o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores da América. No entanto, muitas vezes, isso não é suficiente.

O maior exemplo disso é o Flamengo. Participando de todas as competições possíveis, o time carioca vem enfrentando sérios problemas com o desgaste físico de seus atletas. No empate contra o Palmeiras pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, Viña e Everton Cebolinha sofreram lesões graves e só voltarão a jogar em 2025.

Na semana passada, nos jogos contra Bolívar e Botafogo, Pedro, Gabigol e De Arrascaeta sentiram lesões no músculo posterior da coxa e desfalcarão o rubro-negro até o próximo mês. Outro jogador que preocupa é o meia uruguaio De La Cruz, que alegou não ter condições físicas de atuar devido ao esgotamento.

“Sabe o que o Nico (De La Cruz) me disse? ‘Professor, desculpa, eu não tinha condições’. Não tem que pedir desculpas. Se não tem condição, não vai. O futebol não é assim. Ouçam e vejam a entrevista do Carlo Ancelotti. Ele diz que está programando férias para os atletas no meio da temporada porque o calendário é impossível. Não é só a gente, e não é desculpa”, declarou Tite na coletiva pós-jogo entre Flamengo e Botafogo.

Comparando o calendário brasileiro com o europeu

De La Cruz lamentando uma chance perdida pelo Flamengo.
Levando em conta as partidas pela seleção uruguaia, De La Cruz tem 2.685 minutos em 36 jogos, uma média de 74 minutos por partida (Créditos: Ruano Carneiro/Getty Images)

Tomando o Real Madrid como exemplo, os galáticos jogaram 55 partidas em 2023/24, sendo 38 pela La Liga, 13 pela UEFA Champions League e 2 pela Copa do Rei e Supercopa da Espanha, respectivamente. Se o clube comandado por Carlo Ancelotti tivesse chegado à final da Copa do Rei, teria disputado mais quatro partidas, totalizando 59 jogos.

Outro clube europeu que teve uma temporada agitada foi o Manchester City. No total, foram 59 jogos em seis torneios: Premier League (38), UEFA Champions League (10), FA Cup (6), Mundial de Clubes (2), Supercopa da Inglaterra (1), Supercopa da UEFA (1) e Carabao Cup (1). Esse número poderia ser ainda maior – 67 jogos, para ser exato – se os citizens tivessem alcançado as finais da Liga dos Campeões e da Copa da Liga Inglesa.

Uma arte com os times da Série A com mais jogos na temporada.
Já contando com os jogos dessa semana, Fortaleza aparece na liderança (Créditos: Nathalia Teixeira)

No Brasil, a situação é um pouco diferente. Faltando ainda quatro meses para o fim da temporada, o Fortaleza já realizou a mesma quantidade de jogos que o Real Madrid: 55, sendo 22 pelo Brasileirão, 12 pela Copa do Nordeste, 9 pelo Cearense, 8 pela Sul-Americana e 4 pela Copa do Brasil. Vale lembrar que o Laion tem mais 16 compromissos garantidos no Campeonato Brasileiro e, se chegar até a final da Sul-Americana, fará mais 5 jogos, totalizando 76 partidas. Um número expressivo que também pode ser alcançado pelo Flamengo, caso avance para as finais da Copa do Brasil e da Libertadores.

Por que os times europeus jogam menos que os brasileiros?

Vini Jr. durante uma partida do Real Madrid.
O Real Madrid de Vini Jr. só foi fazer o 50º da temporada após 8 meses e 26 dias. Uma marca que o Fortaleza alcançou com 80 dias de antecedência (Créditos: David Ramos/Getty Images)

A principal diferença está, é claro, na ausência de campeonatos estaduais no calendário europeu. Além disso, as copas – com exceção das semifinais – são disputadas em partidas únicas. Pode parecer pouca coisa, mas, se o Brasil adotasse o mesmo modelo de calendário, seriam menos 18 compromissos para Palmeiras e São Paulo, por exemplo.

Entretanto, as chances de isso acontecer são mínimas, visto que os estaduais são importantes para que os times de menor expressão equilibrem as contas e tenham calendário ao longo do ano. Inclusive, para o Paulistão 2024, a Federação Paulista ofereceu R$ 8 milhões a esses clubes, representando um aumento de 20% na cota de televisão e marketing.

Talvez uma solução seria permitir a participação dos grandes clubes apenas a partir da segunda fase do torneio, que seria disputada no formato de mata-mata em jogo único. Então, mesmo que sejam oitavas ou quartas de final, times como o Botafogo ou Fluminense jogariam, no máximo, 4 partidas do estadual no ano, tornando-o mais um torneio de preparação para a temporada do que uma competição exaustiva que pode prejudicar a performance dos jogadores no futuro.

A CBF já vem estudando uma solução para esse problema desde o ano passado e, a partir de 2026, deve promover uma mudança no calendário brasileiro. De acordo com o UOL, a ideia é convencer os dirigentes dos clubes a reduzir o número de datas de 16 para apenas 12. Uma alteração sutil, mas que ajudaria a preservar o condicionamento físico dos atletas.