O maior evento esportivo do mundo, a Copa do Mundo FIFA, também sendo impactado e impulsionado pela evolução da tecnologia nos últimos anos, apontada como uma verdadeira “revolução” por especialistas. Diante da expansão global de tecnologias como Web 3, NFTs, realidade virtual e realidade aumentada, a experiência de fãs e espectadores de todo o planeta está caminhando para uma grande transformação nas próximas edições do torneio mundial de futebol.
Em entrevista exclusiva ao podcast Sporthinking, Michèle Naili, executiva na área de broadcast e novas mídias e gestora de megaprojetos internacionais – com experiência em seis Copas do Mundo da FIFA e quatro edições dos Jogos Olímpicos –, aborda as transformações tecnológicas que presenciou ao longo da sua carreira e faz projeções sobre a experiência dos fãs tanto na Copa do Mundo 2022 no Qatar quanto na edição seguinte, que será realizada nos Estados Unidos, Canadá e México, em 2026.
“Essa evolução, que eu chamo de revolução, normalmente se faz através do esporte. Todas as evoluções e revoluções tecnológicas costumam ser mostradas inicialmente na Copa do Mundo”, observa Naili. “São nesses eventos esportivos que acontecem as grandes transformações tecnológicas e que eu tive a oportunidade de viver intimamente durante muitos anos e diversos eventos.”
Refúgio no Brasil e início de uma longa carreira na televisão
Nascida no Cairo, no Egito, e radicada no Brasil, Michèle Naili tem uma longa carreira no mercado de televisão, em uma trajetória que se iniciou logo após a sua chegada ao Brasil. “Eu vim com a minha mãe, meu irmão e meus avós no porão de um navio fugindo de uma guerra e fui morar do lado da TV Tupi em São Paulo”, relata. “Então, eu comecei a frequentar a TV Tupi trabalhando e fazendo comerciais desde muito cedo, com 4 anos. A televisão sempre foi o quintal da minha casa.”
Após anos de carreira como atriz, Naili decidiu passar para trás das câmeras, se tornando assistente de direção na divisão nacional de eventos especiais da TV Globo. “O meu primeiro contato no mundo esportivo foi com a Fórmula 1. O primeiro GP que o Ayrton Senna disputou, em 1984, foi o meu primeiro também, então nossas carreiras começaram juntas”, recorda. Porém, quando a TV Globo decidiu extinguir a divisão de eventos especiais, ela passou para o setor de jornalismo, onde se tornou responsável pela transmissão internacional. “Como eu tinha o know how dentro do jornalismo e do esporte, eu acabei cuidando dos eventos esportivos e fui a pessoa responsável pela concentração do Brasil na Copa do Mundo do México de 1986, que foi a minha primeira Copa”, revela.
Copa do Mundo FIFA no Brasil 2014
Ao longo de uma carreira repleta de experiências em eventos internacionais, Michèle Naili participou de seis Copas do Mundo da FIFA e quatro Olimpíadas, além de panamericanos, campeonatos de F1 e lutas de boxing internacionais, eventos em que Naili atuava como gestora geral de broadcasting. “Tudo isso me deu uma vivência enorme e, quando a gente teve o Brasil recebendo a Copa do Mundo, eu decidi que ia ser a responsável pela parte de televisão aqui no Brasil. Eu decidi sozinha e fui buscar como concretizar”, afirma.
Em busca de retribuir de alguma forma o acolhimento que encontrou no Brasil, a executiva identificou a empresa responsável pela candidatura das cidades sedes, entrou em contato e logo foi agregada ao projeto para ajudar as cidades candidatas. “Isso me deu um conhecimento do Brasil que eu não tinha até então. Andando por lugares que você nunca andou, você começa a entender quais são as dificuldades desse país, que tem o tamanho de um continente. Faltava infraestrutura logística, infraestrutura tecnológica e infraestrutura de estádio”, declara Michèle.
“No Brasil, tivemos que ‘fibrar’ o Brasil inteiro com redundância, ou seja, tínhamos cabos passando pela floresta, dentro do Rio Amazonas”, revela a executiva. “Nós tínhamos que fazer dois anéis por vias completamente diferentes, com uma quantidade enorme de cabos, que permitissem uma qualidade de transmissão redundante de qualquer lugar do Brasil. Além de antenas de satélite, porque evento internacional não se pode errar, tem que ter o stand by do stand by do stand by.”
Após o término do trabalho com a candidatura das cidades, Michèle Naili começou a viajar o Brasil inteiro pelo Ministério do Esporte, dando palestras para as áreas de comunicação de todos os estados, em busca de conscientizá-los da importância do evento sediado. “Foram sete anos de preparação, porque a Copa do Mundo por si só traz um legado gigante para o país sede, pois permite investimentos que talvez demorassem 20 anos em apenas cinco, isso não tem preço. Aqui no Brasil, a gente teve um legado em termos de infraestrutura, tecnologia, recursos humanos, estádios, forma de gerenciar eventos, tudo mudou a partir da Copa do Mundo.”
O impacto das novas tecnologias para os fãs
Atualmente, as novas tecnologias permitem uma série de possibilidades para a transmissão de eventos esportivos e, principalmente, de partidas de futebol. Não é nenhuma novidade que a transmissão de um único jogo agora pode oferecer diversas opções para os espectadores escolherem como desejam acompanhar a partida. “Também é possível fazer essa segmentação em eventos como a Copa do Mundo, mas você não tira o jogo principal, ele é assistido por todo mundo”, ressalta Michèle. “Aquela transmissão principal, que tem as 36 câmeras, todo mundo assiste, mas você pode ter a segunda tela na sua mão, como um computador ou celular.”
Entre as novidades da Copa do Mundo FIFA 2022 no Qatar está a transmissão ao vivo dos campos de treino das equipes. Na Copa deste ano, a tecnologia digital permitirá, através do streaming, a compra dos direitos de transmissão do sinal de treinamento das equipes – se a comissão técnica da seleção permitir. “Antigamente não se fazia isso. A FIFA sempre mandava equipes para os campos de treino, onde elas gravavam e depois geravam o material em pacote para as televisões. Somente os canais que tinham os direitos daquele país podiam entrar e fazer alguma coisa”, relata Michèle Naili.
Para a executiva com experiência no torneio mundial, a edição do Qatar apresentará uma qualidade de transmissão nunca antes vista na competição. “Pelo streaming, dependendo dos direitos da televisão e do país, haverá a possibilidade de isolar sinais, de ter o sinal só do treinador ou só da seleção, por exemplo. Coisa que já aconteceu, mas estará mais viável em questão de infraestrutura, com a possibilidade de ter video on demand de uma forma muito diferente. No Qatar, ainda não é oficial, mas é oficioso que você terá a possibilidade de simular estar sentado no estádio, por meio de realidade virtual.”
Copa do Mundo FIFA de 2026
Para a edição seguinte do maior torneio do futebol mundial, a Copa do Mundo FIFA 2026, que será realizada nos Estados Unidos, Canadá e México, Michèle projeta um impacto ainda maior provocado por essas tecnologias e, principalmente, pelo metaverso. “Não dá para fugir. O metaverso e todas essas experiências de realidade virtual e realidade aumentada estão acelerando muito o processo de experiencia do espectador. Ele pode estar na casa dele, no país dele, e comprando um lugar para assistir dentro do estádio, virtualmente”, projeta a executiva.
Além disso, o fato de a Copa do Mundo de 2026 ser sediada em três países com dimensões continentais e apresentar distâncias significativas entre os locais dos jogos deve impulsionar ainda mais a presença da tecnologia no torneio. “É óbvio que essas experiências digitais estarão acontecendo, com milhões de possibilidades de interação. Certamente, teremos interações com a tecnologia tanto virtual quanto aumentada, além de novos aparelhos. Seguramente, teremos um mundo inteiro vivendo experiências de imersão dentro dos estádios. Porque nós estamos falando em quatro anos, ainda vamos evoluir bastante. Sem dúvidas, vai ser um espetáculo, se preparem”, alerta Michèle.
Para conferir a entrevista de Michèle Naili na íntegra e o episódio completo do podcast Sporthinking, disponível gratuitamente no Spotify, acesse aqui.
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