Não é novidade para ninguém que o calendário do futebol brasileiro é exaustivo. Além das longas viagens, os clubes precisam encontrar maneiras de preservar o condicionamento físico dos jogadores em meio a competições simultâneas – como o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores da América. No entanto, muitas vezes, isso não é suficiente.
O maior exemplo disso é o Flamengo. Participando de todas as competições possíveis, o time carioca vem enfrentando sérios problemas com o desgaste físico de seus atletas. No empate contra o Palmeiras pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, Viña e Everton Cebolinha sofreram lesões graves e só voltarão a jogar em 2025.
Na semana passada, nos jogos contra Bolívar e Botafogo, Pedro, Gabigol e De Arrascaeta sentiram lesões no músculo posterior da coxa e desfalcarão o rubro-negro até o próximo mês. Outro jogador que preocupa é o meia uruguaio De La Cruz, que alegou não ter condições físicas de atuar devido ao esgotamento.
“Sabe o que o Nico (De La Cruz) me disse? ‘Professor, desculpa, eu não tinha condições’. Não tem que pedir desculpas. Se não tem condição, não vai. O futebol não é assim. Ouçam e vejam a entrevista do Carlo Ancelotti. Ele diz que está programando férias para os atletas no meio da temporada porque o calendário é impossível. Não é só a gente, e não é desculpa”, declarou Tite na coletiva pós-jogo entre Flamengo e Botafogo.
Comparando o calendário brasileiro com o europeu
Tomando o Real Madrid como exemplo, os galáticos jogaram 55 partidas em 2023/24, sendo 38 pela La Liga, 13 pela UEFA Champions League e 2 pela Copa do Rei e Supercopa da Espanha, respectivamente. Se o clube comandado por Carlo Ancelotti tivesse chegado à final da Copa do Rei, teria disputado mais quatro partidas, totalizando 59 jogos.
Outro clube europeu que teve uma temporada agitada foi o Manchester City. No total, foram 59 jogos em seis torneios: Premier League (38), UEFA Champions League (10), FA Cup (6), Mundial de Clubes (2), Supercopa da Inglaterra (1), Supercopa da UEFA (1) e Carabao Cup (1). Esse número poderia ser ainda maior – 67 jogos, para ser exato – se os citizens tivessem alcançado as finais da Liga dos Campeões e da Copa da Liga Inglesa.
No Brasil, a situação é um pouco diferente. Faltando ainda quatro meses para o fim da temporada, o Fortaleza já realizou a mesma quantidade de jogos que o Real Madrid: 55, sendo 22 pelo Brasileirão, 12 pela Copa do Nordeste, 9 pelo Cearense, 8 pela Sul-Americana e 4 pela Copa do Brasil. Vale lembrar que o Laion tem mais 16 compromissos garantidos no Campeonato Brasileiro e, se chegar até a final da Sul-Americana, fará mais 5 jogos, totalizando 76 partidas. Um número expressivo que também pode ser alcançado pelo Flamengo, caso avance para as finais da Copa do Brasil e da Libertadores.
Por que os times europeus jogam menos que os brasileiros?
A principal diferença está, é claro, na ausência de campeonatos estaduais no calendário europeu. Além disso, as copas – com exceção das semifinais – são disputadas em partidas únicas. Pode parecer pouca coisa, mas, se o Brasil adotasse o mesmo modelo de calendário, seriam menos 18 compromissos para Palmeiras e São Paulo, por exemplo.
Entretanto, as chances de isso acontecer são mínimas, visto que os estaduais são importantes para que os times de menor expressão equilibrem as contas e tenham calendário ao longo do ano. Inclusive, para o Paulistão 2024, a Federação Paulista ofereceu R$ 8 milhões a esses clubes, representando um aumento de 20% na cota de televisão e marketing.
Talvez uma solução seria permitir a participação dos grandes clubes apenas a partir da segunda fase do torneio, que seria disputada no formato de mata-mata em jogo único. Então, mesmo que sejam oitavas ou quartas de final, times como o Botafogo ou Fluminense jogariam, no máximo, 4 partidas do estadual no ano, tornando-o mais um torneio de preparação para a temporada do que uma competição exaustiva que pode prejudicar a performance dos jogadores no futuro.
A CBF já vem estudando uma solução para esse problema desde o ano passado e, a partir de 2026, deve promover uma mudança no calendário brasileiro. De acordo com o UOL, a ideia é convencer os dirigentes dos clubes a reduzir o número de datas de 16 para apenas 12. Uma alteração sutil, mas que ajudaria a preservar o condicionamento físico dos atletas.