Por que o esporte precisa apostar na sustentabilidade?

Clubes e ligas começam a despertar para a necessidade de práticas sustentáveis, mas os desafios de longo prazo exigem mudanças agora


Por Guilherme Calafate

29 de setembro de 2024

À medida que o impacto ambiental se torna uma preocupação global cada vez mais urgente, o esporte, uma das maiores indústrias de entretenimento e negócios do mundo, também precisa repensar sua relação com o meio ambiente. A sustentabilidade, que envolve o equilíbrio entre aspectos econômicos, sociais e ambientais, deve ser incorporada às estratégias de gestão de equipes, ligas e eventos esportivos para garantir sua viabilidade no longo prazo.

O desafio, porém, não é simples. Muitos clubes e organizações ainda adotam uma postura de curto prazo, priorizando resultados imediatos e ignorando os benefícios de ações sustentáveis. Um exemplo disso é o uso de voos de curta distância por equipes para disputar jogos fora de casa, o que gera grandes volumes de emissões de dióxido de carbono. Na Premier League, estima-se que os times gerem uma média de 56,7 toneladas de CO2 por temporada devido a essas viagens, uma prática que está na mira de ambientalistas e de reguladores.

O papel da sustentabilidade no esporte

Para além das emissões de carbono, o conceito de sustentabilidade no esporte é amplo e inclui desde a redução do uso de plásticos descartáveis até a implementação de tecnologias de energia renovável em estádios e instalações. O Manchester City, por exemplo, está instalando mais de 10.000 painéis solares em seu centro de treinamento, um projeto que o colocará entre os maiores produtores de energia renovável no futebol global. Medidas como essa são cada vez mais necessárias para proteger clubes contra crises energéticas e reduzir custos operacionais, especialmente em um cenário de alta nos preços de energia.

Por outro lado, clubes de menor expressão sentem o impacto econômico de forma ainda mais aguda. Na Inglaterra, um time de futebol amador relatou à BBC que a crise do custo de vida representa uma das maiores ameaças ao esporte desde a Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, a sustentabilidade não é apenas uma questão ambiental, mas também financeira e operacional, com o potencial de garantir a sobrevivência dessas instituições.

Sustentabilidade como oportunidade de crescimento

Muitas organizações ainda veem a sustentabilidade como um obstáculo, temendo que a adoção de práticas verdes possa limitar o crescimento comercial. No entanto, a realidade é que a sustentabilidade pode ser uma grande oportunidade de inovação e desenvolvimento. Com o aumento da pressão de investidores e do público por padrões ESG (ambientais, sociais e de governança), as organizações esportivas precisam adaptar suas estratégias para se manterem competitivas.

Um relatório da PricewaterhouseCoopers (PwC) projeta que os ativos ESG sob gestão podem atingir US$ 33,9 trilhões até 2026, refletindo a crescente importância de práticas responsáveis nos negócios. Além disso, a sustentabilidade tem o potencial de aumentar o valor das organizações esportivas ao fortalecer sua relação com as comunidades locais. Projetos que promovem a inclusão social, a diversidade e a educação podem se alinhar a metas ambientais, gerando um impacto positivo tanto na sociedade quanto no meio ambiente.

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Preparando-se para o futuro

A transição para práticas sustentáveis não se trata apenas de responder a exigências regulatórias ou melhorar a imagem pública, mas de garantir que o esporte esteja preparado para desafios futuros. A crise climática já está afetando algumas modalidades de forma significativa. No críquete, por exemplo, a escassez de salgueiros na Caxemira, matéria-prima fundamental para a fabricação de tacos, representa um risco para a indústria. Em resposta, estudos sobre o uso de bambu como alternativa sustentável ao salgueiro têm sido explorados, mostrando como a inovação pode emergir diante de crises ambientais.

O esporte, assim como qualquer outro setor, precisa planejar a longo prazo. A adoção de práticas sustentáveis permite que clubes e organizações se protejam contra riscos ambientais e econômicos, enquanto oferecem oportunidades para inovar e melhorar a relação com seus stakeholders. A implementação de painéis solares, auditorias energéticas e novas tecnologias em estádios é apenas o começo de uma jornada em direção a um futuro mais verde e resiliente.

Ao adotar a sustentabilidade como parte central de suas operações, o esporte pode não apenas garantir sua própria sobrevivência em um mundo em constante mudança, mas também liderar pelo exemplo, inspirando outras indústrias e públicos a adotarem práticas mais responsáveis. Incorporar a sustentabilidade no esporte não é apenas uma necessidade ambiental – é uma oportunidade para moldar o futuro de uma das indústrias mais apaixonantes e impactantes do planeta.